Um dia não será necessário nenhum orgulho!
Este ano não haverá carros alegóricos, desfiles. multidões... Há quem achará pouco e quem, por sua vez, respirará de alívio. Também dentro do mundo LGBTQ haverá quem lamentará a falta desse soar de exposição e visibilidade, e quem, no extremo oposto, se alegrará de que há necessidade de procurar outros caminhos para, deste modo, separar a reivindicação da dignidade das pessoas homossexuais, dos desfiles com toda a sua mistura de exposição, visibilidade, montagem comercial, frivolidade e desafio.
Um dia não será necessário o Orgulho Gay nem nenhum outro orgulho. O dia em que todo o mundo reconheça a dignidade das pessoas, de cada pessoa, sem que a orientação sexual seja algo que a diminua ou a coloque em questão para algumas mentalidades. O dia em que o sair do armário por parte de alguém não seja notícia, por ser pura normalidade. O dia em que os menosprezos, as rejeições, ou a perseguição de um longínquo 1969 levaram a que um grupo de pessoas homossexuais fizesse frente à polícia que ia invadir o clube «Stonewall» porque o simples facto de ser homossexual em público era um escândalo, já sejam hoje história. E o dia em que, também como igreja, tenhamos avançado em direção a uma maior e melhor integração, acolhimento e aceitação da realidade das pessoas homossexuais, das suas necessidades e direito de amar, e superemos a dose de incompreensão que ainda há em algumas pessoas de Igreja em relação à realidade das pessoas LGBTQ.
Contudo, esse dia ainda não chegou. Porém, há muitas pessoas homossexuais que vivem atormentadas por se sentirem julgadas. Muitas e muitos adolescentes que procuram o seu lugar, mas que escutam o gozo e comentários depreciativos, algumas vezes no ambiente familiar e entre os seus entes queridos - que nem podem imaginar que 'isso' possa acontecer com um dos seus -. Contudo, há muitas mentalidades para as quais «ter um filho gay» é uma tragédia, uma vergonha, algo a esconder e, por isso, ao filho, à filha, mais não lhe resta senão encontrar o seu orgulho sem se deixar anular. Porém, na Igreja, há demasiado silêncio perante algumas declarações e formulações que não respondem à realidade pastoral das nossas comunidades, paróquias, grupos e espaços de acompanhamento. Demasiadas pessoas que reduzem a orientação sexual à ideologia de género e convertem essa identificação num álibi para não escutarem os testemunhos de tantas e tantos cristãos homossexuais que somente pedem para sentir-se um pouco mais em casa no momento de ser comunidade. Demasiada maledicência e demasiada falta de bênção.
Cada pessoa tem que estar orgulhosa de ser como Deus a criou. Porque no fim, a homossexualidade ou a heterossexualidade, não é uma decisão caprichosa das pessoas. É parte (e somente uma parte) do que a pessoa é.
Artigo original: PastoralSJ