Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Associação RUMOS NOVOS - Católicas e Católicos LGBTQ (Portugal)

Somos católic@s LGBTQ que sentiram a necessidade de juntos fazerem comunhão, partilhando o trabalho e as reflexões das Sagradas Escrituras, caminhando em comunidade à descoberta de Deus revelado a tod@s por Jesus Cristo.

28 de Junho, 2014

O CASAL HOMOSSEXUAL: UM GESTO DE AMOR

Rumos Novos - Católic@s LGBTQIA+ em Ação

"Doce é sentir em meu coração

Que humildemente vai nascendo o amor.

Doce é saber, não estou sozinho,

Sou parte de uma imensa vida,

Que generosa reluz em torno de mim,

Imenso Dom do teu amor sem fim..."

("Doce é Sentir", S. Francisco).

 

 

O amor é uma palavra com uma longa evolução sexual e afetiva seguida desde o nosso nascimento. A força que nos impele para o nosso companheiro ultrapassa o nosso próprio egoísmo. É o começo de uma nova aventura vivida a dois.

 

Toda a gente fala de amor. Trata-se, muitas vezes, de um amor entre aspas, pois é mais paixão sexual e egoísmo que amor verdadeiro. O autêntico amor escasseia e, por isso, há guerras dentro e fora do casal homossexual.

 

Conforme já referido atrás é difícil definir o amor. Sente-se e intui-se, mais do que se compreende. É linguagem do coração.

 

Amar é:

  • dar, dar-se, entregar-se, aderir, comprometer-se com o/a companheiro/a que se ama;
  • sacrificar-se, perder-se, morrer para si mesmo e renascer no/a companheiro/a amado/a. O verdadeiro amor não tem bilhete de ida e volta, mas só de ida, perdendo-se no/a companheiro/a amado/a;
  • ser feliz e fazer feliz. O amor é felicidade. A felicidade é tão fácil e tão difícil quanto o amor;
  • sentir-se fascinado/a, seduzido/a, maravilhado/a, possuído/a e impulsionado/a pelo/a companheiro/a que se ama;
  • ser realista, respeitando as maneiras de ser e as diferenças e maneira de ser da outra pessoa, aceitar adaptar-se ao outro tal qual é e não o querendo à nossa imagem e semelhança. O amor é realidade e não ilusão ou paixão deformada;
  • ser livre, porque se confia no amor do/a companheiro/a que amamos, sem ciúmes doentios, embora vivendo em vigilância amorosa, nunca adormecendo sobre os louros. O amor sincero respeita e confia;
  • confiar, esperar, ter fé no/a companheiro/a que se ama, dar-se as mãos em todos os momentos, bons e maus, alegrando-se e sofrendo juntos. De mãos dadas as alegrias serão levadas ao seu máximo e os sofrimentos aligeirados;
  • ser exigente consigo mesmo, lutar pela perfeição, crescer. Aperfeiçoar-se, corrigir-se, modificar-se para dar mais força e mais alegria ao companheiro amado, não o fazendo sofrer;
  • sentir-se em paz e harmonia com o/a companheiro/a amado/a. Amar é ser pacificador. O amor desarma. De armas na mão não nos podemos abraçar;
  • conhecer o/a nosso/a companheiro/a para o podermos ajudar e aceitar e darmo-nos a conhecer abrindo todas as portas do "eu", através do diálogo e da partilha de vida. Amar é dialogar;
  • ajudar o outro a crescer, a superar os defeitos, a ter coragem na vida. Amar é sentirmo-nos responsáveis pelo/a nosso/a companheiro/a;
  • manifestar o amor em obras mais do que em palavras;
  • saber perdoar, hoje, amanhã e sempre. Esquecer o passado, não remexer na lama, pôr de parte os preconceitos e as ideias fixas, sempre disposto a abrir os braços e a recomeçar. Atender mais ao que te une ao/à teu/tua companheiro/a, do que ao que vos separa;
  • estar disponível, teres tempo para "perderes" com o/a teu/tua companheiro/a;
  • ter paciência, recomeçar sempre de novo, nunca seres precipitado querendo ver os frutos antes do tempo;
  • ser sincero, evitando toda a simulação, dolo, mentira e hipocrisia;
  • ser igual, descer ao nível do outro, evitando qualquer complexo de inferioridade ou de superioridade.

