Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Associação RUMOS NOVOS - Católicas e Católicos LGBTQ (Portugal)

Somos católic@s LGBTQ que sentiram a necessidade de juntos fazerem comunhão, partilhando o trabalho e as reflexões das Sagradas Escrituras, caminhando em comunidade à descoberta de Deus revelado a tod@s por Jesus Cristo.

17 de Julho, 2013

Isabel II diz sim à igualdade no casamento!

Rumos Novos - Católic@s LGBTQIA+ em Ação
Isabel II

Depois de, na passada segunda-feira, o projeto-lei a favor da legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo ter passado pelo crivo da Câmara dos Lordes, a rainha Isabel II deu o seu assentimento à nova lei, segundo informou esta tarde (17 de julho) o presidente da Câmara dos Comuns, John Bercow: "Tenho a informar a Câmara que, em conformidade com o Consentimento Real (Royal Assent - aprovação formal do soberano necessária a toda a legislação do Reino Unido) de 1967, Sua Majestade deu a sansão real à lei do casamento".

 

Deste modo, a igualdade no casamento verá a luz do dia em meados de 2014, quando os primeiros casamentos entre pessoas do mesmo sexo puderem celebrar-se em Inglaterra e no País de Gales, o que ainda não acontece na Irlanda do Norte e na Escócia, pois estes territórios têm competências transferidas. Contudo, a Escócia também se encontra atualmente a debater uma futura lei que reconheça o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

    

Casal Gay
15 de Julho, 2013

IGUALDADE NO CASAMENTO TORNOU-SE LEI. PARABÉNS INGLATERRA E PAÍS DE GALES!

Rumos Novos - Católic@s LGBTQIA+ em Ação

Hoje, 15 de julho, a Câmara dos Lordes (câmara alta do Parlamento britânico) aprovou uma lei que permite o casamento entre casais do mesmo sexo em Inglaterra e no País de Gales. Espera-se que a lei receba a chancela da raínha Isabel II até ao próximo dia 17 e os primeiros casamentos entre pessoas do mesmo sexo poderão realizar-se na Inglaterra e no País de Gales lá para a primavera de 2014.

 

Trata-se de um momento histórico para as pessoas homossexuais, suas famílias e amigos. Esta lei significará, pela primeira vez, que as crianças que cresçam como homossexuais na Inglaterra e no País de Gales terão plena igualdade perante a lei.

 

Os esforços irão agora concentrar-se na Escócia, de modo a que todos os homossexuais no Reino Unido gozem brevemente de uma plena igualdade perante a lei.

 

A partir do Rumos Novos endereçámos já às organizações congéneres do Reino Unido os nossos parabéns e o nosso apoio na continuação das ações necessárias para fazer avançar e concluir favoravelmente o processo na Escócia.

 

Congratulations England and Wales!



09 de Julho, 2013

O que a Bíblia diz - e não diz - sobre a homossexualidade (PARTE II)

Rumos Novos - Católic@s LGBTQIA+ em Ação

A MINHA QUINTA PREMISSA

 

Perdemos o que essas passagens dizem a respeito de Deus, quando gastamos tanto tempo a debater o que elas dizem sobre sexo.

 

Se a Bíblia é a história do amor de Deus para o mundo e não um manual sobre sexo, isso por si só deveria moldar a maneira como lemos as Escrituras. Então, como nos vamos debruçar sobre os seis textos bíblicos que são usados por algumas pessoas para condenar a homossexualidade, vamos fazer duas perguntas sobre cada um deles:

 

Em primeiro lugar, o que é que o texto diz a respeito de Deus e que necessitamos ouvir, mas que nos pode estar a passar ao lado?

 

Em segundo lugar, o que é que o texto poderá estar a dizer sobre a homossexualidade?

 

 

PASSAGEM 1

Génesis 2, 21-25

A história da criação

 

Vamos começar "No início..." O que é que a história da criação em Génesis 1-2 diz sobre Deus?

 

Eu estou tão cansado de ler os placards feitos por manifestantes que dizem: "É sobre Adão e Eva, e não Adão e Sebastião." Na verdade, a história da criação é tão importante para Adão e Sebastião, como o é para Adão e Eva. Tanto homossexuais como heterossexuais, precisam de conhecer e celebrar a verdade no centro desta história.

 

Esta história da criação é principalmente a respeito de Deus, uma história escrita para mostrar o poder de Deus que criou o mundo e tudo que nele há. Ela ensina-nos que Deus é o nosso Criador, que Deus nos formou, e disse: "É bom." Não é este o coração do texto?

 

Agora, o que é que a história da criação diz sobre a homossexualidade? Como o texto diz, é "natural" que um homem e uma mulher se unam para criar uma nova vida, algumas pessoas pensam que isto significa que os casais homossexuais são "não natural". Elas interpretam assim o texto, mesmo que este esteja em silêncio sobre todos os tipos de relacionamentos que não gerem filhos, como por exemplo:

 

  • casais que não conseguem ter filhos;
  • casais que são velhos demais para terem filhos;
  • casais que optaram por não ter filhos;
  • pessoas solteiras.

 

São estas relações (ou a falta delas) "não naturais"? Não há nada dito aqui que condene ou aprove o amor que as pessoas do mesmo sexo possam ter uma pela outra, inclusive o amor que eu tenho para com o meu parceiro, Gary.

 

Então eu acredito que a história da criação diz muito sobre o poder de Deus e a Sua presença no universo - mas nada sobre a homossexualidade como a entendemos hoje.

 

 

 

PASSAGEM 2

Génesis 19, 1-14

A HISTÓRIA DE SODOMA

 

Agora vamos considerar o segundo texto bíblico usado por algumas pessoas para condenar os filhos de Deus homossexuais.

 

Lembra-se da história antiga de Sodoma?

 

Em primeiro lugar, o que é que a história de Sodoma em Génesis 19 diz sobre Deus?

 

Quando o Gary e eu vamos a uma faculdade ou universidade para falar, muitas vezes há manifestantes que carregam cartazes que anunciam:

 "Mel White é um sodomita". Na verdade, eu não sou de Sodoma. Essa cidade foi enterrada há séculos e ficava na área do Mar Morto. Eu sou da Califórnia.

 

Mais uma vez, esta história não é primariamente sobre sexo. É principalmente sobre Deus. Algumas pessoas dizem que a cidade de Sodoma foi destruída porque foi invadida por homossexuais sexualmente obcecados. Na verdade, a cidade de Sodoma tinha sido condenada à destruição muito antes. Então o que é que esta passagem nos diz realmente?

 

Jesus e cinco profetas do Antigo Testamento falam dos pecados que levaram à destruição de Sodoma - e nenhum deles menciona a homossexualidade. Mesmo o Billy Graham nunca mencionou a homossexualidade quando pregava sobre Sodoma.

 

Ouça o que Ezequiel 16, 48-49 nos diz: "Este é o pecado de Sodoma, ela e seus arrabaldes tiveram orgulho, excesso de comida, e próspera ociosidade, mas sem ajudar ou incentivar os pobres e necessitados. Eles eram arrogantes e isso foi abominável aos olhos de Deus. "

 

Hoje, tanto heterossexuais como homossexuais fazem bem em lembrar-se que partimos o coração de Deus, quando gastamos tudo o que ganhamos em nós mesmos, quando nos esquecemos dos pobres e famintos, quando nos recusamos a fazer justiça ou a mostrar misericórdia, quando deixamos os estranhos fora de portas.

 

Admito que há bastantes homossexuais que são sodomitas (e muitos heterossexuais também). Os sodomitas são ricos e não compartilham o que têm com os pobres. Os sodomitas têm muito, e querem mais, sempre mais. Enquanto milhões de pessoas passam fome, sem casa e com doenças, os sodomitas apressam-se a construir casas maiores, a comprar carros maiores e a possuir mais propriedades - colocando a sua confiança em carteiras de ações mais lucrativas e contas de aposentadoria mais seguras.

 

Seja qual for o ensino sobre a sexualidade que se possa retirar desta passagem, ouça a verdade primária e central que é a respeito de Deus. Deus chamou-nos para fazer justiça, amar a misericórdia, e andar humildemente com Ele. Sodoma foi destruída porque os seus habitantes não levaram Deus a sério sobre o cuidado com os pobres, os famintos, os sem-abrigo ou os proscritos.

