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Associação RUMOS NOVOS - Católicas e Católicos LGBTQ (Portugal)

Somos católic@s LGBTQ que sentiram a necessidade de juntos fazerem comunhão, partilhando o trabalho e as reflexões das Sagradas Escrituras, caminhando em comunidade à descoberta de Deus revelado a tod@s por Jesus Cristo.

26 de Dezembro, 2019

Uma oração de Natal para (quase) toda a gente

Rumos Novos - Católic@s LGBTQIA+ em Ação

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Meu Deus, sei que é Natal e que é suposto focar-me no nascimento de Jesus, mas mais uma vez o Advento chegou e partiu e tudo o que fiz foi focar-me em tantas coisas.

Portanto, neste natal, por favor ajuda-me a recordar algumas coisas simples, mesmo que esteja cansad@ das compras e das viagens, só devido à falta de amigos e família, doente com uma doença difícil ou pobre devido à falta de trabalho ou de um ordenado decente.

Ajuda-me a recordar que quando te tornaste humano, vieste ao mundo da forma o mais vulnerável possível - como uma criança. Isso significou que estavas totalmente dependente de Maria e de José para cuidarem de ti. E quando deixaste este mundo, despido numa cruz, também estavas vulnerável. Isso mostra o que estavas disposto a fazer somente para me amar.

Foste vulnerável por minha causa.

 

Ajuda-me a recordar que quando vieste a este mundo, isso não aconteceu num clã poderoso da Galileia, não no seio de uma grande família do poder da Judeia e certamente que não numa dinastia real em Roma. Podias ter vindo em poder e exercido esse poder como um erudito, um soldado, um rei ou um imperador. Em vez disso, vieste sem qualquer poder terreno.

Foste impotente por minha causa.

 

Ajuda-me a recordar que podias ter entrado no mundo numa família rica. Não havia necessidade de teres nascido de uma mulher jovem, provavelmente iletrada que era casada com um simples carpinteiro e que vivia numa localidade tão insignificante que um dos teus discípulos fez uma piada sobre isso. Mas escolheste não somente fazer parte de uma família pobre, mas também trabalhar duro durante muitos anos como trabalhador.

Foste pobre por minha causa.

 

Ajuda-me a recordar que passaste a maior parte da tua vida na obscuridade em Nazaré, vivendo a vida do dia a dia e trabalhando como carpinteiro com José. Não eras conhecido. Não decidiste criar um grande nome para ti. Na realidade, os Evangelhos mal referem a tua vida escondida em Nazaré, o local onde passaste os teus primeiros trinta anos. Foi assim que a maior parte da tua vida foi simples, obscura e rotineira.

Foste desconhecido por minha causa.

 

Ajuda-me a recordar que quando te tornaste humano assumiste um corpo humano. Isso significa que sentiste tudo aquilo que esse corpo sentia. Tiveste dores de estômago e de cabeça, constipações e gripes, sentiste fome e sede e sentiste-te cansado no final de um longo dia. Isso significa igualmente que sentiste alegria e tristeza, frustração e raiva, e todas as emoções que qualquer ser humano sente, mesmo na tua divindade.

Foste humano por minha causa.

 

Ajuda-me a recordar que toda a tua vida, desde o teu nascimento até à tua morte na cruz, foi passada em amor. Amaste Maria e José e toda a tua família alargada. Mais tarde, amaste os teus amigos, discípulos e seguidores. Amaste mesmo os teus inimigos e perseguidores. E tiveste um amor muito especial por tod@s aquel@s que eram pobres, doentes, solitári@s, incompreendid@s ou marginalizad@s de qualquer forma. Toda a tua vida foi derramada como uma enorme oferta de amor.

Foste amor por minha causa.

 

Ajuda-me a recordar que te ofereceste sem considerar o custo. Pregaste a boa nova aos pobre, curaste os doentes e partilhaste o futuro reino de Deus com todas e todos. Nem todas as pessoas quiseram escutar a tua mensagem, mas continuaste a proclamá-la até à tua morte. Deste-te por inteiro pela humanidade, mesmo quando te rejeitámos. Deste até o teu corpo e espírito na cruz.

Foste tudo por minha causa.

 

Ajuda-me a recordar que o Natal é somente o início da história. Depois da tua morte, regressaste como O Ressuscitado, para não mais morrer, oferecendo esperança face ao desespero, amor face ao ódio e vida face à morte. A tua ressurreição no Domingo de Páscoa revelou a mesma mensagem que o anjo disse à tua mãe quando lhe anunciou a vinda do Natal: Nada é impossível com Deus!

