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Associação RUMOS NOVOS - Católicas e Católicos LGBTQ (Portugal)

Somos católic@s LGBTQ que sentiram a necessidade de juntos fazerem comunhão, partilhando o trabalho e as reflexões das Sagradas Escrituras, caminhando em comunidade à descoberta de Deus revelado a tod@s por Jesus Cristo.

21 de Março, 2021

Fontes do Vaticano suspeitam que, na alusão do Angelus, o Papa Francisco estava se distanciando da declaração da CDF sobre as uniões entre pessoas do mesmo sexo

Rumos Novos - Católic@s LGBTQIA+ em Ação

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Estaria o Papa Francisco aludindo à recente declaração da Congregação para a Doutrina da Fé de que os padres não podiam dar bênçãos às uniões do mesmo sexo porque “Deus não pode abençoar o pecado”, quando falou no Angelus hoje, 21 de março? Fontes bem informadas em Roma disseram à "America" que acreditam que sim, mas não desejam ser identificadas, pois não estão autorizadas a comentar.

Essas fontes sublinharam que ao comentar o Evangelho do dia, que refere que alguns gregos queriam “ver Jesus”, o Papa Francisco disse que muitas pessoas hoje também querem ver, encontrar e conhecer Jesus, e por isso “nós, cristãos e as nossas comunidades” temos “a grande responsabilidade” de tornar isso possível “através do testemunho de uma vida que se doa ao serviço; uma vida que assume o estilo de Deus: proximidade, compaixão e ternura”.

Francisco explicou que isto “significa semear sementes de amor, não com palavras fugazes, mas com exemplos concretos, simples e corajosos; não com condenações teóricas, mas com gestos de amor”. Acrescentou que “então o Senhor, com a sua graça, faz-nos dar fruto, mesmo quando o solo está ressequido por mal-entendidos, dificuldades ou perseguições ou reivindicações de legalismo ou moralismo clerical. Este é um solo estéril. Precisamente quando, nas provações e na solidão, enquanto a semente está a morrer, esse é o momento em que a vida floresce, para dar frutos maduros, no seu devido tempo”.

O Papa disse ainda que "é neste entrelaçamento de morte e vida que podemos experimentar a alegria e a verdadeira fecundidade do amor, que sempre, repito, é dado ao estilo de Deus: proximidade, compaixão, ternura."

Segundo essas três fontes, foi significativo que Francisco tenha apelado aos cristãos e à Igreja para darem testemunho de Jesus “não através de condenações teóricas, mas através de gestos de amor” e que tenha falado de “mal-entendidos, dificuldades ou perseguições ou reivindicações de legalismo ou moralismo clerical” como “solo estéril”. Essas fontes observaram que muitas pessoas leram o documento da C.D.F. como julgador ou condenatório e viram-no marcado por muito “legalismo e clericalismo”, longe do espírito pastoral de Francisco, embora o documento também tivesse aspetos positivos. As fontes sugeriram que, com as suas observações de hoje, o Papa Francisco parecia estar-se a distanciar da declaração da C.D.F. - à qual deu “parecer favorável à publicação” antes da sua visita ao Iraque.

Uma fonte sénior do Vaticano, que pediu para não ser identificada porque não estava autorizada a comentar publicamente, disse: "as três palavras - 'proximidade, compaixão, ternura' - que o Papa Francisco repete falam ao coração de cada pai e mãe, de cada pai e mãe espiritual.” Essa fonte acrescentou: “Eles são a verdadeira bênção da igreja e o seu pastor para cada pessoa, para cada situação”. Além disso, acrescentou ainda: “Eles são a verdadeira medida do próprio magistério [ou seja, a autoridade de ensino da Igreja] quando ilumina as consciências e orienta os fiéis. Cada 'responsum' [ou seja, a resposta oficial do magistério] e a doutrina na qual está formulada devem chegar a essa medida.”

Dada a polémica que se seguiu à publicação da declaração da C.D.F., fontes em Roma disseram à "America" que não ficariam surpresos se o Papa voltasse a esta questão de forma mais explícita nalguma data futura.

 

Artigo original: America Magazine

 

20 de Março, 2021

O Verdadeiro Sínodo Fará o Favor de se Levantar?