 

Resumindo, o amor é, antes de mais, uma atracão profunda de um ser pelo outro, atracão que nunca se realiza unicamente pelo caminho do conhecimento. A reciprocidade é a própria condição do desenvolvimento deste amor.

 

É igualmente uma aposta sobre o futuro, porque ambos vão evoluir e nenhum sabe como. Contudo é possível amar amanhã a pessoa que hoje amamos e que já não será a mesma.

 

O amor implica o respeito pelo outro, não o considerar como um ser imutável e conquistado de uma vez para sempre. É nesta eterna conquista de um ser incessantemente diferente, nesta transformação sofrida através do outro, nesta entrega e nesta diversidade nunca esgotada, que se situa o amor.

 

As circunstâncias da vida, as separações, o dia-a-dia por vezes desumano podem limitar o amor, alterá-lo, mas ele poderá continuar e sobreviver se tiver sido vivido não individualmente mas numa forma de realização a dois.

 

O amor tem, pois, as suas bases de apoio, as suas exigências, as suas leis, o seu alimento: doação, renúncia, atenção, realismo, liberdade, confiança, luta pela harmonia, paz, diálogo, gestos de amor, perdão, sinceridade, fidelidade, respeito, busca de perfeição, fecundidade, caridade... sem alimento constante o amor definha e morre.

 

O casal forma-se através do amor. O casal é antes de tudo o mais formado por ti e pelo/a teu/tua companheiro/a que, no final de uma evolução própria, vão pôr em comum as vossas riquezas, como forma de se completarem mutuamente. Ambos vão aprender progressivamente a superar os vossos desejos próprios para respeitarem os do outro, até alcançarem uma mútua doação de vós próprios. É por isso que a ligação a outra pessoa é difícil de concretizar, porque implica o abandono de si próprio. Foi o amor que criou o casal. O diálogo vai permitir-lhe a comunicação, não só como forma de expressão de amor, mas também como possibilidade de evolução em conjunto e de evolução do próprio amor. O encontro de duas pessoas é fundamentalmente um facto pessoal: conhecem-se e amam-se sem darem conta dos outros. Continuando a viver assim desligado do mundo, o casal será então unicamente um refúgio em relação àquele.

 

Mas esse amor pode estender-se ao mundo para o transformar. O casal experimenta então a necessidade de ser reconhecido como tal pelos outros, não só em relação àquilo que é, mas também em relação com o que querem criar juntos.

 

O amor no casal homossexual tem de ser:

  • amor humano;
  • amor total, pois o coração não admite partilhas;
  • amor unificante;
  • amor fiel e exclusivo: o amor não suporta traições;
  • amor definitivo e eterno: o amor nunca se arrepende.

 

Se o amor é tudo isto, qual será o seu contrário, isto é, o que não é o amor?

 

O amor não é:

  • egoísmo e amor próprio;
  • orgulho, autossuficiência, soberba, complexo de superioridade;
  • paixão descontrolada, cobiça, exploração afetiva e sexual;
  • possessão doentia;
  • violência mais ou menos camuflada;
  • infidelidade e traição;
  • mediocridade e superficialidade;
  • comodismo, adormecimento, distração, falta de renovação constante;
  • ilusão, idealismo cego, sentimentalismo balofo, palavreado oco;
  • desconfiança, ciúme doentio;
  • desconhecimento mútuo, ignorância da personalidade do outro;
  • falta de diálogo, amuo, mutismo;
  • irresponsabilidade, amor platónico;
  • guerra e guerrilhas constantes;
  • ressentimento, ódio, vingança, incompreensão;
  • infelicidade;
  • mentira, hipocrisia;
  • infantilismo, falta de maturidade.

 

 

A relação homossexual gesto de amor

 

Para se manter, o casal homossexual dispõe de dois elementos fundamentais:

  • a atracão mútua e recíproca que o originou;
  • o diálogo que irá permitir-lhe comunicar e exprimir-se.

 

Isso depende da maneira de dizer "amo-te", de certos silêncios a dois nos quais se sentem ainda mais próximos um/a do/a outro/a, do modo de darem as mãos, da maneira de se ajudarem mutuamente. Há, contudo, uma maneira privilegiada de exprimirem o seu amor: a relação sexual.

 

Os corpos pertencem-se, assim como o espírito e a afetividade, o consciente e o subconsciente. O casal encontra-se aí ligado não só no presente mas no futuro de uma vida a dois.