 

Mas o que é que a história de Sodoma nos diz sobre a orientação homossexual como a entendemos hoje?

 

Nada, absolutamente nada!

 

Era comum para muitos soldados, ladrões e homens violentos violarem um inimigo caído, afirmando a vitória através de um ato desumano e degradante. Violar um inimigo, tinha a ver com poder e vingança, e não sobre a homossexualidade ou orientação homossexual. E isso ainda acontece.

 

 

Em agosto de 1997, Abner Louima, um jovem imigrante negro do Haiti, foi agredido por vários polícias depois de ter sido preso em Brooklyn. O tenente Charles Schwarz forçou Louima a baixar-se numa casa de banho de uma esquadra da polícia, enquanto o tenente Justin Volpe inseria uma vara quebrada no reto de Louima. Estes dois homens e outros três polícias envolvidos no incidente e no seu encobrimento, não eram homossexuais. Este não foi um ato homossexual. Tratava-se de poder e autoridade.

 

O ato sexual que ocorre na história de Sodoma é um estupro coletivo - e os homossexuais opõem-se a estupros tanto quanto qualquer outra pessoa. É por isso que eu acredito que a história de Sodoma diz muito sobre a vontade de Deus para cada um de nós, mas nada sobre a homossexualidade como a entendemos hoje.

 

 

PASSAGEM 3

Levítico 18, 22 e 20, 13

O CÓDIGO DE SANTIDADE

 

Vamos seguir em frente. O que é que os dois versículos, por vezes citados em Levítico dizem sobre Deus?

 

O Levítico 18, 22 diz: " Não coabitarás sexualmente com um varão; é uma abominação. "

 

Um versículo semelhante ocorre dois capítulos depois, em Levítico 20, 13: “Se um homem coabitar sexualmente com um varão, cometeram ambos um ato abominável; serão os dois punidos com a morte; o seu sangue cairá sobre eles. "

 

À primeira vista, essas palavras poderiam deixá-lo a sentir-se bastante desconfortável, especialmente se você é homossexual. Mas, mais objetivamente há uma profunda verdade sobre Deus - e não tem nada a ver com sexo.

 

O Levítico é um código de santidade escrito há 3.000 anos. Este código inclui muitas das leis sexuais desatualizadas que mencionámos anteriormente, e muito mais. Esse código inclui também proibições contra cortes de cabelo arredondados, tatuagens, trabalho ao sábado, o vestir roupas de tecidos mistos, comer carne de porco ou mariscos, leitura da mão e predições do futuro, e mesmo jogar com itens feitos de pele de porco. (Lá se vai o futebol!)

 

Então o que é um código de santidade?

É uma lista de comportamentos que as pessoas de fé acham ofensivos num determinado lugar e tempo. Neste caso, o código foi escrito apenas para os sacerdotes, e o seu objetivo principal era o de definir os sacerdotes de Israel sobre e contra os sacerdotes de outras culturas.

 

Quando tinha 10 anos, assinei um código de santidade escrito pela “Women’s Christian Temperance Union” que ordenava que eu nunca poderia provar cerveja, vinho ou licor. Eu pensei que se o assinasse, seria do agrado de Deus e da minha avó. Isso é um código de santidade. Quando eu estava no colégio, nós cristãos evangélicos, tínhamos um código de santidade não escrito e que era assim: "Eu não bebo, nem fumo, nem ando com meninas que o fazem" Agora eu sei o que você está a pensar. Essa última parte sobre "meninas que" foi particularmente fácil para mim. Mas a questão é que eu obedeci a esse código de santidade evangélica porque os meus pais disseram que quebrar essas regras não agradariam a Deus, e eu sabia que também não lhes agradaria a eles.

 

Tivemos outro código de santidade evangélica quando eu estava na escola que proibia a dança. Eu era delegado de turma, e recusei-me a ir ao baile porque tinha prometido não dançar. Eu fiz isso para agradar a Deus e à minha mãe - cuja mãe também a tinha feito assinar um código de santidade para que nunca dançasse.

 

E sobre esta palavra, abominação, que aparece em ambas as passagens?

Em hebraico, "abominações" (TO'EBAH) são comportamentos que as pessoas num determinado tempo e lugar consideram de mau gosto ou ofensivo. Para os judeus, uma abominação não era uma lei, não era algo mau como uma violação ou assassinato, expressamente proibido pelos Dez Mandamentos. Foi um comportamento coletivo de não-judeus, que levaram os judeus a pensar que esse tipo de comportamento desagradava a Deus.

 

Jesus e Paulo disseram que o código de santidade em Levítico não diz respeito aos crentes. No entanto, ainda existem pessoas que usam os dois versículos sobre “homens a dormir juntos”, com base neste código de santidade antigo, para dizer que a Bíblia condena a homossexualidade.

 

Mas espere, antes de continuarmos, vamos perguntar: O que é que este texto diz sobre Deus?

Mesmo que os códigos de santidade velhos já não se apliquem a nós, como cristãos é importante lembrarmo-nos de que em todas as épocas as pessoas de fé são responsáveis pelo estabelecimento de normas morais e éticas que honrem a Deus. Mas nós, pessoas de fé, devemos ter muito cuidado para não permitirmos que os nossos próprios preconceitos determinem o que esses padrões devam ser.

 

Em vez de se selecionar um item a partir de um código de santidade judaica antigo e usá-lo para condenar as minorias sexuais, vamos conversar sobre a definição de padrões sexuais que agradam a Deus - normas adequadas tanto para heterossexuais como para homossexuais, normas com base no amor, saúde e integridade para nós mesmos e para os outros.

 

Então, o que é que as passagens de Levítico dizem sobre a homossexualidade?

 

Estou convencido de que essas passagens não dizem nada sobre a homossexualidade como a entendemos hoje. Aqui está o porquê: Considere esta única passagem da Bíblia que foi usada durante séculos para condenar a masturbação:

 

Génesis 38, 9-10 – “Mas Onan compreendeu que essa descendência não seria a sua e, quando se aproximava da mulher de seu irmão, derramava no chão o sémen, a fim de não dar descendência a seu irmão. A sua conduta desagradou ao SENHOR, que também lhe deu a morte.”.

 

Para os escritores judeus da Escritura, um homem dormir com outro homem era uma abominação. Mas também o era, e digno de morte, a masturbação ou até mesmo praticar o “coito interrompido” (que é um método de contraceção no qual, durante a relação sexual, o pénis é removido da vagina logo antes da ejaculação, impedindo a deposição de sémen no interior da vagina. Era, e é, primordialmente um ato de controle de natalidade).

 

 Por que é que essas práticas sexuais eram consideradas abominações pelos escritores da Bíblia nesses tempos antigos?

 

A compreensão pré-científica judaica era de que o sémen dos homens continha a totalidade da vida. Sem conhecimento do sistema reprodutor feminino e da ovulação, assumiu-se que o esperma do homem continha toda a criança e que a mulher fornecia apenas o espaço de incubação. Portanto, o derramamento de sémen, sem a possibilidade de se gerar um filho era considerado assassinato.

 

Os judeus eram uma pequena tribo que lutava para povoar um país. Eles estavam em desvantagem numérica em relação aos seus inimigos. Entende-se a razão pela qual esses povos antigos sentiam que era uma abominação "perder" nem que fosse um único filho. Mas a passagem não diz nada sobre a homossexualidade como a entendemos hoje.

 

Nós já falámos sobre as passagens das Escrituras hebraicas que são usadas (ou mal usadas) por algumas pessoas para condenar as minorias sexuais. Agora vamos ver os três versículos das cartas do apóstolo Paulo nas Escrituras cristãs que são usados da mesma forma. Lembre-se: Em primeiro lugar, vamos verificar o que o texto diz a respeito de Deus, em segundo lugar, vamos considerar o que pode ou não dizer sobre a orientação sexual.

 

 

PASSAGEM 4

Romanos 1, 26-27

NATURAL E CONTRANATURA

 

O que é que Romanos 1, 26-27 diz sobre Deus?