Rumos Novos - Católic@s LGBTQIA+ em Ação

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Em outubro de 2015, participei no Sínodo da Família enquanto representante dos bispos belgas. Escutei os bispos quer no auditório e em espaços mais informais; escutei todos os discursos e tomei parte nas discussões de grupo e na elaboração do rascunho do 'modi' para o decreto final. Como é que me sinto após a publicação em 15 de março de 2021 de um 'responsum' através do qual a Congregação para a Doutrina da Fé publicou uma proibição à bênção dos relacionamentos entre 'pessoas do mesmo sexo? Mal. Sinto-me envergonhado em nome da minha Igreja, como um ministro responsável afirmou ontem.

Contudo, acima de tudo, sinto uma incompreensão intelectual e moral. Quero pedir desculpa a todas e todos a quem este 'responsum' é doloroso e incompreensível: casais homossexuais católicos comprometidos e fiéis; aos pais e avós dos casais homossexuais e aos seus filhos; colaboradores pastorais e acompanhadores de casais homossexuais. Hoje, a dor que elas e eles sentem na Igreja é igualmente a minha dor.

Ao presente 'responsum' falta o cuidado pastoral, a fundamentação científica, a nuance teológica e a precisão ética que se encontraram presentes entre os padres sinodais que aprovaram as conclusões finais. Uma decisão diferente - e um procedimento orientador político - está aqui em causa. Gostaria de mencionar somente três elementos a título de exemplo.

Primeiro, o parágrafo que afirma que no plano de Deus não existe absolutamente qualquer similaridade possível, ou mesmo analogia entre o casamento heterossexual e o homossexual. Conheço casais homossexuais que estão legalmente casados, têm filhos, formam uma família calorosa e estável e, para além disso, participação ativamente na vida paroquial. Alguns estão empregados a tempo inteiro no trabalho pastoral e nas organizações eclesiais. Aprecio muitíssimo os seus contributos. É do interesse de quem negar de que aqui não existe semelhança possível, ou analogia com o casamento heterossexual? Durante o Sínodo, a falta de precisão desta posição foi repetidamente enfatizada.

Segundo, o conceito de 'pecado'. Os últimos parágrafos utilizam a artilharia moral mais pesada. A lógica é clara. Deus não pode condenar o pecado; os casais homossexuais vivem em pecado; portanto a Igreja não pode abençoar as suas relações. É precisamente esta linguagem que os padres sinodais tentaram evitar, quer neste quer noutros casos referidos como situações 'irregulares'. Esta não é a linguagem do 'Amoris Laetitia'.

Porquê? Porque o 'pecado' é uma das categorias teológicas e morais mais difíceis de definir e, portanto, uma das últimas a ser aplicada a pessoas e aos seus relacionamentos. E certamente não a uma categoria geral de pessoas. O que as pessoas querem e são capazes de fazer, neste exato momento das suas vidas, com a melhor das intenções para si próprias e para os outros e outras, face a face com o Deus que amam e que os e as ama, não é um puzzle fácil de resolver. De facto, a teologia clássica católica nunca abordou estas questões nestes termos. O tempora, o mores! ("ó tempos! ó costumes!")

Finalmente, o conceito de 'liturgia'. Enquanto bispo e teólogo, isto ainda me dececiona mais. Os casais homossexuais não são dignos de participar numa oração litúrgica pelo seu relacionamento, ou receber uma bênção à sua relação. De que bastidor ideológico saiu esta afirmação referente à 'verdade do ritual litúrgico'? Este não foi o dinamismo do Sínodo.

Houve discussões frequentes sobre os rituais apropriados e os gestos que pudessem incluir os casais homossexuais, incluindo na esfera litúrgica. Naturalmente, que isto aconteceu com respeito pela distinção teológica e pastoral entre matrimónio e a bênção de um relacionamento. A maioria dos padres sinodais não escolheu um modelo de liturgia a preto e branco ou um modelo do tudo e nada. Pelo contrário, o sínodo ofereceu impulsos sensatos para procurar sensatamente formas híbridas que façam justiça quer à especificidade destas pessoas quer àquela dos seus relacionamentos. A liturgia é a liturgia do povo de Deus e os casais homossexuais também pertencem a esse povo.