 

 

As etapas do amor no casal homossexual

 

  1. Infância do amor (do primeiro ao quinto ano de vida do casal homossexual): os primeiros meses são de euforia, lua-de-mel, maravilhosa aventura. Pode surgir a primeira crise no segundo ou no terceiro ano, ou mesmo antes: crise de desilusão (antes amaram-se sonhando; agora é a realidade: não são anjos sem defeitos, mas seres frágeis). Supera-se a crise aceitando-se como são e ajudando-se a crescer. Mais paciência.
  2. Juventude do amor (entre os 5 e os 15 anos de vida em comum). Terminou a fase de adaptação. Suavizaram-se as arestas. Vontade tenaz de felicidade. O tempo mais saboroso do amor. Porém, pode surgir também a crise do silêncio. Se não superaram o primeiro 'impasse', invade-os/as o torpor e o cansaço. É decisiva para o futuro do casal a superação desta crise de monotonia.
  3. Maturidade do amor (até aos 45 anos, mais ou menos). Se superaram as crises anteriores, o casal consolida-se e vem a felicidade. Espreita, entretanto, outra tentação: crise da indiferença. Maior perigo de infidelidade. Para evitar o tédio e a monotonia é bom praticar a "ausência" (que o casal se separe uns dias ou até semanas para fugir à rotina e criar saudades).
  4. Meio-dia do amor. Pode voltar a surgir um período de "engates" sucessivos, como desejo de provar ainda a capacidade sexual, sobretudo se as relações no seio do casal são tensas e pouco amorosas.
  5. Renascimento do amor, após a superação de todas as crises. Unidade reconquistada. Felicidade.
  6. Repouso do amor. Mesmo velhinho, o amor é sempre jovem. Mútua gratidão. A morte torna-se mais suave.

 

Amor e fidelidade

 

Quando um casal homossexual é feliz, a fidelidade torna-se fácil. Quando infelizmente, por razões várias, a felicidade não abunda, os inimigos do casal espreitam. Um desses piores inimigos é a infidelidade. Mais cedo ou mais tarde, a infidelidade desvenda-se. O amor arrasta-se penosamente e a vida do casal homossexual torna-se insuportável. É, pois, urgente renovar o amor, fugir das ocasiões e pedir ajuda ao/à companheiro/a.

 

O facto de haver no nosso mundo poucos casais que passam toda a vida sem naufragar na traição, não significa que a traição ao/à teu/tua companheiro/a deva ser encarada como algo de normal. A fidelidade não é uma norma imposta de fora, sendo antes uma decorrência do próprio amor, cuja essência é ser fiel e irrevogável.

 

Quem primeiro paga a infidelidade, a não ser que o/a teu/tua companheiro/a seja imaturo e sem quaisquer princípios de moralidade, será ele/a mesmo/a, sofrendo de frustração, medo, mentira, ciúme, remorsos. Inevitavelmente, também tu, embora inocente, serás atingido/a.

 

Diga-se o que se disser, atraiçoar é fácil, cobarde e indigno. Ser fiel implica coragem, força e maturidade. O "andar no engate" é sinal de imaturidade, infantilidade, frustração sexual, tara. A verdadeira força é a fidelidade.

 

  • Causas da infidelidade. Há casos em que um/a dos/as companheiros/as é apenas vítima inocente dos desvarios do/a outro/a. Contudo, na maior parte dos casos a culpa é de ambos e, muitas vezes, daquele que "engata" ou é "engatado". Culpa de ambos os membros do casal homossexual por não se amarem suficientemente, por falta de domínio da sexualidade, por insatisfação afetiva, por má educação afetiva na juventude, por namoros anteriores pouco dignos. Há homossexuais que na juventude provaram toda a excitação sexual com "engates" constantes, continuando depois a fazer do/a seu/sua companheiro/a mais um "engate" barato.

    O/A teu/tua companheiro/a pode cair seduzido/a por outro/a por complexo de inferioridade, por monotonia do amor familiar, por exibicionismo e mimetismo (para imitar outros homossexuais amigos), por falta de atenção recebida por parte do/a companheiro/a.

    O/A companheiro/a infiel perde todo o direito de exigir integridade ao/à seu/sua companheiro/a. Se ele/a "faz" outros/as homossexuais, então outros/as podem aproveitar-se do/a seu/sua companheiro/a.

