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Associação RUMOS NOVOS - Católicas e Católicos LGBTQ (Portugal)

Somos católic@s LGBTQ que sentiram a necessidade de juntos fazerem comunhão, partilhando o trabalho e as reflexões das Sagradas Escrituras, caminhando em comunidade à descoberta de Deus revelado a tod@s por Jesus Cristo.

14 de Julho, 2015

Cristianismo sem homofobia

Rumos Novos - Católic@s LGBTQIA+ em Ação

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Todas as religiões devem lutar explícita e ativamente contra a homofobia, perseguições e agressões contra as pessoas homossexuais. É uma questão de vida ou morte. Não é uma questão de doutrina mas de justiça e solidariedade. Grupos extremistas fazem tudo para que a Igreja católica se radicalize e não querem que mostre o menor gesto de amizade para com os cristãos homossexuais.

São as religiões as principais fontes de homofobia no mundo? Tanto crentes como não crentes e tanto homossexuais como heterossexuais coincidiriam que sim. Nos 70 países onde a homossexualidade ainda é perseguida penalmente e os 8 que a castigam com pena de morte, há uma religião que dá o principal suporte moral e doutrinal a tal repressão. Não temos mais que recordar horrorizados as execuções de pessoas homossexuais lançadas de torres e terraços pelos fundamentalistas do ISIS. Mas o problema não é só muçulmano: em países de tradição cristã, os delitos de ódio contra homossexuais são cometidos principalmente por fundamentalistas cristãos e a principal fonte de homofobia procede de núcleos cristãos. As religiões e fóruns ecuménicos teriam que atuar decidida e explicitamente contra os delitos de ódio contra pessoas homossexuais em todo o planeta. Um olhar ao passado e o presente não pode senão provocar uma palavra pública de perdão do cristianismo às pessoas homossexuais pela sua repressão sistemática. O posicionamento das religiões é crucial para travar uma homofobia que continua sendo insuportável.

Desde o início do século XXI, cada 2 dias uma pessoa homossexual é assassinada violentamente no mundo pela sua condição sexual. Em países como México chega-se a assassinar 200 pessoas homossexuais por ano. Dados de 365gay.com assinalam que no Reino Unido 17% dos adolescentes homossexuais sofreram ameaças de morte. Na Alemanha 66% dos jovens homossexuais menores de 27 anos foi agredido por membros da sua própria família e 27% foram vítimas de provocação dos seus professores. Essa intensa violência contra os homossexuais é crime. Não deve ser só objeto de condenação mas que qualquer pessoa de boa vontade deve pôr a sua pessoa, palavra e ações contra ela.

Os efeitos da violência e discriminação contra as pessoas homossexuais produzem também um efeito de uma auto-violência de extensa repercussão: na Escócia metade dos jovens homossexuais (15-26 anos) recordam ter tido uma tentativa de suicídio. Na Irlanda foi um terço. Na França 27% dos homossexuais menores de 20 anos tentaram suicidar-se e na Alemanha a percentagem é de 18% para os homossexuais menores de 27 anos.

É a violência contra as pessoas homossexuais um fenómeno em retrocesso? Por um lado, a tolerância cresce em todo o mundo em termos absolutos, mas por outro lado há núcleos confessionais que estão intensificando a oposição contra o movimento LGBT, a legitimação das suas relações e da sua presença explícita na Igreja. Algumas iniciativas cristãs instam expressamente o ódio contra os homossexuais. Um caso extremo é a igreja batista de Kansas, onde a sua plataforma “God Hates Fags” é conhecida em todo o país.

82% dos norte-americanos evangelistas y pentecostais consideram que a homossexualidade en si mesma é pecado enquanto que também o pensa 29% de outras religiões e confissões cristãs como os católicos (o dado é  LifeWay Research, una companhia cristã de investigação radicada no Tennessee). A oposição do fundamentalismo cristão à homossexualidade está criando um efeito devastador na religiosidade das pessoas homossexuais. Segundo a agência Pew Research (abril 2013) entre as pessoas LGBT há mais do dobro daqueles que não têm nenhuma filiação religiosa. São 20% no conjunto de norte-americanos e 48% entre os norte-americanos LGBT. Isto é, em sentido inverso, entre os norte-americanos LGBT há 52% de pessoas pertencentes a uma confissão religiosa. Mas o extremismo anti-gay está aumentando a desfiliação religiosa e a Esperança vê cortados os seus caminhos.

O discernimento das relações entre o cristianismo e a homossexualidade é complexo mas a homofobia só cria confusão, ódio, divisão, multiplica os estereótipos, destrói todo o respeito e impede a reflexão e o próprio discernimento cristão. Os grupos homófobos criticam duramente quando a Igreja católica é prudente, hospitaleira e inclusiva para com as pessoas homossexuais e as suas reações tratam de provocar medo na Igreja, destruir as pontes de encontro, diálogo e colaboração, e obrigar a Igreja a posicionar-se radicalmente contra a homossexualidade. Os extremistas católicos querem obrigar a que a Igreja se radicalize em reação contra a Pastoral do Coração do papado.

Um caso prático tivemo-lo em Sevilha, onde em 2014 e 2015, a Comunidade de Vida Cristã (CVX) liderou juntamente com o grupo de cristãos LGBT Ichthys uma “vigília de oração por um mundo sem homofobia”. Em 2014 a CVX juntou-se à convocatória para acolher e proteger a Ichthys dos extremistas que tinham ameaçado com um ataque violento se celebrassem a sua vigília de oração. Em 2015 a convocatória já se realizou conjuntamente entre Ichthys e os laicos inacianos unidos globalmente na CVX. Houve uma minoritária mas convulsa reação de católicos que insultaram os que se reuniam a rezar contra a homofobia violenta. Publicamente foram insultados como degenerados, aberrantes, demoníacos, tonto-católicos, blasfemos, repugnantes, atribuiu-se-lhes uma “pastoral sodomo-gomorrita”, chamou-se covardes aos bispos e atacou-se o Papa Francisco dizendo que ao responder ao seu “quem sou eu para os jugar” instalou a confusão no papado. A CVX situou a pastoral com pessoas homossexuais como prioridade mundial e no Chile criou ferramentas pastorais expressamente assumidas pela Conferência Episcopal Chilena.

A Igreja católica experimentou como algumas estratégias cautelosas criaram uma maior divisão em toda a população e dentro do mundo católico romperam pontes de reflexão, polarizando e tornando impossível o diálogo, gerando extremismos em ambos os lados e destruindo a possibilidade de discernimento e deliberação públicas. Agora há um poderoso lobby católico que quer aplicar a mesma estratégia polarizadora à questão LGBT. O fracasso será tanto ou mais grave que o que conseguiram em matérias como o aborto e outros assuntos bio familiares. Há outra via possível, mais evangélica e menos ideológica, mais pastoral e menos tática. Coincidir em pontos comuns como a luta sem ambiguidades contra a homofobia é uma oportunidade para criar os encontros onde se possa discernir e atuar em colaboração. A Igreja deveria associar-se às vigílias de oração contra a homofobia. O próprio Cristo poria o seu corpo no meio das pedras para defender as vítimas homossexuais. Como Ele, porá a Igreja todo o seu corpo no meio contra a homofobia?

 

Fonte: Entre Paréntesis