Estás vivo por minha causa.

 

Meu Deus, sei que nem sempre me recordo destas coisas no Natal. Há tantas emoções rodopiando na minha cabeça nesta altura do ano. Mas quero recordá-las. E acredito que o desejo de as lembrar é em si algo de bom e vem de ti.

Neste Natal, dá-me o dom da memória,

E eu recordar-me-ei que que transformaste em amor por minha causa,

Para que eu possa transformar-me em amor para @s outr@s.

 

Fonte: America Magazine

21 de Dezembro, 2019

Neste tempo do Advento, sei que Deus me aceita como um católico gay. Mas e os outros cristãos?

Rumos Novos - Católic@s LGBTQIA+ em Ação

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No verão passado visitei, pela primeira vez, o Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana. Depois de viajar pelas profundezas de uma história marcada pelo trauma e ainda assim alicerçada na superação, sentei-me a refletir na pátio contemplativo à medida em que as águas da fonte caíam.

Estava fascinado por duas citações brasonadas na parede. A primeira, a profecia lírica de Sam Cooke de que "a mudança virá"; a segunda, a declaração bíblica do Dr. Martin Luther King de que "encontramo-nos determinados... a trabalhar e a lutar até que a justiça caia como água e a retidão como uma corrente poderosa."

Neste Advento, o tempo cristão antes do Natal, senti-me levado de volta ao meu tempo no museu e à autorreflexão que ele inspirou. O Advento é um tempo de antecipação e admiração. É um tempo destinado a preparar os cristãos para a aproximação com Deus - a personificação do amor e da justiça e da equidade.

Este tempo é, para mim, simultaneamente sóbrio e alegre - um homem gay, afro boricua, que é igualmente um fiel católico. A convergência das minhas identidades que se intersetam origina questões profundas à medida em que medito na sabedoria de King e de Cooke e no tema deste tempo de reflexão e antecipação. Esta não é a primeira vez que refleti sobre isto. Há apenas alguns anos, ainda me questionava se podia ser simultaneamente uma pessoa de fé e viver de forma autêntica como homem abertamente gay.

Explorei as catedrais católicas, as igrejas rurais batistas das Caraíbas e as organizações evangélicas em busca de respostas. Decidi sobre o quanto de mim próprio precisava prescindir para ser amado por Deus e pelo Seu povo. Sobrevivi ao abuso espiritual e psicológico da terapia da conversão quando escolhi ficar em determinados espaços religiosos que não eram acolhedores das pessoas LGBTQ e acabei por perder família quando escolhi honrar a minha orientação sexual. Senti que não podia ganhar.

Angustiei-me enquanto esperava que Deus aparecesse com respostas à minha procura persistente pela verdade. É por isto que o Advento sempre ressoou profundamente em mim — porque me lembra desta longa jornada de um desejo ardente desesperado e expectativa por Deus.

 

O meu próprio desejo, procurando por Deus

Enquanto nesta peregrinação, acabei por acreditar que um Deus que me aceite completamente também afirma a total dignidade e humanidade de toda a comunidade LGBTQ, incluindo as pessoas LGBTQ de cor, num mundo e numa igreja que frequentemente não o faz. Cheguei a estas conclusões não somente através da oração e do estudo, mas também sendo testemunha das experiências vividas pelas pessoas LGBTQ de fé em todo o mundo que arriscaram as suas vidas para mostrar que de facto é possível viver na plenitude quem somos.

Testemunhei isto na minha amiga Alicia Crosby, que fundou a campanha Make Love Louder (Deixem o Amor Falar, numa tradução livre) para afogar quaisquer eventuais manifestantes anti-LGBTQ no Pride de Chicago, e nos muitos fiéis organizadores da LGBTQ Black Lives Matter que têm sido responsáveis num movimento renovado pela equidade e pela justiça. O Deus em que acredito, o Deus que se aproxima de nós neste tempo de Advento, exige justiça e equidade para quem é marginalizado, oprimido e desconsiderado.

Esta exploração de Deus e da fé levou-me a uma pergunta simples, persistente e assustadora: uma vez que Deus é um Deus que afirma a plena dignidade e humanidade das pessoas LGBTQ de cor como eu, o que farão as pessoas de fé?