 

  • Sentido da fidelidade. O verdadeiro amor do casal homossexual exige exclusividade. A infidelidade é produto das nossas sociedades excessivamente materialistas e mediatizadas, embora igualmente fruto da fraqueza humana.

    A fidelidade deve atingir não apenas a carne, mas ainda a mente e o coração. A traição da mente e do coração preparam a traição carnal. Para todos os casais homossexuais que caem, por culpa de um dos membros ou de ambos, que possa ser o perdão reparador e uma força para uma nova luta. Mas não se pode abusar do perdão. "Vai e não tornes a pecar".

 

 

Amor e dinheiro

 

Ambos os membros do casal homossexual devem incluir na sua partilha os bens materiais. Tudo é dos dois, tudo é "nosso": nada é "meu".

 

O casal deve dialogar sobre o uso do dinheiro e as finanças da casa. É bom fazer um orçamento anual ou trimestral. Que as despesas não ultrapassem as receitas. Tanto a miséria como a abundância em excesso são más conselheiras. Por vezes, reina a paz e a harmonia no meio das dificuldades monetárias, entrando com o dinheiro a guerra. Quando a vida corre bem, NUNCA o casal homossexual deve pensar que dinheiro é sinónimo de felicidade.

 

 

Amor e diálogo

 

O amor deve caminhar para a unidade. Tendo escolhido uma vida em comum, os dois tornam-se num só. Contudo, apesar de serem um, continuam a ser duas pessoas. Aqui reside o paradoxo existencial do casal homossexual: um e dois ao mesmo tempo, convergência e divergência, encontro e desencontro.

 

Somente na unidade o amor do casal homossexual encontra plena realização e felicidade. O casal tem de chegar a uma inteligência comum, a uma vontade comum, sentimento comum, corpo comum, liberdade comum, espiritualidade, educação, enfim, atingir uma comunhão de vida, sob pena da relação se começar a tornar num inferno constante.

 

A unidade do casal homossexual é exigida pela própria natureza do amor, pela vida em comum, pela paz e harmonia do casal, fazendo do "eu" e do "tu" um "nós".

 

Se não se atinge esta fusão de corpo e alma ou ao menos um equilíbrio feito de tensão e harmonia, o casal homossexual pode chegar à incomunicabilidade e ao silêncio que surge geralmente depois dos dois ou três primeiros anos de vida em comum, minando progressivamente o lar.

 

É necessário derrubar estas barreiras e barricadas, construir pontes, converter-se sinceramente ao amor, através do diálogo e do perdão. Caso contrário, o lar ameaçará ruínas.

 

Mas atenção unidade do casal homossexual, não é sinónimo de unicidade. O casal deve convergir para a unidade, o que não significa que qualquer um dos elementos do casal homossexual deva renunciar à sua própria personalidade, àquilo que lhe é especificamente próprio. Unidade na diversidade. Complementaridade.

 

A beleza e harmonia não estão na igualdade mas na complementaridade dos membros do casal homossexual. Se não se unem, isso deve-se ao egoísmo, aos caprichos, prepotências e má vontade.

 

Sendo ambos os membros do casal homossexual diferentes e devendo viver uma vida lado a lado, é necessário um esforço contínuo de mútuo conhecimento e aceitação. Esta comunicação chama-se diálogo.

 

 

Dialogar para quê?

 

Amar é dialogar, pois o diálogo é o alimento do amor. Dialogar é crescer e fazer crescer, o que permite derrubar muralhas e construir pontes.

 

Toda a pessoa é como um "iceberg", cuja superfície visível é diminuta em relação à parte oculta. O nosso "inconsciente" torna-nos escondidos a nós mesmos, dificultando por isso o diálogo. O indivíduo tem de estar atento aos seus "mecanismos de defesa" que perturbam o diálogo.

 

O que é dialogar?