 

Para a nossa discussão, esta é a passagem bíblica mais polémica de todas elas. Em Romanos 1, 26-27, o apóstolo Paulo descreve as mulheres não-judaicas que trocam as "relações naturais por outras que são contra a natureza" e os homens não-judeus, que "deixando as relações naturais com a mulher, inflamaram-se em desejos de uns pelos outros."

 

Este versículo parece ser claro: Paulo vê mulheres em práticas sexuais com outras mulheres e homens que têm sexo com outros homens e ele condena essa prática. Mas vamos voltar 2.000 anos atrás e tentar entender o que é que ele condena.

 

Paulo está a escrever esta carta aos Romanos depois da sua viagem missionária pelo Mediterrâneo. Na sua viagem, Paulo tinha visto grandes templos construídos em honra de Afrodite, Diana, e outros deuses da fertilidade e deusas do sexo e da paixão, em detrimento do único e verdadeiro Deus que o apóstolo honrava. Aparentemente, esses sacerdotes e sacerdotisas envolviam-se frequentemente em situações sexuais bizarras - incluindo castração, participavam em orgias sexuais embriagados e até tinham relações sexuais com jovens prostitutos e prostitutas do templo - tudo para honrar os deuses do sexo e do prazer.

 

A Bíblia é clara ao afirmar que a sexualidade é um dom de Deus. O nosso Criador celebra a nossa paixão. Mas a Bíblia também é clara ao dizer que quando a paixão toma o controle das nossas vidas, estamos em apuros.

 

Quando vivemos para o prazer, quando nos esquecemos que somos filhos de Deus e que Deus tem grandes sonhos para a nossa vida, podemos acabar servindo os falsos deuses do sexo e da paixão, assim como eles fizeram no tempo de Paulo. Na nossa obsessão pelo prazer, que pode até mesmo afastar-nos do Deus que nos criou - e, que no processo, pode até fazer com que Deus abandone todos os grandes sonhos e planos que Ele tem para as nossas vidas.

 

Será que esses sacerdotes e sacerdotisas tinham esses comportamentos, porque eles eram lésbicas ou homossexuais? Sinceramente acho que não. Será que Deus os abandonaria porque eles eram homossexuais? Não. Leia o texto novamente.

 

O Rev. Dr. Louis B. Smedes, um autor cristão distinto e especialista em ética, descreve claramente como esses sacerdotes e sacerdotisas promíscuas se envolveram nesta confusão, claro está, corroborado pela Palavra de Deus. Mais uma vez, nada tem a ver com a homossexualidade em si:

 

Smedes: "As pessoas que Paulo tinha em mente, recusaram-se a reconhecer e a adorar a Deus, e por este motivo foram abandonados por Deus. E ao serem abandonados por Deus, ele afundaram-se em depravações sexuais."

 

Smedes: "Os homossexuais que eu conheço não rejeitaram Deus de modo algum, pois eles amam a Deus e agradecem-lhe pela Sua graça e pelos Seus dons em suas vidas. Como poderiam eles então ter sido abandonados à homossexualidade, como forma de punição por se recusarem a reconhecer a Deus?"

 

Smedes: "Nenhum dos homossexuais que eu conheço desistiu das suas paixões heterossexuais em detrimento dos seus desejos homossexuais. Eles têm sido homossexuais desde o início dos seus impulsos sexuais. Eles não mudaram de uma orientação sexual para outra, eles descobriram apenas que eram homossexuais. Seria antinatural para a maioria dos homossexuais fazer sexo heterossexual."

 

Smedes: "E os homossexuais que eu conheço não desejam outros mais do que as pessoas heterossexuais ... o seu amor pelos seus parceiros é provável que seja tão espiritual e pessoal como qualquer amor heterossexual pode ser."

 

Obrigado, Dr. Smedes.

 

Conhecer uma pessoa homossexual que compartilhe da nossa fé em Cristo, vai ajudá-lo a perceber que não é razoável (sendo-o até injusto) comparar o amor dessa pessoa por outra do mesmo sexo, com os rituais de depravação sexual dos sacerdotes e sacerdotisas que dançavam em torno das estátuas de Afrodite e de Diana. Mais uma vez, tenho a certeza que essa passagem diz muito sobre Deus, mas nada sobre a homossexualidade como nós a entendemos hoje.

 

Você também vai notar que Romanos 2 começa com " Por isso, não tens desculpa tu, ó homem, quem quer que sejas, que te armas em juiz. É que, ao julgares o outro, a ti próprio te condenas..." Mesmo após descrever as práticas perturbadoras que viu, Paulo adverte-nos que julgar os outros é um assunto de Deus, e não nosso.

 

 

PASSAGENS 5 e 6

1 Coríntios 6, 9 e 1 Timóteo 1, 10

O MISTÉRIO DOS "MALOKOIS" E "ARSENOKOITAI" 

 

Agora, o que é que os escritos de Paulo em 1 Coríntios 6, 9 e 1 Timóteo 1, 10 dizem, em primeiro lugar sobre Deus, e, em seguida, sobre a homossexualidade? Estes são os dois últimos lugares na Bíblia que parecem referir-se ao comportamento sexual entre o mesmo sexo. Nós podemos combiná-los, porque eles são bastante semelhantes.

 

Paulo está exasperado. Os cristãos em Éfeso e Corinto têm disputas entre si, (familiar?). Em Corinto eles têm mesmo processos a decorrer uns contra os outros nos tribunais seculares. Paulo grita: "Vocês estão a partir o coração de Deus do modo como se tratam uns aos outros.”

 

Como todo o bom escritor, Paulo antecipa a primeira pergunta deles: "Bem, como nos devemos tratar uns aos outros?" Paulo responde: "Vocês sabem muito bem como se devem tratar uns aos outros. Está escrito nas tábuas de pedra da lei judaica."

 

A lei judaica foi criada por Deus para ajudar a regular o comportamento humano, para relembrar igrejas como as de Corinto e Éfeso de como Deus quer que nos tratemos uns aos outros. Paulo recita exemplos da lei judaica em primeiro lugar. Não se matem uns aos outros. Não durmam com uma pessoa que é casada. Não mintam, enganem ou roubem. A lista continua, e inclui também advertências contra a fornicação, idolatria, lenocínio, perjúrio, embriaguez, orgias e extorsão. Ela também inclui os termos "malokois" e "arsenokoitai".

 

E é aqui que começa a confusão. O que é um malokois? O que é um arsenokoitai?

Na verdade, essas duas palavras gregas têm confundido os estudiosos até aos dias de hoje. Diremos mais sobre elas mais tarde, quando perguntarmos o que os textos dizem sobre sexo. Mas primeiro vamos ver o que os textos dizem sobre Deus.

 

Depois de citar a lei judaica, Paulo lembra aos cristãos de Corinto que eles estão sob uma nova lei: a lei de Jesus, a lei do amor que nos obriga a fazer mais do que apenas evitar o assassinato, adultério, mentir, enganar e roubar. Paulo diz-lhes que o que Deus quer, não é uma restrita adesão a uma lista de leis, mas um coração puro, de uma boa consciência, e de uma fé que não seja falsa.

 

Essa, é a lição que todos nós precisamos de aprender com esses textos. Deus não nos quer a ter disputas uns contra os outros, sobre quem está no reino e quem está “fora” dele. Deus quer que nos amemos uns aos outros. É a tarefa de Deus julgar-nos. Essa não é de todo a nossa tarefa.

 

Então, o que é que esses dois textos dizem sobre a homossexualidade? São de facto homossexuais que Paulo está a mencionar aqui, e que constam na lei judaica?

 

Estudiosos gregos dizem que no primeiro século a palavra grega “malaokois” provavelmente significava " prepubescentes que atraem clientes". A Nova Versão Internacional diz: "prostitutos".

 

Quanto à arsenokoitai, os estudiosos gregos não sabem exatamente o que isso significava – e o facto de não sabermos é uma grande parte desse trágico debate. Alguns estudiosos acreditam que Paulo estava inventando um nome para se referir aos clientes dos “prostitutos”. Podemos chamá-los de "velhos sujos." Outros traduzem a palavra como "sodomitas", mas nunca explicam o que isso significa.