Procurei respostas a esta pergunta quando trabalhei como ministro no campus da InterVarsity Christian Fellowship, uma organização evangélica que descobri não ser acolhedora para as pessoas LGBTQ. Procurei respostas enquanto estudante de teologia na Duke Divinity School e enquanto fundador dos Brave Commons, uma organização sem fins lucrativos com e em nome dos e das estudantes LGBTQ em colégios e universidades cristãos.

Aquilo que descobri é que as pessoas de fé por todo o mundo anseiam pela mudança que Cooke cantava e pela justiça que King, a partir das escrituras hebraicas, declarou que aconteceria.

 

Os responsáveis religiosos podem ajudar a justiça a avançar

Neste tempo de Advento, iniciei um novo papel como diretor religioso e de fé na Human Rights Campaign, a maior organização nacional defensora dos direitos civis das pessoas LGBTQ. Anseio colaborar com os responsáveis religiosos e decisores políticos pelo país para ajudá-los a que façam estas mesmas perguntas a si próprios, em busca do avanço da justiça e da equidade para a comunidade LGBTQ.

Acredito que com corações abertos e com vontade para escutar, os responsáveis religiosos e os decisores políticos que lutaram para serem aceites acabarão por chegar à conclusão inabalável de que as pessoas LGBTQ — particularmente as pessoas transgéneras de cor — são merecedoras de respeito e dignidade absolutos e das proteções abrangentes dos direitos civis que todas e todos merecemos.

Espero que, um dia, todas e todos os decisores políticos que possam utilizar a religião para rejeitar, excluir e afastar farão, em vez disso, tudo o que estiver ao seu alcance para garantir que todas as pessoas LGBTQ são protegidas da discriminação — refletindo o mandato divino de defender os direitos e a dignidade de todas as pessoas. Trabalhemos uns com os outros e outras até que a justiça caia como água e a retidão como uma corrente poderosa para toda a comunidade LGBTQ.

Enquanto esperamos e refletimos durante o tempo do Advento, olhando para a alegria do Natal, acredito firmemente que alcançaremos um mundo no qual as pessoas LGBTQ em todo o mundo são protegidas e prosperam e que as pessoas LGBTQ de fé são capazes de sentir a alegria de viver todos os aspetos das suas identidades. Acredito que uma mudança virá, de facto. Assim seja.

 

Fonte: USA Today

21 de Dezembro, 2019

Um manual do Vaticano propõe "examinar" novamente a visão bíblica sobre homossexualidade

Rumos Novos - Católic@s LGBTQIA+ em Ação

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"O que é o homem? Um itinerário de antropologia bíblica" é o título de um manual publicado pela editorial vaticana (Livraria Editrice Vaticana). Um volume que Piero Bovati, secretário da Pontifícia Comissão Bíblica - parte integrante da Congregação para a Doutrina da Fé e impulsionadora do trabalho - apresentou no Vaticano e que trata de explicar a pessoa no meio da complexidade atual oferecendo chaves bíblicas e teológicas. "O Papa queria que este tema fosse precisamente tratado tendo por base a escritura, que é o fundamento e a alma de toda a reflexão cristã", assinalou.

 

A atenção aos homossexuais

Os temas que são tratados ao longo das mais de 300 páginas vão desde o matrimónio, à sexualidade, à guerra, à violência e à relação entre pais e filhos. Um dos temas que mais surpreendeu e que é abertamente tratado é a "atenção pastoral" às uniões homossexuais, afirmando-se inclusivamente que "a relação erótica homossexual não deve ser condenada".

Ainda que o texto reconheça a doutrina clássica de que "a instituição do matrimónio, constituída pela relação estável entre marido e mulher, apresenta-se de forma constante como evidente e normativa em toda a tradição bíblica", não se esconde que há "exemplos de união legalmente reconhecida entre pessoas do mesmo sexo". Por isso, pede-se a aceitação da "homossexualidade e das uniões homossexuais como expressão legítima e digna do ser humano".

 

Uma releitura bíblica

O manual oferece uma nova visão de como a Bíblia e a tradição da igreja transmitiram a sua doutrina a este propósito. "Uma mentalidade arcaica e historicamente condicionada", afirma-se, que deve dar lugar a outros dados de outras ciências em direção "a uma nova e mais adequada compreensão da pessoa humana, que impõe uma reserva radical à promoção exclusiva da união heterossexual em prol de uma aceitação análoga da homossexualidade e das uniões homossexuais".

