Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Associação RUMOS NOVOS - Católicas e Católicos LGBTQ (Portugal)

Somos católic@s LGBTQ que sentiram a necessidade de juntos fazerem comunhão, partilhando o trabalho e as reflexões das Sagradas Escrituras, caminhando em comunidade à descoberta de Deus revelado a tod@s por Jesus Cristo.

14 de Dezembro, 2013

Vítimas Homossexuais do Holocausto já têm um Monumento em Telavive

Rumos Novos - Católic@s LGBTQIA+ em Ação

Desde esta semana que a cidade de Telavive, em Israel, presta homenagem às vítimas homossexuais do Holocausto, graças ao monumento que acaba de ser inaugurado frente ao conhecido centro comunitário municipal no Parque Gan Meir. Quer os políticos da capital israelita, quer o arquiteto que o concebeu, Yael Moriah, empenharam-se no processo para que não caiam no esquecimento os mais de 100000 homossexuais que o regime nazi assassinou.

 

O ativista muito conhecido na luta pelos direitos das pessoas homossexuais, Eran Lev, foi um dos principais mentores do projeto, o qual foi igualmente vereador da cidade de Telavive durante vários anos. Em concreto, o monumento é formado por três triângulos, cada um com um significado distinto.

 

Deste modo, o primeiro dos triângulos explica a perseguição dos homossexuais por parte da Gestapo durante o mandato de Hitler. O segundo é um triângulo de cor rosa, feito de betão, enquanto que o terceiro fica de frente para os outros dois e consta de três bancos em cor rosa.

 

O memorial deste monumento foi escrito em três línguas: hebraico, alemão e inglês e diz o seguinte: «Em memória dos perseguidos pelo regime nazi devido à sua orientação sexual e identidade de género». Apesar de habitualmente se cifrar em 100000 o número de vítimas mortais, atualmente é difícil fazer um cálculo exato. Ao certo sabe-se que 15000 homossexuais foram enviados para os campos de concentração e metade deles acabaram sendo assassinados devido à sua orientação sexual.

 

 

Artigo original: Cáscara Amarga

06 de Dezembro, 2013

Cinco Razões pelas Quais Nelson Mandela é uma Figura Ímpar na Defesa dos Direitos das Pessoas Homossexuais

Rumos Novos - Católic@s LGBTQIA+ em Ação
Nelson Mandela

Nelson Mandela viveu tempo suficiente para alcançar o tipo de respeito que poucos líderes políticos conseguem alguma vez alcançar. Mas também, poucos líderes políticos foram tão transformadores como Mandela, que lutou não somente contra um sistema que institucionalizou o racismo, mas também orientou a sua transição pacífica para a democracia.

 

Um dos legados mais importantes de Mandela será o seu apoio aos direitos das pessoas homossexuais. Mandela fez questão de identificar os assuntos relacionados com as pessoas homossexuais como parte integrante do movimento dos direitos civis. A Mandela se fica a dever a tarefa monumental de cura das feridas causadas por anos de apartheid e é também dele a eterna gratidão de ter tido a visão suficiente para se aperceber de que todas as formas de discriminação se encontram relacionadas.

 

Aqui estão seis exemplos da liderança de Mandela que lhe granjearam um lugar de honra na história do movimento homossexual.

 

Conduziu a África do Sul a tornar-se no primeiro país no continente africano a banir a discriminação em relação às pessoas homossexuais. Mandela foi a voz da antidiscriminação desde o início da sua presidência, em 1994. O país acabou por banir a discriminação em 1998.

 

Foi um líder a favor da igualdade no casamento muito antes de este ser um assunto popular. Mandela nunca teve de evoluir em relação à igualdade no casamento. Ela já o apoiava há vinte anos atrás. Em resultado disso, a África do Sul tornou-se o primeiro país em África e o quinto no mundo a reconhecer a igualdade no casamento em 2006.

 

Pôs as suas palavras em ação. Mandela não falou somente de cor em relação aos assuntos envolvendo as pessoas homossexuais. Manifestou igualmente a vontade de nomear homossexuais para alto cargos, num tempo em que o país era bem menos concordante em relação aos homossexuais. Entre as suas primeiras nomeações encontra-se Edwin Cameron, que chegou a juiz do Supremo Tribunal da África do Sul.