Para além disso, este documento atesta o pouco respeito na abordagem da questão da possibilidade de abençoar casais homossexuais baseada na chamada 'sacramentalia', ou a 'Ordem das Bênçãos', que inclui igualmente a bênção de animais, carros e edifícios. Uma abordagem respeitosa ao casamento homossexual somente pode dar-se no seio do contexto mais amplo da 'Ordem para a Celebração do Matrimónio', enquanto variante possível do tema do casamento e da vida familiar, com um reconhecimento honesto quer das semelhanças quer das diferenças. Deus nunca foi parcimonioso ou moralizante quando se trata de conceder as suas bênçãos às pessoas. Ele é nosso Pai. Esta foi a mentalidade teológica e moral da maioria dos padres sinodais.

Resumindo, o atual 'responsum' não contém nenhuma das preocupações substanciais do Sínodo dos Bispos sobre a Família, de 2015, conforme o vivi. Isto constitui uma grande mágoa para os casais homossexuais de fiéis, suas famílias e amigos. Estes casais não se sentem como se a Igreja os tratasse com justiça e verdade. As reações já estão a acontecer. É igualmente uma grande pena para a Igreja.

Apesar das palavras bonitas sobre a sinodalidade, este 'responsum' não é um exemplo da realização conjunta de uma caminhada. O documento mina a credibilidade quer do 'caminho sinodal' que o Papa Francisco tem defendido, quer o ano de trabalho com a Amoris Laetitia que foi anunciado.

O Verdadeiro Sínodo Fará o Favor de se Levantar?

+ Johan Bonny
Bispo de Anutérpia
Participante no Sínodo da Família em 2015
16 de março de 2021

 

Artigo original: Facebook

 

18 de Março, 2021

Mais de 1.000 pastores querem continuar a abençoar casais gays

Rumos Novos - Católic@s LGBTQIA+ em Ação

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Nada podia ser mais claro do que a resposta de Roma: "Não", foi a resposta à pergunta sobre a bênção para casais homossexuais. Mas há resistência: um pastor de Paderborn e um capelão da universidade de Würzburg reuniram mais de 1.000 pastores que desejam continuar dando as suas bênçãos.

«Não esperávamos tal resposta», disse Bernd Mönkebüscher. Conjuntamente com o capelão da universidade de Würzburg, Burkhard Hose, o pároco de Paderborn pediu para que a Congregação para a Doutrina da Fé abençoasse os casais de pessoas do mesmo sexo: «No futuro, continuaremos a acompanhar as pessoas comprometidas em relações estáveis do mesmo sexo e a abençoar a sua relação. Não recusaremos uma celebração de bênçãos», afirma a petição que se vem espalhando através das redes sociais desde segunda-feira à noite. Poucos dias após a sua partilha, já existem mais de 1.000 respostas. «Não temos mãos a medir com tantas respostas, classificá-las e inseri-las na lista», afirmou na quarta-feira. A recolha de assinaturas deve continuar até ao próximo Domingo de Ramos.

Entre os signatários encontram-se padres, diáconos, colaboradores paroquiais e pastorais, catedráticos e professores de Educação Moral e Religiosa Católica, a grande maioria diretamente envolvidos na pastoral. «Há superiores religiosos, bem como orientadores espirituais de seminários, colaboradores de paróquias e vicariatos gerais», enumera o pároco de St. Agnes, na cidade de Hamm, na Vestefália. “Basicamente, é claro, são boas notícias”, afirma. Mas também pergunta o que isso significa para a igreja: «Isso mostra que a decisão de Roma não é deste tempo. A prática é completamente diferente.»

 

A resposta de Roma foi clara como a água

Com esta petição, Mönkebüscher e Hose querem dirigir-se ao presidente da Conferência Episcopal Alemã (DBK), D. Georg Bätzing. Na qualidade de presidente da DBK, na segunda-feira, logo após o documento da Congregação para a Doutrina da Fé se ter tornado conhecido, ele expressou-se com muita cautela. «Na Alemanha e noutras partes da Igreja universal, tem havido há muito tempo discussões sobre como este ensino e desenvolvimento do ensino podem ser apresentados com argumentos sólidos - com base nas verdades fundamentais da fé e da moralidade, reflexão teológica contínua e também na abertura para os resultados mais recentes das ciências humanas e as situações de vida das pessoas de hoje», disse ele, e acrescentou «Não há respostas simples para perguntas deste tipo» - mas em Roma a questão foi vista claramente de forma muito diferente. A resposta de Roma à pergunta se a igreja tinha autoridade para abençoar os casais do mesmo sexo foi muito simples: «Não.»

