Para nos envolvermos na defesa dos direitos das pessoas do mesmo sexo, não precisa que sejamos homossexuais ou heterossexuais; crentes ou agnósticos; brancos ou de outra raça; republicanos ou monárquicos: é simplesmente preciso que sejamos justos.
O casamento entre pessoas do mesmo sexo, inscreve-se precisamente nesse princípio de justiça e coloca o nosso país na vanguarda daqueles que concedem aos seus cidadãos direitos iguais perante situações idênticas.
Tendo escolhido precisamente o Dia de Luta Internacional Contra a Homofobia para promulgar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, poderia o Presidente da República ter-se associado aos objectivos do Dia e promulgar o diploma, como justo reconhecimento de uma situação injusta; como a justa concessão de um mecanismo de igualdade aos seus concidadãos.
Em vez disso, assistiu-se a uma promulgação envergonhada, mesmo secundarizando a questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo, como se o justo reconhecimento de direitos fosse algo de menor; em vez de se reconhecer o momento histórico e o marco civilizacional, justificou-se a inevitabilidade da promulgação; em vez de se afirmar como presidente de todos os portugueses, o Presidente mostrou estar claramente do lado de uma parte deles, não se tendo percebido que, nas questões civilizacionais e de direitos, não se alcançam consensos alargados, pois as supostas maiorias dificilmente (ou nunca) prescindem da sua percepção da realidade, isto considerando que o suporte eleitoral dos partidos que votaram favoravelmente a lei que hoje se promulga, não constitui a maioria dos portugueses.
Assim como no reinado de D. José I, fomos pioneiros em abolir a escravatura; assim como, em 1867, com a lei da Reforma Penal, fomos pioneiros em abolir a pena de morte, Portugal encontra-se hoje novamente entre os pioneiros no reconhecimento do justo direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.
A História recordará para sempre este importante evento: a 17 de Maio de 2010, na data em que se celebrava o Dia Mundial de Luta Contra a Homofobia, Portugal promulgou o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Não poderia, de resto, existir data mais simbólica. Infelizmente, o Presidente da República será sempre lembrado como alguém que, contrariado, promulgou a lei.
Neste dia, é importante e justo ainda recordar todas as pessoas de boa vontade que se bateram para que este diploma fosse uma realidade: homossexuais e heterossexuais; católicos e agnósticos; com partido e sem ele.
Estão de parabéns todos os homossexuais, independentemente da sua prática religiosa, ou filiação partidária, pois hoje fez-se história. Hoje todos fomos testemunhas da História.