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Associação RUMOS NOVOS - Católicas e Católicos LGBTQ (Portugal)

Somos católic@s LGBTQ que sentiram a necessidade de juntos fazerem comunhão, partilhando o trabalho e as reflexões das Sagradas Escrituras, caminhando em comunidade à descoberta de Deus revelado a tod@s por Jesus Cristo.

25 de Novembro, 2018

Igreja e Homofobia

Rumos Novos - Católic@s LGBTQIA+ em Ação

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Ontem publiquei um twitt. Uma frase só: «Basta de homofobia na Igreja». Imediatamente encontrei-me perante um monte de respostas. Algumas positivas. Outras, muitas, negativas. Entre as negativas, algumas respeitosas para comigo, mas que discutiam a minha afirmação. «Na Igreja não há homofobia» - diziam uns. Outros questionavam como é que um sacerdote podia afirmar algo assim a respeito da Santa Mãe Igreja. Por acaso sou um herege, um bombista, um apóstata encoberto? (sim, tudo isto pude ler). De imediato, também alguém perguntava: será que, por acaso, falo por mim? Também havia insultos, ainda que sobre isto, como sempre faço perante as faltas de respeito pessoais, prefiro silenciar e bloquear. Alguns instigavam-me a reler o catecismo. Outros diziam que a Igreja é quem cuida dos doentes de SIDA - obrigado pela aclaração, eu mesmo estive vários anos numa casa da Caritas, fazendo várias noites por semana e acompanhando pessoas com HIV, nos anos 90, quando a Igreja era a única instituição que preocupava com as pessoas doentes. (Certamente que a SIDA não é património das pessoas homossexuais).

 

Sei tudo isto. E amo a Igreja, da qual me sinto parte. E alegram-se os passos que se vão dando, uma maior sensibilidade e afirmações como as do último Sínodo dos Jovens, que no documento final insiste que «Deus ama cada pessoa e o mesmo faz a Igreja, renovando o seu compromisso contra a discriminação e a violência devido a razões sexuais». Contudo, na Igreja há homofobia. Isto não é o mesmo que dizer que na Igreja somente há homofobia. Porque, efetivamente, na Igreja também há acolhimento e respeito. Há pessoas, instituições e grupos que acolhem. Porém, infelizmente, há pessoas que rejeitam e discriminam. Numa instituição plural como esta, há pessoas que manifestam em relação às pessoas homossexuais atitudes hostis e de insulto, às vezes sem sequer se darem conta disso.

 

Alguém me perguntava: «Poderias definir homofobia?» Para a definir basta somente ler algumas das respostas que recebi. Há quem tenha aproveitado para estabelecer paralelismos, comparando a homossexualidade com o assassínio ou com o roubo. Também há quem tenha regressado ao argumento do passado que homossexualidade é sinónimo de doença. E, claro, estão todos os que imediatamente ligaram homossexual com pedófilo. E, mesmo assim, contestam se há homofobia no seio da Igreja? Sim, infelizmente, há muitos cristãos que não respeitam as pessoas homossexuais. Os mesmo que exigem o celibato para a vida para as pessoas de orientação homossexual, afirmam, sem corarem, que os homossexuais não podem ser tidos em consideração para o sacerdócio porque não são capazes de uma vida celibatária. A sério? Não existe uma certa contradição entre ambas as exigências?

 

Honestamente, sei que as polémicas podem ser ocasião para os insultos. Mas podem também ser ocasião para a reflexão calma a partir do respeito. Para continuarmos a procurar, em Jesus e na Sua Palavra, o que mais pode ajudar-nos a compreender o mundo no qual vivemos e tratarmo-nos a partir do amor radical e incondicional que está no coração do evangelho. Nele somos. E ainda que às vezes possamos ter a tentação de calar e não nos metermos em sarilhos, seguimos um Mestre que não teve medo de levantar a voz.

 

Fonte: Facebook
Autor: José María Rodríguez Olaizola, SJ
Tradução (do espanhol): José Leote (Rumos Novos)

21 de Novembro, 2018

Terapia de conversão em jovens LGBT aumenta o risco de depressão e suicídio

Rumos Novos - Católic@s LGBTQIA+ em Ação

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Os rapazes e raparigas que se identificam como lésbicas, gays, bissexuais e transgénero (LGBT) e passaram por episódios de mudar a sua orientação sexual, normalmente instigados pelos pais ou outras pessoas, registam níveis elevados de depressão e conduta suicida, baixa autoestima, pobre apoio social e satisfação com a vida, para além de níveis mais baixos de educação e entrada na idade de adultos jovens.

 

Os investigadores, que pertencem ao Projeto de Apoio Familiar (FAP) da Universidade Estatal de São Francisco, asseguram que os esforços dos pais acrescentados às intervenções de conversão com o objetivo de mudar a orientação sexual, levados a cabo por terapeutas e alguns responsáveis religiosos, contribuem para o desenvolvimento de múltiplos problemas de saúde e de ajuste na idade adulta jovem.

 

No estudo, cerca de 53% dos rapazes e raparigas LGBT, com idades compreendidas entre os 21 e os 25 anos, relataram ter sido alvo de tentativas para alterar a sua orientação sexual durante a adolescência.

 

Deles, cerca de 21% relataram experiência específicas, com os pais ou cuidadores, para mudar a sua orientação sexual em casa; enquanto que cerca de 32% relatou esforços realizados quer pelos pais quer por terapeutas e responsáveis religiosos.