Cada vez mais pastores se opõem ao claro e simples não - não apenas na Alemanha. Na Áustria, a iniciativa, bem organizada, de pastores e orientada para a reforma publicou um "Apelo para a Desobediência 2.0" na terça-feira. «Em comunhão com muitas e muitos - não rejeitaremos no futuro nenhum casal de pessoas do mesmo sexo que peça para celebrar a bênção de Deus, que experimentam todos os dias», assegura a iniciativa austríaca, à qual aderiram mais de 380 padres e diáconos, de acordo com as suas próprias declarações.

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A petição alemã não é organizada profissionalmente. «Burkhard Hose e eu tivemos uma breve conversa na segunda-feira e a ideia desenvolveu-se num quarto de hora», relata Mönkebüscher. Portanto, muito foi improvisado: o que acontece exatamente com as assinaturas? Os nomes serão publicados? Existe uma estratégia? Muito ainda está por fazer. É importante para o pároco de Hammer que a iniciativa também tenha impacto na Via Sinodal. Ele preferia uma reunião especial, mal pode esperar até à próxima reunião no outono.

 

Otimismo para o Caminho Sinodal

Oficialmente, as pessoas estão cautelosamente otimistas sobre a Via Sinodal. Uma declaração conjunta do bispo de Aachen Helmut This e da representante da ZdK, Birgit Mock, que liderou conjuntamente o Fórum Sinodal «Vivendo em Relacionamentos de Sucesso - Vivendo o Amor em Sexualidade e Casal», promete «discutir a resposta de Roma em detalhes». Com muito otimismo quanto aos objetivos, eles percebem «conceitos predominantemente dinâmicos» no documento de Roma, que dão esperança «para um possível desenvolvimento posterior do ensinamento da Igreja».

A Congregação para a Doutrina da Fé, por outro lado, repete o que a Igreja há muito diz sobre a homossexualidade. Casais do mesmo sexo «não estão de acordo com o plano do Criador». A igreja não tem «nem autoridade para abençoar relações de pessoas do mesmo sexo no sentido referido, nem pode ter essa autoridade». Isso não soa como «terminologia dinâmica», nem soa como Roma esteja em busca de um diálogo com o Caminho Sinodal.

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O não da Congregação para a Doutrina da Fé parece antes ser a rejeição das tentativas alemãs de diálogo, mesmo que isso não seja explicitamente declarado na nota explicativa que a Congregação acrescentou à sua resposta. Há apenas uma menção muito geral a «algumas áreas eclesiásticas» nas quais se espalham «projetos e propostas de bênçãos para uniões de pessoas do mesmo sexo». Os observadores do Vaticano vêm referindo há muito tempo a inquietação de Roma com o suposto caminho especial nacional na Alemanha.

 

Declaração de poder para aqueles que ainda podem ser controlados

Mönkebüscher e Hose pretendem ter uma conversa com o presidente da DBK, Bätzing - e também esperam que os bispos possam expressar-se de forma clara. Nenhum dos bispos mostra abertamente desobediência - mas há declarações claras. O bispo de Dresden, Heinrich Timmerevers, qualificou a declaração de «dececionante», e seu irmão bispo de Osnabrück, Franz Josef Bode, considerou a discussão disparada, em vez de encerrada por «respostas tão simples». A dicotomia em que os bispos se veem é tornada clara pelo bispo de Mainz, Peter Kohlgraf, que há apenas algumas semanas expressou o seu apreço pelas cerimónias de bênção. Hoje ele ainda mantém as suas declarações de fevereiro. Agora ele questiona-se como deve lidar com isso como bispo, de acordo com o documento do Vaticano: «Posso, como bispo, desfazer uma bênção? Quero causar mais danos nos crentes? Faz pouco sentido para mim,» disse Kohlgraf na terça-feira num comunicado publicado no site da diocese. O Vigário Geral, Andreas Sturm, de Speyer, é ainda mais claro no Facebook: «Abençoei apartamentos, carros, elevadores, inúmeros rosários, etc. e não deveria poder abençoar duas pessoas que se amam? Essa não pode ser a vontade de Deus.» No futuro e como sacerdote, ele continuará a abençoar estas pessoas.