Interpreta-se, por exemplo, como condenação da homossexualidade algum texto que o que verdadeiramente desaprova é a pedofilia, explica-se. Neste sentido, pode ler-se, que "certas formulações de autores bíblicos, como as diretrizes disciplinadoras do Levítico, requerem uma interpretação inteligente que salvaguarde os valores que o texto sagrado pretende promover, evitando-se desta forma repetir à letra o que também implica os traços culturais da época". Por isso, pede o texto que "será necessária a atenção pastoral, sobretudo no que diz respeito às pessoas, para levar a cabo o serviço do bem que a igreja tem de assumir na sua missão para com os homens".

 

Fonte: Vida Nueva

13 de Dezembro, 2019

Bispos alemães comprometem-se a 'reavaliar' a doutrina católica sobre homossexualidade e moralidade sexual

Rumos Novos - Católic@s LGBTQIA+ em Ação

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A conferência episcopal alemã comprometeu-se a "reavaliar" o ensinamento universal da igreja sobre a homossexualidade, a moral sexual em geral, bem como os sacramentos da ordenação e do matrimónio. O compromisso surgiu no início de um "Processo Sinodal" controverso de dois anos realizado pela hierarquia alemã.

Depois de ter realizado consultas em Berlim na semana passada, o presidente da Comissão para o Matrimónio e Família da conferência episcopal alemã declarou que os bispos acordaram que a homossexualidade é uma "forma normal" da identidade sexual humana.

"A preferência sexual do ser humano surge na puberdade e assume uma orientação hétero ou homossexual," afirmou o arcebispo de Berlim Heiner Koch numa declaração tornada pública pela conferência episcopal.

"Ambas pertencem às formais normais da predisposição sexual, que não podem ou devem ser mudadas com o auxílio de uma socialização específica".

Koch prosseguiu e referiu que à luz dos "desenvolvimentos" tornados possíveis pela Amoris Laetitia, a exortação apostólica do Papa Francisco sobre o matrimónio e a família, a igreja tem o dever de ter em consideração as últimas descobertas científicas e teológicas sobre a sexualidade humana.

Quatro bispos diocesanos reuniram-se para consultas formais sobre o tópico "A Sexualidade do Homem - Como é que esta deve ser discutida científica e teologicamente e julgada eclesiasticamente?", na capital alemã no passado dia 5 de dezembro.

O arcebispo Koch, conjuntamente com os bispos diocesanos Franz-Josef Bode de Osnabrück, Wolfgang Ipolt de Görlitz, Peter Kohlgraf de Mainz, bem como vários bispos auxiliares da Comissão da Fé e da Família da conferência episcopal consultaram diversos especialistas médicos convidados, teólogos e juristas canónicos durante o evento.

Pedindo uma "discussão sólida apoiada pelas ciências humanas e pela teologia" Koch e Bode afirmaram que a Amoris Laetitia já fornece "desenvolvimentos" notáveis quer na doutrina da igreja quer na prática, acrescentando que um relacionamento sexual para casais divorciados e recasados depois da Amoris Laetitia "já não é sempre classificado como pecado grave," e que a "exclusão total da receção da Eucaristia" por parte de tais casais já não podia ser justificada.

Koch disse que o "Processo Sinodal" deveria partir de uma posição "imparcial" sobre o ensinamento da igreja e sem pontos de vista fixos, mas antes partir de uma abertura que tenha em consideração as "informações científicas mais recentes".

Todos os participantes, de acordo com Koch, concordaram que a "sexualidade huamana engloba uma dimensão de luxuria, procriação e de relacionamentos." E uma vez que a orientação sexual deve ser considerada imutável, "qualquer forma de discriminação das pessoas com uma orientação homossexual" deve ser rejeitada, tal como foi "explicitamente sublinhado pelo Papa Francisco" na Amoris Laetitia.

De acordo com um comunidade à imprensa emitido pelos bispos, houve igualmente discussão em torno de se a proibição dos atos homossexuais pelo magistério da igreja ainda estava "atualizada" - e se a contraceção artificial ainda deveria ser condenada pela igreja tanto "para casais casados como para não casados".

Os resultados da "consulta de peritos" em Berlim serão apresentados ao "Processo Sinodal" através do fórum sinodal sobre "A Vida nas Relações Bem Sucedidas - Viver o Amor na Sexualidade e no Casal", que iniciará os seus trabalhos em fevereiro de 2020.

Coincidindo com a abertura do Processo Sinodal, várias dioceses e associações nacionais católicas financiadas pelo imposto sobre a igreja alemã, ou Kirchensteuer, tornaram públicas exigências de mudanças no ensinamento e na prática da igreja em temas similares.