 

Dialogar é:

  • ter capacidade de amar, de simpatizar e sintonizar;
  • respeitar e confiar no/a companheiro/a que se ama;
  • ser autêntico (ser o que se é diante de si e dos outros);
  • saber ouvir sem julgar (o julgamento destrói; por outro lado, a atenção, o respeito, a mútua ajuda, a confiança, constrói);
  • dar-se a conhecer (abrir-se ao/à companheiro/a que se ama);
  • dizer sempre a verdade na caridade;
  • pôr-se no lugar ou na "pele" do outro;
  • não querer impor, mas apenas propor o seu ponto de vista;
  • saber ceder quando o outro tem razão;
  • autoconhecer-se e auto-aceitar-se, para poder conhecer e aceitar os outros;
  • depor as "armas" para abraçar (de "armas" na mão não nos podemos abraçar).

 

Como dialogar?

 

O diálogo deve ser:

  • humilde: antes de acusar, acusar-se; antes de criticar, criticar-se. Anteceder as críticas por um elogio sincero. O orgulho e a soberba matam o diálogo à nascença;
  • paciente: amar é ter paciência, é começar sempre de novo, é perdoar. É preciso tratar pacientemente das feridas;
  • sereno e calmo: a verdade não se impõe aos gritos (normalmente quem mais se exalta, menos razão tem); no diálogo não se contra-ataca;
  • simpático e caloroso: o diálogo floresce melhor num clima acolhedor, leal e aberto, de parte a parte;
  • sincero, leal e fiel: o diálogo não suporta a mentira ou a traição, não fica com cartas na manga para jogar mais tarde, talvez à traição;
  • oportuno, procurando o melhor momento, quando reina a calma e a intimidade. Em clima de fortes emoções não vinga o diálogo. É preciso esperar, sem desabafar "quando já não se pode mais". E nem toda a verdade é para ser dita (nem sempre o silêncio sobre a verdade significa mentira, mas antes escolher o menor dos males, quando o outro não é capaz de suportar a verdade);
  • constante e regular: é necessário reservar tempo para o diálogo uma vez por semana ou quinzenalmente. O melhor lugar é fora de casa, em ambiente de serenidade, talvez durante o almoço;
  • renovado, evitando a rotina dos temas. Há motivos a ser constantemente abordados - amor no casal, por exemplo - mas pode dar-se precedência e exclusividade a um assunto determinado, para ser mais aprofundado, ou a outra questão premente;
  • preparado: não partir para o diálogo sem uma disposição interior de recetividade, abertura e perdão.

 

Razões por que não se dialoga...

  • mentalidade machista por parte do/a companheiro/a "ativo/a". Ele/a acha-se o rei que pode, quer e manda. Ao/À companheiro/a "passivo /a"somente lhe resta obedecer. Isto é claramente um erro pois o casal homossexual deve reger-se democraticamente, tendo ambos os seus membros direitos e deveres. O diálogo é a melhor forma de educação;
  • diferenças psicológicas. O/A companheiro/a ativo/a pode ser mais reservado, ao passo que o/a companheiro/a passivo/a poderá ser mais comunicativo/a, sentindo necessidade de falar. O/A companheiro/a ativo/a deverá atender a este desejo do/a seu/sua companheiro/a passivo/a, enquanto este/a se deverá esforçar por evitar falar em excesso;
  • maior sensibilidade do/a companheiro/a passivo/a, que facilmente chora. O/A companheiro/a ativo/a, sentindo-se incomodado/a, evita falar, para não perturbar o/a companheiro/a passivo/a. O/A companheiro/a passivo/a nunca deve fazer do choro uma arma;
  • falta de confiança, pudor e reserva doentios, medo de ferir o outro ou de que seja "pior a emenda que o soneto", que algum dos/as companheiros/as possa usar de represálias, tornando-se ainda pior. É necessário, apesar de tudo, tentar o diálogo, pois à tempestade pode seguir-se a bonança;
  • tabus que levam a evitar conversas sobre a intimidade sexual, as manifestações de carinho, o ciúme, a infidelidade, as chantagens (do choro, da recusa sexual, do silêncio, do dinheiro...). É necessário que o diálogo atinja todas as coisas, mesmo as mais secretas, embora esperando o momento mais oportuno, que em determinadas circunstâncias pode não se proporcionar facilmente;
  • falta de tempo. É insensato utilizar este argumento para adiar, muitas vezes indefinidamente, o diálogo aberto e frontal sobre o andamento do casal. É sempre tempo de amar. Sem diálogo o amor definha;
  • orgulho, o amor próprio, soberba, medo de dar o braço a torcer. A verdade acima de tudo. À hora da decisão, tem de haver humildade e magnanimidade, mesmo quando for impossível concordar ao nível das ideias. A unidade de ação, é condição indispensável para uma boa educação do casal.