 

Em 1958, pela primeira vez na história, uma pessoa traduziu essa misteriosa palavra grega para inglês e decidiu que significava homossexual ou homossexuais, mesmo que essa palavra não exista no grego antigo ou no hebraico. Mas esse tradutor tomou a decisão por todos nós, e colocou a palavra homossexual na versão inglesa da Bíblia pela primeira vez.

 

No passado, as pessoas usavam os escritos de Paulo para apoiar a escravidão, segregação racial e apartheid. As pessoas ainda usam os escritos de Paulo para oprimir as mulheres e limitar o seu papel no lar, na igreja e na sociedade.

 

Agora, temos de nos perguntar: "Será que isso está a acontecer novamente?" É uma palavra em grego que não tem uma definição clara, e que está a ser usada para refletir o preconceito da sociedade e a condenar os filhos homossexuais de Deus?

 

Todos nós precisamos de olhar mais de perto para aquela misteriosa palavra grega “arsenokoitai” no seu contexto original.

 

Eu acho mais convincente o argumento de que Paulo estava a condenar homens casados que contratavam prostitutos prepubescentes (malakois) para o prazer sexual da mesma forma que contratavam meninas de pele suave para esse fim.

 

Homossexuais responsáveis unir-se-iam com certeza a Paulo para condenar aqueles que usam crianças para sexo, da mesma forma que nos juntaríamos a alguém para condenar as violações coletivas em Sodoma, ou o comportamento das sacerdotisas e sacerdotes loucos por sexo que deambulavam por Roma. Então, mais uma vez, estou convencido de que esta passagem diz muito sobre Deus, mas nada sobre a homossexualidade como a entendemos hoje.

 

 

A MINHA SEXTA PREMISSA

 

Os autores bíblicos estão silenciosos sobre a orientação homossexual como nós a conhecemos hoje. Eles nem a aprovam nem a condenam.

 

Já vimos de perto os seis textos bíblicos usados por algumas pessoas para condenar a homossexualidade. Mas também devemo-nos lembrar que Jesus, os profetas judeus, e até mesmo Paulo nunca sequer comentaram sobre o amor responsável que um homossexual sente por outro.

 

A Bíblia é completamente omissa sobre a questão da orientação homossexual. E não é de admirar, pois a orientação homossexual não era sequer conhecida até ao século XIX.

 

A descoberta de que alguns de nós são criados e/ ou formados a partir da  nossa mais tenra infância a sentirem atração por pessoas do mesmo sexo só foi feita nos últimos 150 anos.

 

Autores bíblicos não sabiam nada sobre a orientação sexual. Autores do antigo testamento e o próprio Paulo, assumiam que todas as pessoas nasciam e eram criadas heterossexuais, assim como eles acreditavam que a terra era plana, e que o sol se movia para cima e para baixo.

 

Em 1864, quase 3.000 anos depois de Moisés e pelo menos 18 séculos depois do apóstolo Paulo, o cientista social alemão Karl Heinrich Ulrichs foi o primeiro a declarar que os homossexuais eram uma classe distinta de indivíduos. Foi um grande momento para todas as minorias sexuais. É o nosso Colombo ao descobrir o Novo Mundo. É a nossa Madame Curie ao descobrir o rádio usado para os raios-X. É o nosso Neil Armstrong a caminhar na lua. Pode parecer um pequeno passo para o resto de vocês, mas é um grande passo para nós.

 

Ulrichs garantiu ao mundo do que nós, que somos homossexuais já o sabemos em nossos corações desde precoce idade. Nós não somos apenas heterossexuais que optam por ter comportamentos sexuais com indivíduos do mesmo sexo. Nós somos toda uma classe de pessoas cujo desejo de intimidade com o mesmo sexo, está no âmago de nosso ser, desde o início de nossas vidas.

 

Embora a palavra homossexual não tenha sido usada pela primeira vez até finais século XIX, Ulrichs reconheceu que os homossexuais sempre existiram, e que eram "por natureza diferentes dos heterossexuais", e que o nosso desejo por pessoas do mesmo sexo, intimidade e filiação é intrínseca, natural, inata desde a mais tenra infância. De acordo com o Dr. Ulrich, o que podia parecer "não natural" a Moisés e Paulo, era de facto "natural" para os homossexuais.

 

Portanto, esta é a minha sexta premissa. Os autores bíblicos não sabiam nada sobre a orientação homossexual como nós a entendemos, e, portanto, não dizem nada para a condenar ou aprovar.

 

Os autores da Bíblia são as autoridades em matéria de fé. Eles podem ser confiáveis quando falam sobre Deus. Mas eles não devem ser considerados as autoridades finais na orientação sexual.

 

Uma vez que os escritores da Bíblia não são as autoridades finais sobre a sexualidade humana, uma vez que nem sequer sabiam nada sobre a orientação sexual como a entendemos hoje, uma vez que Jesus e os profetas judeus ficaram em silêncio sobre qualquer tipo de comportamento do mesmo sexo, estou convencido de que a Bíblia não tem nada nela para aprovar ou condenar a orientação homossexual como nós a entendemos hoje.

 

 

A MINHA SÉTIMA PREMISSA

 

Embora os profetas, Jesus, e outros autores bíblicos não tenham dito nada sobre a orientação homossexual como a entendemos hoje, eles são claros sobre uma coisa: à medida que procuramos a verdade, devemo-nos "amar uns aos outros."

 

Podemos não ser capazes de usar a Bíblia como a autoridade final sobre a orientação sexual. Mas, à medida que buscamos a verdade, podemos e devemos usar a Bíblia como a nossa autoridade final sobre o modo como nos devemos tratar uns aos outros ao longo do caminho.

 

Um erudito jovem judeu perguntou a Jesus: "Qual é o maior mandamento?" Citando os profetas, Jesus respondeu: "O maior mandamento é este… amar a Deus com todo o teu coração, alma, mente e força, e o segundo mandamento é amares o próximo como te amas a ti mesmo ".

 

"Este é o meu mandamento:" Jesus disse: "que se amem uns aos outros, como eu vos amei." Na Bíblia isto é bastante explícito. Mesmo que discordemos com o que a Bíblia pareça dizer sobre a homossexualidade, podemos concordar que acima de tudo somos ordenados pelas Escrituras a amar a Deus e amarmo-nos uns aos outros.

 

Uma vez que Deus é o Deus da verdade e já que o próprio Jesus nos disse que a verdade nos libertaria, um modo de amarmos a Deus e amarmos ao próximo é a de buscar a verdade sobre a orientação sexual onde a possamos encontrar.

 

Existe um crescente corpo de evidências científicas, da psicologia, história, psiquiatria, medicina e experiência pessoal que levam a um veredicto claro: a homossexualidade não é uma doença nem um pecado. Infelizmente, a igreja sempre foi lenta, e na maior parte das vezes a última instituição na terra a aceitar uma nova verdade.

 

Em 1632, o cientista Galileu (que era um homem de fé) atreveu-se a apoiar a ideia radical de Copérnico, que viveu no século XV, de que todos os planetas, incluindo a Terra, giravam em torno do sol. Imediatamente, Galileu foi proclamado um herege pelo Papa, que citou as Escrituras na sua tentativa de refutar o que a ciência estava a provar.

 

Antes disso, “heróis protestantes” tinham-se unido para citar as Escrituras e condenar Copérnico. Estes não eram homens maus. Mas eles não podiam conceber que a Bíblia era um livro sobre Deus, e não sobre astronomia – tal como bons homens e mulheres de hoje têm dificuldade em admitir que a Bíblia é um livro sobre Deus, e não sobre a sexualidade humana.

 

Martinho Lutero disse: "Este tolo Copérnico deseja reverter toda a ciência da astronomia, mas a Sagrada Escritura em Josué 10, 13 diz-nos que Josué ordenou que o sol ficasse parado, e não a terra."