 

De registar que qualquer esforço para mudar a orientação sexual contribuiu para um maior risco nesta população. Contudo, o risco era maior naqueles que haviam experimentado esforços quer da parte dos pais quer de terapeutas e responsáveis religiosos.

 

O risco de suicídio era de 48% para o grupo onde somente intervinham os pais, enquanto que as pessoas LGBT que não relatavam experiências de conversão era de 22%. Isto é, o risco era significativamente menor neste último grupo.


As coisas pioram quando consideramos o grupo que não somente recebeu a intervenção dos pais, mas também de terapeutas ou grupos religiosos. Neste caso concreto, a percentagem elevava-se a 63%.

 

No que se refere à depressão, as percentagens foram as seguintes:

 

  • 16% para aqueles que não receberam qualquer intervenção.
  • 33% para os que receberam intervenções em casa.
  • 52% para aqueles que receberam intervenção em casa e externamente (terapeuta ou responsável religioso).


Às experiências referidas associam-se igualmente um estatuto socioeconómico mais baixo, refletido em menores graus de educação e de rendimento.

 

Os adolescentes LGBT provenientes de famílias muito religiosas e aqueles oriundos de famílias de baixos recursos eram mais propensos a ter experimentado ambos os tipos de intervenção. Para além disso, os cientistas escrevem que aqueles que eram imigrantes e não estavam conformes com o seu género eram mais propensos a experimentar esforços externos de conversão iniciados por pais ou cuidadores.


O grupo de investigadores sublinha que noutros estudos, os pais relatam que os seus esforços para mudar os jovens LGBT são motivados com a intenção de os proteger, isto é, que fazem o que acreditam ser melhor para os filhos. Contudo, o que se consegue é minar a estima própria destes jovens, contribuir com condutas autodestrutivas que aumentam os riscos e diminuem as capacidades de autoestima (como a sua capacidade em conseguir um melhor estatuto socioeconómico).

 

Caitlin Ryan, principal autora do estudo e diretora do Projeto de Aceitação Familiar, afirma que isto foi o que os motivou a desenvolver um modelo de apoio familiar onde os familiares de jovens LGBT possam aprender a dar-lhes apoio.


Ainda que outros estudos tenham observado um risco maior de suicídio em adolescentes LGBT, esta investigação apresenta uma evidência dramática do efeito negativo duradouro que estas intervenções têm nestas pessoas. Estudos anteriores realizados em adultos mostraram resultados semelhantes, mas aqui vemos igualmente o papel central dos pais, que precisam de mais informação e enquadramento sobre orientação sexual e identidade de género, bem como as consequências devastadoras de algumas intervenções.

 

 

Limitações do Estudo

Os autores nomeiam várias limitações que tiveram ao conduzirem a sua investigação:

 

  1. Os critérios de inclusão não contemplam provavelmente pessoas que atualmente não se sentem confortáveis sendo identificadas como LGBT ou que se identifiquem talvez como tais na adolescência, mas não na idade adulta.
  2. Ainda que se tenha incluído uma medida de religiosidade dos pais, esta não contempla filiações religiosas específicas, que poderiam ajudar a encontrar indicadores do papel dos pais sobre os esforços para mudar a orientação sexual.
  3. Utilizou-se um desenho retrospetivo, isto é, que não se pode falar de causalidade nem descartar a possibilidade de que aqueles que eram mais desalinhados na idade adulta atribuíssem retrospetivamente a algumas condutas parentais o caráter de «tentativas de mudar a orientação sexual». Do mesmo modo não se pode descartar que adultos LGBT melhor adaptados sejam menos propensos a recordar experiências desse tipo.

 

Dados do estudo original: Caitlin Ryan, Russell B. Toomey, Rafael M. Diaz & Stephen T. Russell (2018)Parent-Initiated Sexual Orientation Change Efforts With LGBT Adolescents: Implications for Young Adult Mental Health and Adjustment, Journal of Homosexuality, DOI: 10.1080/00918369.2018.1538407.

 

Fonte: Psychcentral
Tradução do espanhol: José Leote

 

 

 

02 de Novembro, 2018

Estudo internacional constata que maioria dos portugueses cristãos são a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo

Rumos Novos - Católic@s LGBTQIA+ em Ação

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Conclusão consta de um relatório que tem por base um inquérito do Pew Research Center, um grupo de análise americano que se centra em questões sociais, comportamentos e tendências predominantes no mundo.

 

Amplas maiorias de cristãos não praticantes e adultos sem religião na Europa Ocidental são a favor da legalização do aborto e do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Nalguns países não existe mesmo grande diferença, nestas questões, entre as atitudes dos cristãos que raramente vão à igreja e os adultos sem qualquer religião.

 

Por outro lado, em todos os países objeto da sondagem os cristãos que frequentam a igreja são consideravelmente mais conservadores do que quer os cristãos não praticantes quer os adultos sem filiação religiosa, na questão sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

 

A educação tem uma grande influência nas atitudes em relação a esta questão: as pessoas que responderam à sondagem e que possuem com algum grau de instrução têm maior probabilidade de serem a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo, do que aquelas com menor grau de instrução. Por seu turno, as mulheres têm maior probabilidade do que os homens de serem a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

 

Neste estudo, cerca de 60% dos inquiridos portugueses declaram-se favoráveis ao casamento entre pessoas do mesmo sexo - sendo, ainda assim, o nível de aceitação mais baixo na Europa ocidental.

 

Na Europa de leste, o nível de oposição ao casamento homossexual é, entre os jovens adultos (18 a 34 anos) em alguns países, superior a 90%.

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