 

Decálogo do diálogo

 

Se, apesar de toda a boa vontade, o diálogo começa a correr mal ou caiu num impasse, é melhor adiá-lo, porque em atmosfera tensa não é possível uma conversa saudável.

 

Vejamos, agora, aquilo a que se poderia chamar os dez mandamentos do diálogo:

 

    1. amar o/a nosso/a companheiro/a sobre todas as coisas;
    2. não invocar preconceitos ou coisas já enterradas;
    3. considerar como sagrado o tempo destinado ao diálogo;
    4. honrar-se e respeitar-se mutuamente;
    5. não matar o clima de paz e de concórdia através de expressões agressivas ou do silêncio amuado;
    6. saber escutar antes de falar;
    7. não criticar antes de elogiar;
    8. não levantar falsos testemunhos, interpretando mal as atitudes do outro;
    9. ser capaz de perdoar e recomeçar sempre um novo caminho;
    10. não fazer comparações odiosas com outros casais.

 

 

As relações sexuais

 

Pode descrever-se o desenrolar típico do ato sexual em três fases: prelúdio, fusão e "poslúdio".

 

 

1. O prelúdio

 

Fase indispensável sem a qual a união seria apenas a saciedade de um instinto egocêntrico e brutal, o prelúdio permite a cada um atingir em conjunto um estado simultâneo de tensão erótica e de ternura. Isto supõe a existência de um clima de intimidade afetuosa. As carícias podem incidir sobre todo o corpo (conforme abordado noutro local deste 'site'). Concentram-se em zonas erógenas, isto é zonas cuja excitação é capaz de provocar maior prazer (p. ex.: nuca, orelhas, região lombar, axilas, face interna das coxas, seios, mamilos, órgãos genitais. Há na carícia algo mais do que o prazer que proporciona a cada um. Quando os corpos começam a conhecer-se, cada um aprende a adivinhar através da sua carícia o desejo do outro e tudo se passa como se o prazer experimentado não fosse somente o próprio, mas também o do outro.

 

 

2. A fusão

 

Quando se chega a esta fase, o desejo de fusão, de penetração, de união, pode concretizar-se. O pénis em ereção penetra no ânus (já lubrificado) ou coloca-se entre as coxas. O prazer desta fase é vivo e vai ainda acentuar-se graças aos movimentos de vaivém que se repetem até ao orgasmo. O orgasmo é a sensação de prazer intenso provocado pela contração dos músculos que rodeiam a próstata, que origina a evacuação do esperma (ejaculação). O orgasmo é acompanhado de reações de todo o corpo. O coração bate mais depressa, a respiração torna-se ofegante. Durante um instante, é a união perfeita de um casal homossexual.

 

 

3. O poslúdio ou o regresso à calma

 

O poslúdio expressa a unidade do casal que se desejou e que continua unido pela ternura. Bastam algumas palavras, alguns gestos duma das partes para provar à outra que continua a existir para ele, para lá da satisfação do seu desejo.

 

 

A harmonia sexual - O orgasmo será mais intenso se a ejaculação de ambos se produzir em simultâneo, isto é, se houver conjugação exata dos dois prazeres. É esta simultaneidade dos prazeres que se chama harmonia sexual. Convém informar que a existência de um desfasamento é natural. A procura da simultaneidade do orgasmo tem um significado importante: é preciso que ambos os membros do casal homossexual se encaminhem pouco a pouco no mesmo ritmo para o êxtase final que vão viver, não só simultaneamente, mas também de maneira que cada um experimente o prazer do outro, ao mesmo tempo que lho proporciona. Progressivamente o casal aprenderá a suplantar o desfasamento inicial: uma certa habituação dos corpos, um conhecimento do pudor do outro, permitem chegar a uma verdadeira harmonia, que necessariamente se adquire com o decorrer do tempo e com o conhecimento mútuo.