 

 

João Calvino citou o Salmo 93 no seu ataque a Copérnico. " Firmou o universo, que não vacilará”. Calvino acrescentou: " Quem é que se vai aventurar a colocar a autoridade de Copérnico acima da do Espírito Santo? "

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Melâncton, um dos mais próximos aliados de Lutero, usou Eclesiastes 1, 4-5 para condenar Copérnico. " O Sol nasce e o Sol põe-se e visa o ponto donde volta a despontar." Então, ele acrescentou estas palavras perigosas: "É parte de uma boa mente aceitar a verdade revelada por Deus, e obedecer-lhe. "

 

Por outras palavras ele diz que devemos acreditar no que a Bíblia diz - mesmo que a ciência o desminta.

 

Devido ao facto de os cristãos se terem recusado a deixar que a sua compreensão sobre a Palavra de Deus fosse atualizada pela ciência, Copérnico e Galileu foram condenados, declarados hereges e colocados sob prisão domiciliar para o resto de suas vidas. Em 1992, 359 anos depois, o Papa João Paulo II finalmente admitiu que a igreja tinha errado ao ignorar a ciência e ao interpretar a Bíblia literalmente.

 

O Papa disse algo que nunca se deve esquecer: "Os estudos históricos recentes permitem-nos afirmar que este triste mal-entendido agora pertence ao passado." Infelizmente, o pedido de desculpas veio tarde demais para aliviar Galileu do seu sofrimento. E se os estudiosos bíblicos da época de Galileu tivessem dito a Galileu: "Nós não concordamos com as suas teorias baseadas em Copérnico, mas resolvemos amar e confiar em você. Desde que ame a Deus e busque a vontade de Deus para a sua vida, você é bem-vindo aqui."

 

 

Imaginem o sofrimento que poderia ser evitado se a igreja dissesse isso aos seus filhos homossexuais: "Nós não entendemos a vossa opinião sobre a orientação sexual, mas nós amamos e confiamos em vocês. Desde que vocês amem a Deus e busquem a Sua vontade para as vossas vidas, vocês são bem-vindos aqui."

 

Em vez disso, os cristãos bem-intencionados estão a levar os seus filhos para longe da igreja, usando passagens bíblicas que nem sequer se referem à orientação sexual tal como a entendemos.

 

 

A MINHA OITAVA PREMISSA

 

Independentemente do que algumas pessoas achem do que Bíblia diz sobre a homossexualidade, não devem usar essa crença para negar aos homossexuais os seus direitos civis básicos. A discriminação contra minorias sexuais ou de género, é injusta.

 

Por favor, considere uma última coisa. Eu amo a Bíblia. Eu li a Palavra de Deus e ouço a voz de Deus através dela. Mas o nosso país não é um país regido pela lei bíblica. A nossa nação é regida pela Constituição. As nossas leis foram criadas para proteger o direito a um indivíduo de discordar. Se a lei bíblica (ou a visão que alguém tem sobre ela) substituir a Constituição como a lei da terra, estamos a minar o grande alicerce sobre o qual este país foi construído.

 

Quando eu fui convidado para um “talk-show” em Seattle, eu vi o que me poderia acontecer a mim e a milhões de pessoas como eu, se um verdadeiro literalista ganhasse o poder político sobre este país. O outro convidado do programa era um pastor presbiteriano independente. Quando eu lhe disse que era homossexual, ele disse sem hesitar: "Então você deveria ser morto." Um irmão cristão condenando-me à morte, guiado apenas pelo seu entendimento literal de Levítico 20, 13.

 

Perguntei-lhe: "Quem deve fazer a matança, vocês pessoas da igreja?" Ele respondeu: "Não, esse é o trabalho das autoridades civis. É por isso que precisamos eleger mais homens de Deus para o governo."

 

Sentei-me em silêncio atordoado, até que ele acrescentou:" Eu sei que deve ser difícil para você ouvir, Dr. White - mas Deus disse que em primeiro lugar o nosso dever é obedecer. "

 

Eu espero que nós possamos concordar que devemos estar unidos contra aqueles que desejam substituir a Constituição pela lei bíblica. É por isso que, quando eu dou palestras no campus de uma universidade, eu trago uma Bíblia num bolso e uma Constituição no outro.

 

Podemos apoiar os plenos direitos civis para todos mesmo que se discorde?

 

Nesta última premissa, estou a pedir-lhe que mesmo que não concorde com a minha posição sobre a homossexualidade, que pelo menos sustente a minha posição sobre os direitos civis para todas as pessoas, incluindo os homossexuais.

 

 

Eu espero que concorde que somos uma família, todos irmãos e irmãs do mesmo Pai celestial. Podemos ser diferentes, mas ainda assim podemos viver juntos… e em paz.

 

 

Autor: Mel White

Tradução: Vítor Roma

Revisão, adaptação e arranjo gráfico: José Leote

Texto original: aqui.

09 de Julho, 2013

O que a Bíblia diz - e não diz - sobre a homossexualidade (PARTE I)

Rumos Novos - Católic@s LGBTQIA+ em Ação

TAL COMO VOCÊ EU LEVO A BÍBLIA MUITO A SÉRIO!

 

Muitas pessoas constroem o seu caso contra a homossexualidade baseadas quase exclusivamente na Bíblia. Estas pessoas valorizam a Sagrada Escritura e buscam a sua orientação nas suas vidas. Infelizmente, a grande maioria delas nunca estudou o que a Bíblia diz e não diz sobre a homossexualidade.

 

Nós homossexuais cristãos também levamos a Bíblia a sério. Pessoalmente, passei mais de 50 anos a ler, a estudar, a memorizar, a pregar e a ensinar a Palavra de Deus. Adquiri o meu mestrado e doutoramento num seminário bíblico conservador, para me equipar melhor a “manejar bem a palavra da verdade”. Aprendi hebraico e grego para obter uma melhor compreensão das palavras originais dos textos bíblicos. Estudei a vida e os tempos dos autores bíblicos, para saber o que eles diziam naquela altura e para que o pudesse aplicar melhor nos dias de hoje.

 

 

Estou convencido de que a Bíblia tem uma mensagem poderosa para os cristãos homossexuais e também para os cristãos heterossexuais, mas essa mensagem não é a de condenação, que tão frequentemente ouvimos. No entanto não tem de acreditar na minha palavra. Só peço que considere o resultado da minha pesquisa de tantos e tantos anos, sobre as passagens bíblicas que se usam para condenar os filhos de Deus homossexuais. Depois, decida você mesmo…

 

 

A MINHA PRIMEIRA PREMISSA

 

A maioria das pessoas não pesquisou cuidadosamente e em espírito de oração, as passagens bíblicas que se usam para condenar os filhos de Deus que são homossexuais.

 

Como você deve saber, a ignorância bíblica é uma epidemia nos Estados Unidos. Um estudo recente citado pelo Dr. Peter Gomes em “The Good Book” descobriu que 38 por cento dos norte-americanos entrevistados estavam convictos de que o Antigo Testamento fora escrito alguns anos após a morte de Jesus. Cerca de 10 por cento acreditava que Joana D’Arc era a esposa de Noé, e muitos acreditavam que as epístolas eram as esposas dos apóstolos.

 

Este mesmo tipo de ignorância bíblica é muito real em torno do tópico da homossexualidade. Muitas vezes as pessoas que amam e confiam na Palavra de Deus nunca deram muita atenção ao que a Bíblia diz ou não diz sobre a homossexualidade.

 

Por exemplo, muitos cristãos não sabem que:

 

  • Jesus nunca diz nada sobre comportamentos sexuais entre o mesmo sexo.
  • Os profetas judaicos têm uma postura silenciosa em relação à homossexualidade.
  • Só seis ou sete versículos de entre cerca de um milhão de versículos bíblicos se referem ao comportamento sexual entre o mesmo sexo e nenhum deles se refere à orientação homossexual como é entendida nos dias de hoje.

 

A maioria das pessoas que “têm a certeza” acerca do que a Bíblia diz sobre a homossexualidade, nem sabe onde podem ser encontrados os versículos que mencionam comportamentos sexuais entre o mesmo sexo. Essas pessoas não os leram e muito menos os estudaram. Elas não têm absolutamente noção alguma sobre o significado das palavras no original hebraico e grego, para além de nunca terem tentado compreender o contexto histórico no qual foram escritos.