Exigências de "reforma" vão desde a bênção para uniões homossexuais até à ordenação de mulheres e, pelo menos no caso de um grupo local, a aprovação do aborto quando "uma mulher ou um casal o decidam realizar."

Numa entrevista publicada pelo portal oficial financiado pelos bispos alemães, Agnes Wuckelt, presidente da Associação de Mulheres Católicas Alemãs (KFD), exigiu que as mulheres sejam ordenadas no sacerdócio, sublinhando que uma "ordenação sacramental das mulheres como diaconisas" seria um primeiro passo certo nessa direção.

 

Fonte: Catholic News Agency

12 de Dezembro, 2019

Responsável do Vaticano: a ligação homossexualidade-pedofilia é uma "grande injustiça" e uma "criminalização" da identidade gay

Rumos Novos - Católic@s LGBTQIA+ em Ação

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Ligar homossexualidade e pedofilia é uma "grande injustiça" e uma "criminalização" de identidade sexual e afetiva gay, insistiu um responsável do Vaticano.

 

Indo à notícia

Monsenhor Jordi Bertomeu Farnós, um sacerdote da Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) e um dos braços direitos do Papa Francisco na luta contra o escândalo de abuso de menores por parte do clero, derrubou o mito de que os sacerdotes gays são mais propensos na ofensa de menores num ensaio feito para a revista espanhola Palabra.

Bertomeu – um dos investigadores especiais enviados pelo Papa para averiguar a crise de abuso sexual no Chile em 2018 - baseado em conclusões tiradas dos 6000 casos de abuso sexual contra crianças que desde 2001 chegaram à CDF, a Congregação na qual são julgados e sancionados os clérigos que cometeram crimes canónicos graves.

 

Aprofundando

Criticou as "posições preconceituosas fortemente influenciadas por uma certa postura ideológica ultraconservadora" que afirmam o contrário e sublinhou que "não existe qualquer relação direta entre a homossexualidade e a pedofilia".

Nem tão pouco, prosseguiu Bertomeu, há qualquer relação entre a pedofilia "e um 'estilo progressista' do clero".

"A partir de um observatório privilegiado como é o caso deste Dicastério, pode afirmar-se que o fenómeno da homossexualidade não conhece os estilos dos sacerdotes, uma vez que afeta padres de cariz 'tradicional' e outros de um cariz mais aberto ou 'progressista' (apesar da natureza errónea destes qualificadores), escreveu Bertomeu.

O máximo que pode ser discutido das estatísticas da CDF é "que uma certa subcultura homossexual típica de alguns grupos de sacerdotes e presente nalguns seminaristas e noviços, coma consequência tolerância para com comportamentos homossexuais ativos, pode conduzir à pedofilia", acrescentou o responsável do Vaticano.

"Estas são situações que merecem uma maior atenção por parte dos pastores, que possuem os meios pastorais e disciplinares de convidar através do exemplo, palavra e mesmo a coerção a uma vida casta que não seja um perigo ou escândalo para o próprio padre e para a Igreja", advertiu Bertomeu.

 

Por que isto é importante

A incursão de Bertomeu no mito do padre gay mais propenso a abusar é importante porque, como o próprio admite, em certos círculos da Igreja "há a conversa de que os padres homossexuais têm cerca de três vezes mais probabilidade de cometer o crime da pedofilia", o que lança suspeições injustas sobre os padres gays fiéis que vivem vidas celibatárias.

Neste ensaio, o responsável da CDF também deitou por terra outras fantasias, tal como a que defende que os sacerdotes são os que cometem maior número de abusos na sociedade, quando na realidade somente constituem "menos de 3% dos casos reportados às autoridades civis" referentes a este tipo de crimes.

Tais mitos são particularmente severos para com os padres bons e fiéis, lamentou Bertomeu, que "são intrinsecamente vistos ou mesmo tratados como 'suspeitos' de ter cometido este crime hediondo" da pedofilia.

 

Para que conste

Noutra parte na sua peça, o responsável pela CDF desmontou a crença de que o celibato dos padres é ou a "causa" ou um "fator de risco" para o abuso de menores, novamente tendo por base os casos julgados pela CDF ao longo dos últimos mais de vinte anos.

Para além disso - dada a prevalência do abuso de menores na sociedade fora da Igreja - não há nenhuma garantia de que a abolição do celibato obrigatório e/ou abrir o sacerdócio às mulheres faria desaparecer o problema do abuso de menores na Igreja, argumentou Bertomeu.