Com o chamamento para realizar uma bênção, Mönkebüscher quer mostrar a tensão entre o ensino e a prática na realidade - e também proteger os pastores no meio da multidão. Ele está ciente de exemplos de padres que foram ameaçados de suspensão caso presidissem a mais alguma cerimónia de bênção. «Todos os colegas que já assinaram não podem ser punidos», diz ele com firmeza. Porque para Mönkebüscher é claro: trata-se de poder. «O documento do Vaticano nada mais é do que uma declaração de poder aos sacerdotes e diáconos - os únicos sobre os quais ainda se pode exercer o poder», acrescenta.

O pastor que se revelou gay há dois anos, ainda não realizou uma bênção para um casal do mesmo sexo. «Que casal gay, que casal de lésbicas pediria uma bênção nessa situação?», Questiona. Claro, também existem muitos homossexuais ao seu serviço, incluindo casais. Mas eles não esperariam nada da igreja em termos de bênçãos. «Quem quer ser um suplicante na igreja, a quem graciosamente recebe uma bênção secreta e secretamente, ou quem é humilhado?» No entanto: Ele estaria pronto para uma cerimónia de bênção, se solicitado para tal. Ele está incomodado com os padrões duplos da Igreja: «Se levássemos a sério a nossa moral sexual, teríamos de forçar todo o casal heterossexual a se confessar antes do casamento. Mas não o fazemos."

 

Artigo original: katholish.de

 

 

 

 

18 de Março, 2021

Bispo de Antuérpia envergonhado com a posição da Igreja sobre a homossexualidade

Rumos Novos - Católic@s LGBTQIA+ em Ação

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O bispo de Antuérpia, Johan Bonny, expressou uma opinião invulgarmente aberta sobre as últimas afirmações da igreja católica sobre a homossexualidade.

Esta semana, a Congregação para a Doutrina da Fé publicou uma opinião em resposta à questão se é permitido aos padres católicos abençoarem uma união homossexual?

Dentro da igreja, é já ponto assente de que um padre não pode realizar um casamento entre pessoas do mesmo sexo, mas a questão diz respeito agora ao modo como se deve lidar com os fiéis quando esse casamento está já realizado.

A resposta, aprovada pelo Papa Francisco, chegou alto e bom som.

A nota distinguiu entre o acolhimento às pessoas gay, que é apoiado, mas não para as suas uniões. A opinião afirmou que tais uniões não fazem parte do plano de Deus e qualquer reconhecimento sacramental dessas uniões podia ser confundido com casamento.

«Sinto-me envergonhado pela minha igreja. Sinto principalmente uma incompreensão intelectual e moral,» afirmou o bispo Bonny.

«Gostaria de pedir desculpa a todas e todos para quem este responsum é doloroso e incompreensível. A sua dor em relação à igreja é igualmente minha hoje,» escreveu.

O documento, escreveu o bispo Bonny, tem falta de base científica, nuance teológica e cuidado ético, particularmente na passagem que afirma, «que no plano de Deus não há a mais remota semelhança ou mesmo qualquer analogia entre o casamento heterossexual e aquele entre pessoas do mesmo sexo.»

«Conheço pessoalmente casais gays, em casamentos civis e com filhos, que formam uma família acolhedora e estável e que igualmente participam na vida da paróquia,» escreve. «Alguns deles estão ativos a tempo inteiro como colaboradores da igreja e da área pastoral. Estou-lhes profundamente grato. Quem tem interesse em negar que qualquer semelhança ou analogia com o casamento heterossexual é aqui possível?»

Este responsum afirma também, de forma clara, que Deus não pode condenar um pecado. Os casais homossexuais vivem em pecado e a igreja não o pode aprovar.

«O pecado é uma das categorias teológicas e morais mais difícil de definir e, deste modo, um dos últimos a colar às pessoas e à sua forma de convivência conjunta,» afirmou o bispo Bonny.

«Uma abordagem respeitosa ao casamento entre pessoas do mesmo sexo somente pode ocorrer somente pode acontecer no contexto mais amplo da Ordem e Matrimónio, como uma variação eventual sobre o tema do matrimónio e da vida familiar, com o reconhecimento honesto das similaridades e diferenças atuais,» concluiu.

 

Artigo original: Brussels Times