 

No entanto, o pressuposto de que a Bíblia condena a homossexualidade é passado de geração em geração, com muito pouco estudo pessoal ou pesquisa. As consequências desta desinformação são desastrosas, não só para os homossexuais cristãos, mas também para toda a igreja.

 

 

O apóstolo Paulo diz para examinarmos tudo e ficarmos com aquilo que é bom. Ao ler esta pequena súmula está a levar o apóstolo Paulo a sério.

 

 

A MINHA SEGUNDA PREMISSA

 

Historicamente, uma errónea interpretação da Bíblia tem deixado ao longo dos anos, um rasto de sofrimento, derramamento de sangue e morte.

 

Ao longo dos séculos, as pessoas que têm compreendido e interpretado mal a Palavra de Deus, têm provocado situações terríveis.

 

A Bíblia tem sido pervertida para defender cruzadas sanguinárias, e inquisições abusivas e nefastas. Tem sido usada para apoiar a escravatura, o apartheid e a segregação racial. Tem sido usada para perseguir judeus, e outros tantos homens e mulheres de fé. Tem sido usada para apoiar o III Reich de Hitler e o holocausto, para defender e apoiar o Klu Klux Klan. Até tem sido usada em oposição à ciência médica, para condenar o casamento inter-racial e para queimar mulheres supostamente bruxas.

 

O próprio Shakespeare disse: “Até o diabo pode citar as Escrituras para o seu propósito.”

 

Gostaríamos de acreditar que nenhuma pessoa de boa vontade usaria impropriamente a Bíblia para apoiar o seu preconceito. Mas uma e outra vez isso aconteceu, e quase sempre com resultados trágicos.

 

No século XVI, John Selden apontou para duas palavras latinas esculpidas numa parede de mármore de uma antiga igreja em Roma: “Scrutamini Scripturas”, que significa “Olhemos para as Escrituras”. “Essas duas palavras” disse Selden, “arruinaram o mundo.”

 

Num certo sentido, Selden estava certo. As sistemáticas más interpretações bíblicas, têm encharcado o nosso planeta de sangue e de lágrimas.

 

Mas por outro lado ele estava errado. A maioria das pessoas que lê a Bíblia, não pesquisa as Escrituras.

 

Simplesmente encontram um texto ou um versículo que aparentemente sustenta o seu preconceito, e passam uma vida inteira a citá-lo de uma forma deturpada.

 

O modo como certos versículos bíblicos são usados para condenar a homossexualidade e os homossexuais, é um exemplo perfeito disso.

 

No dia 22 de setembro de 2000, um homem de 55 anos chamado Ronald E. Gay, irritado por ser provocado em relação ao seu apelido, entrou no Back Street Café, em Roanoke, Virginia, um lugar de encontro para homossexuais a poucos quilómetros de Lynchburg. Confiante de que a Palavra de Deus apoiava o seu trágico plano de ação, assim que entrou no café, gritou: - “Eu sou um soldado cristão, e trabalho para o meu Senhor.” Alegando que “Jesus nunca quereria este tipo de pessoas no Seu céu”, alvejou 7 clientes homossexuais. Um deles, Danny Overstreet morreu instantaneamente. Os outros ainda estão a sofrer de feridas físicas e psicológicas.

 

Em julho de 1999, Matthew Williams e o seu irmão, Tyler Williams assassinaram um casal homossexual, Gary Matson e Winfield Mowder, em sua casa, perto de Sacramento, Califórnia. Ao falar com a sua mãe a partir da prisão do condado de Shasta, Matthew explicou as suas ações desta forma: "Eu tinha de obedecer à lei de Deus, em vez de obedecer à lei do homem. Eu não queria fazer isso. Senti que devia. Tenho seguido uma lei maior... Eu só pretendo defender-me das Escrituras.”

 

Depois de Matthew Shepard ter sido morto em 1998, um pastor na Carolina do Norte publicou uma carta aberta sobre o julgamento de Aaron McKinney, que dizia: "Os homossexuais estão sob pena de morte. O sangue deles é culpado diante de Deus (Lv 20:13). Se uma pessoa mata um homossexual, o sangue do homossexual cai sobre o homossexual e não sobre a pessoa que comete esse crime. Os atos dos homossexuais são demasiado abomináveis para Deus. Na Sua Palavra isso está implícito, e não podemos mudá-lo”.

 

A maioria das pessoas que conheço e que dizem que "a Bíblia condena a homossexualidade", nunca estaria de acordo com esses atos. A maioria dos cristãos não tem ideia de que as pessoas que matam homossexuais, andam por aí citando alguns versículos da Bíblia para justificarem os seus atos.

 

Mas é importante ouvir estas histórias, porque eu não estou a escrever este pequeno artigo como um exercício académico. É uma questão de vida ou de morte. Eu estou implorando pela vida das minhas irmãs lésbicas e dos meus irmãos homossexuais, que são rejeitados pelos seus amigos e familiares, demitidos pelos seus empregadores, que veem negados os seus direitos civis, que veem frequentemente igrejas recusarem-lhes o direito a serem membros, e que se matam ou são mortos por outros – tudo isto com base nestes seis ou sete versículos.

 

 

 

           

 

A MINHA TERCEIRA PREMISSA

 

Devemos estar abertos a novas verdades das Escrituras.

 

Até mesmo os heróis da fé cristã, mudaram as suas mentes em relação ao significado de vários textos bíblicos.

 

Foi preciso uma luz ofuscante e uma voz do céu, para ajudar o apóstolo Paulo a mudar o seu entendimento sobre certos textos hebraicos.

 

Um lençol vindo do céu repleto de todos os tipos de animais, ajudou o apóstolo Pedro a ganhar um novo discernimento sobre a lei judaica.

 

Jerry Falwell acreditava que a Bíblia defendia a segregação na igreja, até que um engraxador negro lhe perguntou: "Até quando alguém como eu, vai ter a oportunidade de se tornar um membro da sua congregação?" Com essas simples palavras, o Espírito Santo falou uma nova verdade sobre textos bíblicos antigos ao Rev. Falwell e em obediência, ele acabou com a segregação racial na igreja Batista Thomas Road.

 

Mesmo quando acreditamos que as Escrituras são "infalíveis" ou "sem erro" é terrivelmente perigoso pensarmos que a nossa compreensão de todo o texto bíblico está isento de erros. Nós somos humanos. Somos falíveis. E podemos não compreender e até interpretar erroneamente essas palavras antigas… com resultados trágicos.

 

Quase 1.000 pessoas acreditavam que Jim Jones era um fiel intérprete da Palavra de Deus. Elas morreram com ele nas selvas da Guiana. Estudei Jones e líderes de outros cultos ao escrever o livro e documentário “Deceived – Enganados”. Descobri que as únicas pessoas que foram capazes de se libertar da influência perigosa desse culto que citava passagens bíblicas, foram os que tomaram a Bíblia suficientemente a sério, que estudaram os textos, e tomaram à posteriori as suas próprias decisões sobre o seu significado.

 

 E se alguém te perguntasse: - “Podia haver a possibilidade de estares errado na tua interpretação bíblica dos textos que são usados para condenar a orientação homossexual?”

 

Como responderias?

 

Que tipo de indicador de personalidade se manifestaria se respondesses: “Não estou errado! Tenho a certeza de que não estou errado.”

 

Só te peço uma coisa: que reexamines estes textos, com diligência, cuidado e em espírito de oração. Há vidas em jogo.

 

 

Há demasiadas histórias trágicas do que acontece quando deixamos de estudar esses textos. Mark B. era um jovem que aceitou a sua orientação sexual, até ao momento em que se tornou um cristão, e foi-lhe dito, com base em textos bíblicos, que ele não podia ser ao mesmo tempo um cristão e um homem homossexual. Mark cometeu suicídio e escreveu esta nota de suicídio a Deus: "Eu só não sei de que outra forma poderei corrigir isso." Mary Lou Wallner, uma das nossas mais fiéis voluntárias na Soulforce, foi conduzida por estes textos bíblicos para condenar a sua filha lésbica, Anna, que se enforcou. Mary Lou agora diz: "Se eu conseguir levar apenas uma pessoa para longe da dor e da angústia que tenho vivido, então talvez a morte de Anna tenha tido algum significado."