 

 

 

 

(c) José Leote (Rumos Novos)

Referência bibliográfica: Oliveira, B. (1990). Grande Mistério. 8-ª ed. Carvalhos: Seminário do Coração de Maria

 

26 de Junho, 2014

B. Sobre as uniões entre pessoas do mesmo sexo

Rumos Novos - Católic@s LGBTQIA+ em Ação

 

III ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA DO SÍNODO DOS BISPOS

OS DESAFIOS PASTORAIS DA FAMÍLIA 
NO CONTEXTO DA EVANGELIZAÇÃO

INSTRUMENTUM LABORIS

 

Reconhecimento civil

110. Nas respostas das Conferências Episcopais acerca das uniões entre pessoas do mesmo sexo, há referências ao ensinamento da Igreja. «Não existe nenhum fundamento para equiparar ou estabelecer analogias, mesmo remotas, entre as uniões homossexuais e o plano de Deus sobre o matrimónio e a família. [...] No entanto, os homens e as mulheres com tendências homossexuais “devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Deve evitar-se, para com eles, qualquer atitude de injusta discriminação”» (CDF, Considerações sobre os projectos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais, 4). Das respostas pode-se deduzir que o reconhecimento por parte da lei civil das uniões entre pessoas do mesmo sexo depende em grande parte do contexto sociocultural, religioso e político. As Conferências Episcopais assinalam três contextos: um primeiro é aquele no qual prevalece uma atitude repressiva e penalizadora em relação ao fenómeno da homossexualidade em todos os seus aspectos. Isto é válido de modo particular onde a manifestação pública da homossexualidade é proibida pela lei civil. Algumas respostas indicam que também neste contexto existem formas de acompanhamento espiritual de indivíduos homossexuais que procuram a ajuda da Igreja.

 

111. Um segundo contexto é aquele em que o fenómeno da homossexualidade apresenta uma situação fluida. O comportamento homossexual não é punido, mas tolerado somente enquanto não se torna visível ou público. Neste contexto, geralmente não existe uma legislação civil relativa às uniões entre pessoas do mesmo sexo. Mas especialmente no Ocidente, no âmbito político, existe uma orientação crescente em vista da aprovação de leis que prevêem as uniões registadas ou o chamado matrimónio entre pessoas do mesmo sexo. A favor de tal visão aduzem-se motivos de não discriminação; atitude que é entendida pelos crentes e por grande parte da opinião pública, na Europa centro-oriental, como uma imposição por parte de uma cultura política ou alheia.

 

112. Um terceiro contexto é aquele em que os Estados introduziram uma legislação que reconhece as uniões civis ou os matrimónios entre pessoas homossexuais. Existem países nos quais se deve falar de uma verdadeira redefinição do matrimónio, que reduz a perspectiva sobre o casal a alguns aspectos jurídicos como a igualdade dos direitos e da “não-discriminação”, sem que haja um diálogo construtivo sobre as relativas questões antropológicas, e sem que no centro esteja o bem integral da pessoa humana, de modo particular o bem integral das crianças no seio destas uniões. Onde existe uma equiparação jurídica entre matrimónio heterossexual e homossexual, o Estado muitas vezes permite a adopção de filhos (filhos naturais de um dos parceiros, ou filhos nascidos através de fecundação artificial). Este contexto está particularmente presente na área anglófona e na Europa central.

 

A avaliação das Igrejas particulares

113. Todas as Conferências Episcopais se expressaram contra uma “redefinição” do matrimónio entre homem e mulher, através da introdução de uma legislação que permita a união entre duas pessoas do mesmo sexo. Existem amplos testemunhos dados pelas Conferências Episcopais acerca de um equilíbrio entre o ensinamento da Igreja sobre a família e uma atitude respeitosa e não julgadora em relação às pessoas que vivem nestas uniões. No seu conjunto, tem-se a impressão de que as reacções extremas a tais uniões, tanto de condescendência como de intransigência, não facilitaram o desenvolvimento de uma pastoral eficaz, fiel ao Magistério e misericordiosa para com as pessoas interessadas.

 

114. Um factor que indubitavelmente interroga a acção pastoral da Igreja e torna complexa a busca de uma atitude equilibrada em relação a esta realidade é a promoção da ideologia do gender, que nalgumas regiões tende a influenciar até o âmbito educacional primário, difundindo uma mentalidade que, por detrás da ideia de remoção da homofobia, na realidade propõe uma subversão da identidade sexual.

