O Sínodo aprova «avançar em direção a uma igreja participativa e corresponsável» na qual não votem somente os bispos
O documento final proclama a «mudança inevitável» para um maior papel das mulheres e leigos na Igreja.
Foi um documento próprio de um Sínodo, que procurou o consenso e que o conseguiu. Todos os pontos superaram, com larga margem, os dois terços exigidos e o documento final foi aprovado com 191 votos a favor e 43 contra. De referir que dos 268 padres sinodais, cerca de uma vintena não votaram.
Os pontos mais polémicos, e que contaram com mais votos contra, foram os relacionados com a sinodalidade, os abusos sexuais, o papel da mulher e, especialmente, o ponto 150, que diz respeito aos homossexuais, onde 65 padres sinodais votaram contra e 178 a favor. No mesmo, sublinha-se que «há questões sobre o corpo, a afetividade e a sexualidade que requerem uma elaboração antropológica, teológica e pastoral mais profunda», entre os quais se destacam os relacionados com «a diferença e a harmonia entre a identidade masculina e feminina e as inclinações sexuais».
Neste sentido, «o Sínodo reafirma que Deus ama cada pessoa e também o faz a Igreja, renovando o seu compromisso contra a discriminação e a violência com base sexual». Considera ainda que «é redutor definir a identidade das pessoas a partir da sua orientação sexual».
«Em muitas comunidades cristãs já há caminhos de acompanhamento na fé das pessoas homossexuais: o Sínodo recomenda o encorajamento destes caminhos», assinala o documento, que pede que se auxilie estas pessoas «a ler a sua própria história; a aderir livre e responsavelmente ao chamamento batismal; a reconhecer o desejo de pertença e contribuição à vida da comunidade; a discernir as melhores formas para que isto suceda». Desta forma «ajudamos a que nenhum jovem seja excluído, a integrar cada vez mais a dimensão sexual na sua personalidade, crescendo na qualidade das relações e caminhando até ao dom de si mesmo».
No que diz respeito ao papel da mulher, o documento final admite o desejo de «um maior reconhecimento e valorização das mulheres na sociedade e na igreja» e sublinha que «muitas mulheres desempenham um papel insubstituível nas comunidades cristãs», ainda que «em muitos lugares é difícil dar-lhes espaço nos processos de tomada de decisões, mesmo quando não requerem responsabilidades ministeriais específicas».
«A ausência da voz e do olhar femininos empobrecem o debate da Igreja e o caminho, subtraindo ao discernimento uma contribuição preciosa», pelo que o Sínodo «recomenda que todos se mostrem mais conscientes da urgência de uma mudança inevitável, também a partir de uma reflexão antropológica e teológica sobre a reciprocidade entre homens e mulheres».
No que concerne aos abusos sexuais, o documento aponta que «é um fenómeno muito espalhado na sociedade, que também afeta a Igreja e representa um obstáculo sério à sua missão». Deste modo, «o Sínodo reafirma o seu firme compromisso com a adoção de medidas preventivas rigorosas que impeçam a sua repetição, a partir da seleção e capacitação daqueles que estão encarregues das responsabilidades e tarefas educativas».
«Há diferentes tipos de abuso: poder, económico, consciência, sexual» e «a tarefa de erradicar as formas de exercício da autoridade em que se exercem e de contrariar a evidente falta de responsabilidade e transparência com que abordaram muito casos». No que diz respeito às causas, o documento aponta o clericalismo que «surge a partir de uma visão de vocação elitista e de exclusão, que interpreta o ministério recebido como um poder para exercer em vez de um serviço livre e generoso para oferecer; e isto leva-nos a acreditar que pertencemos a um grupo que tem todas as respostas e já não necessita escutar e aprender nada, ou que finge escutar».
Sobre a sinodalidade, o documento convida «as Conferências Episcopais e as Igrejas particulares a continuarem este caminho, participando em processos de discernimento comunitário que também incluem, nas deliberações, aqueles que não são bispos». Neste ponto, o Sínodo quer abrir-se «aos jovens marginalizados e aos que têm pouco ou nenhum contacto com as comunidades eclesiais». «Esperamos que estes caminhos envolvam as famílias, institutos religiosos, associações, movimentos e aos próprios jovens, para que se propague a «chama» daquilo que experimentamos nos últimos dias».
Deste modo, o texto final apela ao «despertar» da sinodalidade, que é uma «dimensão constitutiva da igreja». Devido a ela «a igreja está chamada a assumir um rosto relacional que se centra em escutar, acolher, no diálogo, no discernimento comum num processo que transforma as vidas dos que nela participam», para construir «uma Igreja de escuta, tendo plena consciência de que escutar é mais do que sentir».
«É uma escuta mútua na qual todos temos algo a aprender. Fiéis, Colégio Episcopal, Bispo de Roma: uma escuta aos outros; e todos escutando o Espírito Santo», proclama o Sínodo, que pede que se «avance em direção a uma Igreja participativa e corresponsável, capaz de aumentar a riqueza da variedade da qual é composta, recebendo com gratidão a contribuição de fiéis leigos, incluindo jovens e mulheres; aquela da vida consagrada de homens e mulheres e aquela de coletivos, associações e movimentos. Ninguém deve ser colocado de lado».
«Esta é a forma de evitar o clericalismo, que exclui muitos dos processos de tomada de decisões, e a clericalização dos leigos, que os fecha em vez de os lançar em direção ao compromisso missionário no mundo», constata o documento. «O Sínodo pede que se torne efetiva e ordinária a participação ativa dos jovens nos lugares de responsabilidade das igrejas particulares, assim como nos organismos das Conferências Episcopais e da Igreja universal», acrescenta o texto, que pede «o estabelecimento de um corpo representativo da juventude a nível internacional».
Texto de:Jesús Bastante
Tradução do espanhol: José Leote (Rumos Novos)