 

Foi um exemplo para outros países. A homofobia permanece um problema em muitas outras nações africanas, porém a autoridade de Mandela foi tal que a sua contra-argumentação reduziu à vergonha a repressão sancionada por esses estados.

 

Mostrou ao mundo como é que as coisas podem ser feitas. A nação que Mandela ajudou a forjar a partir das ruinas do apartheid conseguiu a igualdade no casamento muito antes que muitas das democracias ocidentais. Em muitos aspetos o país esteve à frente na defesa dos direitos das pessoas homossexuais, pelo menos do ponto de vista político.

 

Embora a África do Sul não seja exatamente um paraíso para as pessoas homossexuais, pois o assassínio e a homofobia permanecem fontes de preocupação em algumas zonas do tecido do país, não há margem para dúvida que o país – e o mundo – avançou muito mais na defesa dos direitos das pessoas homossexuais do que teria acontecido se Mandela não tivesse abraçado a causa.

 

Por isso, as pessoas homossexuais têm para com ele uma enorme dívida.

 

Descansa em paz, Madiba!

 

 

Texto orginal: Queerty

Tradução e adaptação: José leote

01 de Dezembro, 2013

Aquilo que os Jovens Homossexuais Não Sabem Sobre a SIDA

Rumos Novos - Católic@s LGBTQIA+ em Ação
SIDA

Costumava ter uma fotografia na minha secretária, tirada na Castro Street, em 1983, quando parecia como se a vida homossexual em S. Francisco fosse acabar para sempre. Na fotografia, havia dois homens: o primeiro, alto e esquelético, debruçava-se sobre o outro, que estava numa cadeira de rodas, aconchegando um cobertor sobre o que restava daquele homem desgastado. Um amigo tinha-me oferecido a fotografia, mesmo antes de eu começar a cobrir a epidemia da SIDA para o jornal Washington Post, com a seguinte mensagem: “Quando escreveres esta história, não te esqueças destas pessoas”, disse-me ele. “O tema nada tem a ver com políticas. É sim sobre o ser humano.” O meu amigo morreu alguns meses mais tarde, há quase trinta anos. Desde essa altura, devo já ter passado mais de mil horas a olhar para aquela fotografia, tempo suficiente para memorizar a tristeza profunda nos olhos ocos de ambos os homens.

 

Já tinha feito a cobertura de guerras, antes do começo da epidemia. Todas elas são feias e dolorosas e injustas, porém para mim nada igualou o pavor que senti enquanto descia a Castro, a Village, ou o Dupont Circle no auge da epidemia da SIDA. Parecia que uma bomba de neutrões tinha explodido: os edifícios permaneciam de pé; os carros estavam estacionados ao longo da berma da estrada; havia bancas de jornais, lojas e aviões a sobrevoar o local, mas as pessoas na rua estavam a morrer. A Castro era percorrida por homens de trinta anos que caminhavam, quando podiam, com o auxílio de bengalas ou apoiando-se nos braços dos seus companheiros ou amigos de saúde ligeiramente melhor. As cadeiras de rodas enchiam os passeios. San Francisco tinha-se transformado numa cidade de cadáveres.

 

Em 2002, enquanto escrevia um perfil de Larry kramer, o profeta da desgraça da epidemia americana da SIDA, falei com Tony Kushner, que tinha acabado de receber um Prémio Pulitzer pela sua brilhante peça acerca do que se passava naquela altura “Anjos na América”. Ele confidenciou-se o que aqueles dias lhe tinham feito: “Eu tinha começado o meu processo de saída do armário e a vida gay parecia-me tão excitante”, disse-me. Porém, quando acabou de ler o artigo chocante de Kramer, “1112 e a Contagem Continua”, surgido em 1983 no New York Native e exigindo que os homossexuais começassem a encarar a catástrofe que enfrentavam, Kushner apercebeu-se que “estávamos confrontados com uma verdadeira praga. As pessoas começavam a morrer à nossa volta e nós fingíamos que isso não era nada de importante.”