 

115. A propósito das uniões entre pessoas do mesmo sexo, muitas Conferências Episcopais oferecem diversas informações. Nos países em que existe uma legislação das uniões civis, muitos fiéis exprimem-se a favor de uma atitude respeitosa e não julgadora em relação a estas pessoas, e em benefício de uma pastoral que procure acolhê-las. No entanto, isto não significa que os fiéis estão a favor de uma equiparação entre matrimónio heterossexual e uniões civis entre pessoas do mesmo sexo. Algumas respostas e observações exprimem a preocupação de que o acolhimento na vida eclesial das pessoas que vivem nestas uniões poderia ser interpretado como um reconhecimento da sua união.

 

Algumas indicações pastorais

116. A respeito da possibilidade de uma pastoral a favor destas pessoas, é necessário distinguir entre aquelas que fizeram uma escolha pessoal, muitas vezes atormentada, e que a vivem com delicadeza para não dar escândalo aos outros, e um comportamento de promoção e publicidade concreta, frequentemente agressiva. Muitas Conferências Episcopais sublinham que, sendo o fenómeno relativamente recente, não existem programas pastorais a este propósito. Outras admitem um certo embaraço diante do desafio de ter que conjugar acolhimento misericordioso das pessoas e afirmação do ensinamento moral da Igreja, com uma cura pastoral apropriada, que inclua todas as dimensões da pessoa. Alguns recomendam que não se faça coincidir a identidade de uma pessoa com expressões como “gay”, “lésbica” ou “homossexual”.

 

117. Muitas respostas e observações exigem uma avaliação teológica que dialogue com as ciências humanas, para desenvolver uma visão mais diferenciada do fenómeno da homossexualidade. Não faltam pedidos de que se aprofunde, também através de organismos específicos, como por exemplo as Pontifícias Academias das Ciências e para a Vida, os sentidos antropológico e teológico da sexualidade humana e da diferença sexual entre homem e mulher, capaz de fazer face à ideologia do gender.

 

118. O grande desafio será o desenvolvimento de uma pastoral que consiga manter o justo equilíbrio entre acolhimento misericordioso das pessoas e acompanhamento gradual rumo a uma autêntica maturidade humana e cristã. Neste contexto, algumas Conferências Episcopais fazem referência a determinadas organizações como modelos bem sucedidos de tal pastoral.

 

119. De modo cada vez mais urgente, apresenta-se o desafio da educação sexual nas famílias e nas instituições escolares, particularmente nos países onde o Estado tende a propor, nas escolas, uma visão unilateral e ideológica da identidade de género. Nas escolas ou nas comunidades paroquiais dever-se-iam activar programas formativos para propor aos jovens uma visão adequada da maturidade afectiva e cristã, nos quais enfrentar também o fenómeno da homossexualidade. Ao mesmo tempo, as observações demonstram que ainda não existe um consenso na vida eclesial, a respeito das modalidades concretas do acolhimento das pessoas que vivem em tais uniões. O primeiro passo de um processo lento seria o da informação e da identificação de critérios de discernimento, não somente a nível dos ministros e dos agentes pastorais, mas também no plano dos grupos ou movimentos eclesiais.

 

Transmissão da fé às crianças em uniões de pessoas do mesmo sexo

120. Deve-se relevar que as respostas recebidas se pronunciam contra uma legislação que permita a adopção de filhos por parte de pessoas em união do mesmo sexo, porque vêem em perigo o bem integral do filho, que tem direito a ter uma mãe e um pai, como foi recordado recentemente pelo Papa Francisco (cf. Discurso à Delegação do departamento internacional católico da infância, 11 de Abril de 2014). Todavia, caso as pessoas que vivem nestas uniões peçam o baptismo para o filho, as respostas, quase unanimemente, ressaltam que o filho deve ser acolhido com as mesmas atenção, ternura e solicitude que recebem os outros filhos. Muitas respostas indicam que seria útil receber directrizes pastorais mais concretas para estas situações. É evidente que a Igreja tem o dever de averiguar as condições reais em vista da transmissão da fé ao filho. Caso se alimentem dúvidas racionais sobre a capacidade efectiva de educar cristãmente o filho por parte de pessoas do mesmo sexo, garanta-se o apoio adequado – como de resto é exigido de qualquer outro casal que pede o baptismo para os seus filhos. Neste sentido, uma ajuda poderia vir também de outras pessoas presentes no seu ambiente familiar e social. Nestes casos, a preparação para o eventual baptismo do filho será particularmente cuidada pelo pároco, também com uma atenção específica na escolha do padrinho e da madrinha.