"Não há qualquer prova científica que demonstre que uma vida de casado poria um fim ao comportamento desviante destes poucos padres com esta desordem sexual" que é o desejo de predarem crianças, disse o responsável da CDF.

 

Fonte: Novena News.

05 de Dezembro, 2019

Heteronormatividade: és heterossexual até que se demonstre o contrário

Rumos Novos - Católic@s LGBTQIA+ em Ação

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Vemo-lo em artistas, figuras públicas, cantores, atrizes, etc.: sempre se lhes pergunta se têm noivo, no masculino. Nunca se vê nenhum jornalista supor outra coisa. E isso mesmo sucede muitas vezes connosco mesmas. A sociedade dá por certo que todas as pessoas são heterossexuais até que se demonstre o contrário. Quando conheces um novo grupo de pessoas, as perguntas por defeito serão sempre sobre um possível par do sexo oposto e, contam-se pelo dedos da mão, as vezes em que perguntarão por uma noiva, porque em muitos casos pensarão que pode ofender-te. Isto não é casual, nem caso isolado.

Segundo o psicólogo Dominic Davies, com o qual tive o prazer de formar-me em Londres, há várias formas através das quais a sociedade oprime homossexuais e bissexuais:

  1. Conspiração do silêncio: parece como se homossexuais e bissexuais não existissem, há escassez de centros sociais ou culturais onde possam encontrar-se.
  2. Negação popular: as pessoas da rua continuam a ignorar a existência de pessoas LGBT e a maioria dos países não reconhece a estas pessoas os mesmos direitos reconhecidos aos heterossexuais.
  3. Medo da visibilidade: muitos heterossexuais e inclusive alguns homossexuais (com homofobia internalizada) sentem-se desconfortáveis perante as relações entre pessoas do mesmo sexo. As pessoas heterossexuais falam sem problemas do que fazem com o seu par durante o fim de semana, mas se uma lésbica o faz é acusada de apregoar aos quatro ventos a sua intimidade ou de estar a fazer a apologia da homossexualidade. Às vezes há pessoas que aceitam as pessoas homossexuais desde que "sejam discretas" e isto é outra forma de homofobia subtil.
  4. Simbolismo negativo: a sociedade cria regras e normas de conduta das quais se exclui os grupos minoritários.
  5. Negação da cultura: eliminou-se qualquer referência positiva à homossexualidade, ocultando contributos de artistas, filósofos, cientistas, políticos, etc., homossexuais e bissexuais no decurso da história. Sobre este ponto, recomendo-lhes que leiam o livro Desconocidas & Fascinantes, uma recompilação de biografias de mulheres muito interessantes (poetizas, filósofas, cientistas, monjas, ...) que se sabe ou intui serem lésbicas.

 

Heterossexismo

O Heterossexismo - sistema ideológico que nega, menospreza e estigmatiza qualquer forma não heterossexual de conduta, identidade, relação ou comunidade - pode observar-se em todo o lado, mas sobretudo na área da educação. A homofobia começa nas salas de aula e, por isso, é fundamental incluir imagens positivas sobre a homossexualidade e a bissexualidade na educação para ajudar aquel@s que o são a aceitarem a sua sexualidade como algo natural e saudável, para educar os demais jovens sobre a diversidade sexual e para oferecer a quem tem dúvidas informação verdadeira e objetiva para evitar a rejeição, o medo e a opressão.

Para mim o heterossexismo acabará quando os heterossexuais se identifiquem como tal. Não sei se lhes aconteceu de encontrar alguém que não saiba pronunciar a palavra heterossexual, mas a mim já me aconteceu explicar o conceito e familiares já de certa idade me dizerem: ah, então eu sou hetero... quê? Há pessoas quem nem sequer sabem que são heterossexuais! Quando estas pessoas saírem do armário como heterossexuais então a heteronormatividade terá chegado ao seu fim... Contudo, até esse dia, és heterossexual até que não se demonstre o contrário. E precisamente por isso, não se trata de "levar bandeiras" ou de "expor a tua intimidade" como algumas pessoas pensam, mas sim de as corrigir!

Não se trata de uma questão de "sair do sistema" ou de "transgredir a norma social", mas antes que se trata de uma norma restritiva e limitada que discrimina e não reconhece toda a diversidade de afetos, atrações e sentimentos que temos.

 

Fonte: Paula Alcaide