NOTA À IMPRENSA
Coordenação Nacional de Rumos Novos – Católicas e Católicos LGBT (PORTUGAL)
PARA DIVULGAÇÃO IMEDIATA
Lisboa/ Portimão, 16 de novembro de 2017
CATÓLICAS E CATÓLICOS LGBT TOMAM POSIÇÃO PÚBLICA FACE AO Comunicado final da 193.ª Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa
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Rumos Novos – Católicas e Católicos LGBT portugueses, manifesta publicamente a sua fraternal e respeitosa discordância com as palavras proferidas pelo Sr. Cardeal Patriarca, na conferência de imprensa que encerrou a 193.ª Assembleia Plenária da CEP, respeitantes à admissão de pessoas de orientação homossexual nos seminários.
Em vários momentos desta conferência de imprensa sublinhou o Sr. Cardeal Patriarca que a quem tem «essa tendência» é «melhor não criar a ocasião», implicitamente afirmando que as pessoas de orientação homossexual, sacerdotes ou futuros sacerdotes, terão menor capacidade no exercício da sua atividade pastoral, em função de eventualmente terem menor capacidade de «controlar» a sua sexualidade. Aliás, já neste sentido se pronúncia o documento (Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis – O Dom da Vocação Presbiteral) analisado nesta assembleia plenária da CEP quando afirma «Estas pessoas [homossexuais] encontram-se, de facto, numa situação que constitui um grave obstáculo a um correto relacionamento com homens e mulheres».
Ora tais afirmações somente contribuem para aumentar o estigma, dentro da igreja, em relação aos fiéis de orientação homossexual, ainda por cima quando o próprio cardeal-patriarca afirma que tal orientação «não é conforme» e que «em Cristo não havia nada de homossexual»
Gostaríamos de recordar que o próprio Catecismo da Igreja Católicas afirma que os fiéis de orientação homossexual «deverão ser acolhidos com compaixão, delicadeza e respeito», o que, por maioria de razão, se deve aplicar igualmente aos candidatos aos seminários.
Gostaríamos igualmente de recordar que os sacerdotes, especialmente os de rito latino (ocidental), ao serem ordenados, adotam um estilo de vida celibatário, que compreende a renúncia do casamento para que se dediquem inteiramente à Igreja. Ora, este compromisso assumido perante o Bispo é válido para todos os sacerdotes, hétero ou homossexuais, e, por isso, ainda mais incompreensível e anacrónico se torna o documento do Vaticano e, com tristeza e mágoa, escutámos as palavras do cardeal-patriarca a este propósito.
Partir deste pressuposto errado de que as pessoas homossexuais que se aproximam dos seminários não podem ser aceites somente em função da sua orientação sexual constitui não somente uma menorização para estas pessoas, mas igualmente um afastamento da mensagem de amor do próprio Cristo, já para não falar que não se respalda em qualquer base científica.
Ao proceder deste modo, a igreja institucional esquece-se da sua primordial missão de pastoreio de todo o povo de Deus e dá, antes, voz ao seu preconceito e, implicitamente trazendo à tona a insinuação de que, de alguma forma, os recentes escândalos de pedofilia no seio da Igreja católica se encontram relacionados com a homossexualidade. Ora esta analogia implícita, não é verdadeira e contribui seriamente para a estigmatização das pessoas de orientação homossexual.
Na Rumos Novos – Católicas e Católicos LGBT conhecemos muitos sacerdotes homossexuais, que se entregam seriamente ao seu ministério, mas também conhecemos muitos outros com afilhados, sobrinhos, governantas e afins, aos quais, muitas vezes, se olha para o outro lado. Qual é mais fiel a Cristo e ao ensinamento da Igreja?
Apraz-nos recordar aqui e agora as palavras, proferidas há escassos dias, por D. José Cordeiro, Bispo da diocese de Bragança-Miranda de que “não podemos enfrentar os desafios de hoje com as respostas de ontem”.
Fraternalmente continuamos a desafiar a Igreja institucional a, de vez, abandonar estas «respostas de ontem» e a, de forma séria, pensar que respostas verdadeiramente tem para os fiéis de orientação homossexual, que vivem celibatários ou na castidade de uma vida familiar; de pensar que respostas verdadeiramente tem para todos os que se aproximam dos seminários, sentindo o chamamento de Cristo, mas cuja orientação é homossexual, ainda que disponíveis para o celibato e veem negada essa aproximação.
Lendo os «sinais dos tempos» como a todos e todas nos desafiou o Vaticano II, é preciso que, de mãos dadas, percorramos este difícil caminho de reflexão e encontro, numa ponte estreita, mas como irmãos e irmãs, pois a isso nos interpela o próprio Cristo e o amor cristão.