 

Se os heróis da fé cristã puderam mudar as suas mentes sobre o significado de certos textos bíblicos, não deveríamos nós estar preparados para reconsiderar as nossas próprias interpretações, quando o Espírito Santo abre os nossos corações e mentes para uma nova verdade? É por isso que estudamos a Bíblia em oração, buscando o Espírito da Verdade, o Espírito do amor de Deus, para nos ajudar a compreender e aplicar essas verdades em nossas vidas.

 

Na noite em que foi traído, Jesus disse aos seus discípulos que estava indo para longe deles por um tempo, mas que o Pai lhes enviaria um "Consolador", um "Advogado", o "Espírito Santo" que lhes iria "ensinar todas as coisas ".

 

Eu creio de todo o meu coração que o Espírito Santo ainda nos está a ensinar. Quando reconsiderar os textos que são usados por algumas pessoas para condenar filhos de Deus homossexuais, devemos buscar fervorosamente a orientação do Espírito Santo, ou corremos o risco de ser enganados pelos nossos próprios preconceitos.

 

 

A MINHA QUARTA PREMISSA

 

A Bíblia é um livro sobre Deus - não é um livro sobre a sexualidade humana.

 

A Bíblia é a história do amor de Deus para com o mundo e as pessoas do mundo. Ela conta a história do amor de Deus no trabalho de resgatar, renovar e capacitar a humanidade. Ela nunca foi destinada a ser um livro sobre a sexualidade humana. Certamente, você concorda.

 

Na verdade, a Bíblia aceita práticas sexuais que condenamos, e condena práticas sexuais que aceitamos. Muitas delas! Aqui estão alguns exemplos:

 

  • DEUTERONÓMIO 22, 13-21

          Se é descoberta a noiva que não é virgem, a Bíblia exige que ela seja executada por apedrejamento imediatamente.

 

  • DEUTERONÓMIO 22, 22

          Se uma pessoa casada tem sexo com a esposa ou com o esposo alheio, a Bíblia ordena que ambos os adúlteros sejam apedrejados até à morte.

 

  • MARCOS 10, 1-12

          O divórcio é estritamente proibido em ambos os Testamentos, como o é casar-se de novo, se se for divorciado.

 

  • LEVÍTICO 18, 19

          A Bíblia proíbe um casal casado de ter relações sexuais quando a mulher está na fase do seu período. Em caso de desobediência ambos devem ser executados.

 

  • MARCOS 12, 18-27

          Se um homem morresse sem deixar filhos, a sua viúva era ordenada por lei bíblica a ter relações sexuais, com cada um dos irmãos do seu defunto marido, até que ela desse à luz um herdeiro do sexo masculino para que a genealogia do seu marido continuasse.

 

  • DEUTERONÓMIO 25, 11-12

          Se um homem brigasse com outro homem e a sua esposa procurasse ajudar o marido agarrando os órgãos genitais do inimigo, a mão dela deveria ser cortada e nenhuma compaixão lhe deveria ser demonstrada.

 

Tenho a certeza de que você não concorda com estes ensinamentos sobre sexo. E não deveria. E a lista continua: A Bíblia diz claramente que sexo com uma prostituta é aceitável para o marido, mas não para a esposa. A poligamia (mais de uma esposa) é aceitável, pois um rei é soberano. (Salomão, o rei mais sábio de todos, teve cerca de 1.000 concubinas).

 

Escravidão e relações sexuais com escravos, o casamento de meninas com idades entre 11-13 e tratamento das mulheres como propriedade, são todas práticas aceites nas Escrituras. Por outro lado, existem severas proibições contra o casamento inter-racial, controle de natalidade, querelas familiares, ou até mesmo nomear um órgão sexual. Também era proibido ver-se a nudez de qualquer um dos pais.

 

Ao longo dos séculos, o Espírito Santo tem-nos ensinado que certos versículos da Bíblia não devem ser entendidos como a lei de Deus para todos os períodos de tempo. Alguns versículos são específicos para uma cultura e para a época e já não são vistos como apropriados, sábios, ou justos.

 

Muitas vezes, o Espírito Santo usa a ciência para nos dizer que essas palavras antigas não se aplicam aos nossos tempos modernos. Durante as últimas três décadas, por exemplo, as organizações que representam 1,5 milhões de profissionais de saúde dos EUA (médicos, psiquiatras, psicólogos, conselheiros e educadores) têm afirmado categoricamente que a orientação homossexual é tão natural como a orientação heterossexual, e que a orientação sexual é determinada por uma combinação de ainda desconhecidas influências pré e pós-natais e o que é perigoso e impróprio é dizer-se a um homossexual que ele ou ela deveria tentar mudar a sua orientação sexual.

 

 

Embora existam algumas pessoas que agora vivem em casamentos heterossexuais, mas que no passado tiveram casos homossexuais, há milhões de pessoas homossexuais que aceitaram a sua orientação sexual como um dom de Deus e que vivem vidas produtivas e profundamente espirituais. A evidência da ciência e da experiência pessoal de cristãos homossexuais, exige que, pelo menos, devamos repensar sobre as passagens bíblicas citadas para condenar o comportamento homossexual, assim como outros versículos da Bíblia que falam de certas práticas sexuais que não são mais entendidas como a lei de Deus para nós nos dias de hoje.

 

 

 

 

 

Autor: Mel White

Tradução: Vítor Roma

Revisão, adaptação e arranjo gráfico: José Leote

Texto original: aqui.

07 de Julho, 2013

10 maneiras de apoiar o seu filho ou filha homossexual, quer saiba ou não se tem um/a!

Rumos Novos - Católic@s LGBTQIA+ em Ação

No último mês, sendo o Mês do Orgulho, foram publicados alguns artigos referentes ao que os pais deveriam dizer quando os filhos se lhes revelam como homossexuais. No geral, penso que esses artigos nos davam conselhos preciosos, que, no essencial, se resumiam a isto: Não sejam idiotas. Isto é um bom conselho para todas as situações e algo que tento recordar-me todas as vezes que vejo os meus sogros. Contudo, enquanto pais, penso que deveríamos fazer muito melhor.

 

Portanto, aqui estão algumas dicas úteis para apoiarem o vosso filho ou filha antes de ele vos revelar a sua orientação sexual. Afinal de contas, ser pai de um filho ou filha homossexual não começa quando ele ou ela se assume. Eles sempre foram homossexuais, quer vocês soubessem disso ou não.

 

 

1. Reconheçam que o vosso filho ou filha pode ser homossexual.

 

Qualquer criança nascida de qualquer pai ou adotada em qualquer família pode ser homossexual. Porquê? Porque são seres humanos e alguns seres humanos são homossexuais. Trata-se simplesmente de um facto. E não reconhecer isso não faz um favor a ninguém.

 

 

2. Mostrem aos vossos filhos ou filhas que ser homossexual não vos acarreta qualquer problema.

 

Falar com os vossos filhos ou filhas é sempre bom. Recomendo-o. Digam-lhes que acreditam na igualdade para todas as pessoas. Só o falar já pode fazer muito, mas as ações falam mais alto do que as palavras. Alguns exemplos de ações:

 

  • Leve a família ao Dia do Orgulho. Não é preciso ser homossexual para participar. Neste evento, o vosso filho ou filha poderá contactar com um amplo leque de pessoas e famílias, onde poderá desenvolver o seu sentido crítico e aperceber-se-á de que os pais são solidários somente por lá estarem.
  • Faça doações ao Rumos Novos ou a qualquer outra organização LGBT, nas quais envolva o seu filho. Fale-lhe de como é importante apoiar organizações que promovem a igualdade e o tratamento igual para todas as pessoas.
  • Participem noutras atividades, como por exemplo nos encontros periódicos, realizados em diversos pontos do país, do Rumos Novos. Podem, assim, educar o vosso filho ou filha e mostrar-lhe que a fé católica e a homossexualidade não são incompatíveis.