 

Kramer e muitos outros ativistas mudaram isso tudo. A indignação e novos fármacos ultrapassaram amplamente a negação e o ódio. Nos anos que se seguiram, a epidemia parecia ter desaparecido, embora nunca tal tivesse acontecido, aqui ou em qualquer outra parte do mundo. (No final deste ano, a SIDA terá morto quarenta milhões de pessoas, a maioria das quais em África). Esta semana, numa história poderosa na Times, Donald McNeil realçava que esses dias de má memória poderiam regressar. “As autoridades de saúde norte-americanas relatam um aumento substancial do sexo desprotegido, entre os homossexuais americanos”, escreveu “um desenvolvimento que torna ainda mais difícil combater a epidemia da SIDA”.

 

Essa é uma forma eufemística de colocar a questão. Thomas R. Frieden, diretor do Centro para o Controle e prevenção de Doenças, foi um pouco mais aberto: “As relações sexuais anais correm a sua própria corrida no que toca ao risco”, disse. Três décadas de dados permitem demonstrar a verdade dessa afirmação. Se as relações sexuais anais estão a aumentar entre os homossexuais – uma tendência verificada não somente nos estados Unidos, mas também na maioria dos países ocidentais – as taxas de infeção por HIV seguir-se-ão.

 

Por que é que isto está a acontecer? Antes de mais, terá algo a ver com a própria natureza humana. Por que é que as pessoas se recusam a vacinar os filhos contra o sarampo ou a tosse convulsa? Na maioria dos casos, porque nunca viram sarampo e não têm qualquer ideia do que esta doença é capaz de fazer. (Para uma melhor perspetivação da questão, mais de cento e cinquenta mil pessoas morreram de sarampo, no ano passado, nos países em vias de desenvolvimento). O HIV é bem mais perigoso do que o sarampo, mas também muito mais complicado. O HIV está ligado ao sexo, uma necessidade básica humana, mas também com o desejo, vergonha, descriminação e medo. Irão os jovens de vinte anos, apreciando os seus primeiros momentos de aventura sexual, ficar amedrontados porque, dez anos antes deles terem nascido, pessoas como eu viram homossexuais a se contorcerem, a vomitarem e a morrerem nas ruas por onde eles agora andam? Durante algum tempo, nos anos noventa, os homossexuais tiveram medo e as estatísticas demonstram-no. Utilizavam regularmente preservativos e faziam o teste de despiste para ver se estavam infetados. Muitos ainda o fazem, mas outros começaram a cansar-se do colete-de-forças sexual e emocional. Drogas como as metanfetaminas (que eliminam as inibições e aumentam muito o prazer sexual), ao mesmo tempo que criam dependência, apresentam um revés óbvio e imediato: causam um quadro clínico conhecido como “pila cristal”: nada de ereção, nem sexo. Então as pessoas começam a combinar as metanfetaminas (cristal) com o Viagra e uma nova onda de infeções tem o seu início.

 

Poderemos parar novamente esta epidemia? Claro, ou pelo menos os seus perigos podem ser grandemente reduzidos. Porém, muitas das pessoas infetadas com o HIV (há milhares de casos novos todos os anos) não têm os devidos cuidados de saúde e cerca de um terço deles nem sequer sabem que estão infetados. O racismo, a homofobia e a pobreza continuam a conduzir muito do destino da epidemia.

 

A única conclusão correta a tirar disto tudo é ouvir, novamente, o aviso de Larry Kramer. O que era verdade em 1983 pode muito bem voltar a ser verdade. “Se este artigo não te faz apanhar um bom susto”, escreveu em “1112 e a Contagem Continua”, “então estamos metidos em sarilhos. Se este artigo não te irrita, enfurece, enraivece e te leva a fazeres alguma coisa, então os homossexuais não têm futuro neste planeta. A continuação da nossa existência depende de quanto irritado ficares… A menos que lutemos pelas nossas vidas iremos perecer”.

 

 

Autor: MICHAEL SPECTER

Tradução e Adaptação: JOSÉ LEOTE

Artigo Original: THE NEW YORKER

Fotografia: SEAN GALLUP