 

 

3. Não mintam acerca das pessoas na vida do vosso filho ou filha

 

Se o vosso filho ou filha tem um casal favorito de tios ou tias homossexuais, que vivem juntos e se amam, não há qualquer vergonha em explicar-lhe a natureza do seu relacionamento. A minha experiência revela que as crianças se apercebem que as pessoas se amam. Elas não pensam que é estranho ou errado, a menos que sejam ensinadas de que é estranho ou errado. E não lhes estará a ensinar nada sobre sexo, mas sim sobre amor. É fácil dizer: “O João e o Manuel amam-se tal como a mãe e o pai”. O amor é uma coisa saudável.

 

 

4. Decorem o vosso carro na igualdade

 

Se são dos que gostam de colar autocolantes nos vidros do vosso carro, existem milhares disponíveis. Pode ser o símbolo da igualdade, ou um autocolante que diga “O Ódio Não É Um Valor Familiar”. O meu carro mostra agora um autocolante que diz “Amo a Igualdade”. É uma maneira fácil de marcar a vossa posição sobre o assunto.

 

 

5. Cuidado com a língua

 

Palavras ou expressões como “paneleiro”, “maricas”, “camionista”, “isso é tão amaricado”, etc., são prejudiciais. Não tentem enganar-se pensando que não o são. Eliminem o discurso de ódio do vosso vocabulário, pois ele é humilhante e, enquanto pais, não se deveriam sentir bem em diminuir o vosso filho ou filha.

 

 

6. Insurja-se

Se as pessoas estão a ser umas idiotas homofóbicas e vocês nada dizem, isso envia uma mensagem definitiva, que não é nada boa. Abram as vossas bocas e façam notar às pessoas o ódio que transparece das suas palavras. É sempre confortável? Não. Porém, uma criança homossexual precisa ver os pais a defende-la, quer se tenha já assumido ou não.

 

 

7. Deixem as vossas crianças ser elas mesmas

 

Têm um filho que vive para o teatro musical e para o design de moda? Ótimo. Têm uma filha que pensa que os vestidos foram inventados pelo diabo? Ótimo. Alguma destas coisas significa que o vosso filho é homossexual? Claro que não. Porém ao apoiá-los, estão a demonstrar-lhes que eles são perfeitos e amados tal como são.

 

 

8. Oiçam os vossos filhos e filhas

 

Se o vosso filho ou filha vos diz que tem uma paixão por alguém do mesmo sexo, deixem-no/a. Não entrem em parafuso ou tirem conclusões ou digam-lhe que ele ou ela não pode ter tal paixão. Muitas das crianças que têm paixões por pessoas do mesmo sexo, não são homossexuais, mas alguns são. O que quer que o vosso filho ou filha sinta é real e importante. Para além de que as paixões das criancinhas são adoráveis. Desfrute da adorabilidade da coisa. O resto virá com o tempo. (Embora possa acontecer mais cedo do que imaginam.)

 

 

9. Preencham os vazios na vossa biblioteca

 

Escolham também livros que podem trazer diversidade à vossa casa de uma forma divertida e colorida que as crianças adoram. Eles podem ajudar a ensinar que todos os diferentes tipos de pessoas e famílias são maravilhosos e merecem ser celebrados.

 

 

10. Amem os vossos filhos ou filhas

 

Amar os vossos filhos ou filhas é o emprego e a responsabilidade número um de qualquer pai. Escolhemos ser pais. É um dos papeis mais maravilhosos, fabulosos, frustrantes e recompensadores do mundo. É nosso privilégio ser a mãe ou o pai de alguém e é um privilégio que não deve ser tido como garantido.

 

Se os pais fizerem algumas destas coisas, então quando um filho ou filha se assume, provavelmente ele ou ela não estará com medo e receio de que irão rejeitá-lo/a. Será somente o vosso filho ou filha a partilhar algo de importante sobre si próprio/a. E, se o vosso filho ou filha for heterossexual, ter-lhe-ão ensinado lições importantes sobre a igualdade. Não há qualquer prejuízo. Afinal de contas, os nossos filhos e filhas irão ser quem são. Nada do que fizermos ou dissermos pode mudá-los. Porém, como pais podemos afetar o modo como os nossos filhos e filhas se veem a eles ou elas mesmos. Quero que os meus filhos e filhas saibam que são maravilhosos.

 

Se o vosso filho ou filha se assumir perante vocês, lembrem-se do conselho que funciona quase sempre: Não sejam idiotas!

 

 

NOTA: Pode ser descarregada aqui a brochura que produzimos sobre este tema.

 

 

Autor: Amelia (pseudónimo)

Tradução e adaptação: José Leote

Artigo original:  Huffington Post

07 de Julho, 2013

Pode a igreja alguma vez reconciliar-se com as uniões entre pessoas do mesmo sexo?

Rumos Novos - Católic@s LGBTQIA+ em Ação

O casamento entre pessoas do mesmo sexo levanta uma questão complexa: como é que a Igreja Católica Apostólica Romana, nos seus ensinamentos oficiais, irá aceitar as uniões entre pessoas do mesmo sexo? Fazer isso requereria um exame monumental da abordagem profunda e tradicional da igreja em relação à sexualidade e ao casamento. É perfeitamente claro que os altos dignitários da igreja não estão na disposição de enfrentar a questão (N. T.: Como igualmente o demonstra a recente encíclica do Papa Francisco, “Lumen Fidei”). Estão, antes, determinados em reafirmar vezes sem conta aquela que tem sido a posição da igreja católica, pelos menos desde o concílio de Trento, de que a orientação homossexual, incluindo o casamento entre pessoas do mesmo sexo, não é natural e deve ser combatida, como o afirmou o arcebispo Cordileone, através de um campanha forte para “catequizar os católicos sobre o casamento”.

 

A igreja institucional tem, pois, três escolhas: primeira, frisar como sendo sem compromisso as uniões pecaminosas entre pessoas do mesmo sexo e manter o incitamento para que os governos façam tudo o que estiver ao seu alcance para as tornar ou manter ilegais; ou segunda, sair totalmente da política do casamento separando definitivamente o matrimónio (N. T.: sacramento religioso) do casamento (N. T.: contrato civil), ignorando desta forma o alegado mergulho da sociedade secular na depravação moral; ou terceira, levar a cabo uma reconsideração total da teologia moral católica, tendo como objetivo uma definição mais realista do casamento, mais de acordo com os desenvolvimentos modernos na teologia, estudos das Escrituras, descobertas da ciência e uma melhor compreensão da natureza e das relações humanas.

 

Julgo que a terceira hipótese é aquela que tem menos possibilidade de acontecer num futuro próximo. Porém, argumentaria que é a única que faz sentido. Quer a igreja opte por escolher a primeira ou a segunda ou talvez ainda uma mistura das duas, estará a isolar-se do futuro. Ao contrário do tema da contraceção, que as sondagens mostram que é utilizada pela esmagadora maioria dos jovens casais católicos na privacidade dos seus lares, as uniões entre homossexuais são visíveis e públicas devido à sua própria natureza. As pessoas que vivem nestas uniões têm famílias e amigos e conhecidos que têm estado e estarão cada vez mais desligados da igreja, devido à rejeição desta em relação às escolhas que os seus filhos e filhas, que conhecem e amam, fizeram. Os dados do abandono, penso, serão bem mais graves do que os que se seguiram à condenação da contraceção por parte do Papa Paulo VI.

 

Assim a igreja dos nossos netos e bisnetos pode ser uma igreja defensiva, leal, obediente, quase uma seita, uma espécie da pequena igreja de que o Papa Bento XVI falou nos seus ataques repetidos ao relativismo e ao secularismo. Seria uma igreja totalmente supervisionada pelo contingente de bispos e padres extremamente leais inspirados pelo Papa João Paulo II.

 

Por outro lado, a igreja do futuro pode ser completamente diferente. Muitos teólogos católicos estão convencidos que a nossa teologia moral está tão cheia de incongruências e inconsistências, fundamentadas em premissas de há muito ultrapassadas, que já não serve qualquer finalidade útil. Sugiro que é chegada a altura de uma liderança competente começar a elencar quais as necessidades a serem realizadas e alteradas e como, com a orientação do Espírito Santo, uma forma radicalmente inclusiva de catolicismo pode finalmente emergir.

 

 

Autor: Robert McClory

Tradução e adaptação: José Leote

Artigo original: National Catholic Reporter