Rumos Novos - MHC: Mensagem para a Páscoa 2011
Na madrugada do Sábado, no alvorecer do primeiro dia da semana, Maria a Madalena, juntamente com outras mulheres, dirige-se compassivamente para o sepulcro, ao lugar do fracasso e do absurdo, da destruição de tantas alegrias…
Com ela caminhamos todos nós, tantas vezes cansados do caminho, com pouca vontade de ouvirmos novidades. É assim que nos deixam os encontros e desencontros da vida: o amor sepultado, as esperanças mortas, os sonhos desfeitos!
Como homossexuais católicos, tudo em nós são pecaminosas fantasias do desejo, ouviremos. Apesar disso, talvez, como em Maria e suas acompanhantes, ainda restem dentro de nós, nos limites da nossa alma, qual cinzas por apagar, gestos de compaixão e memórias de outros dias…
Dias em que tivemos esperança.
Dias em que sentimos a Palavra de Vida que nos chegava ao mais fundo do nosso coração.
Dias em que dissemos sim à necessidade de transformar a Terra.
Agora, muitas vezes, essa mesma terra, como a noite, fechou-se, engolindo a vida, o amor, a esperança num mundo melhor.
Contudo, a noite já perdeu a sua força. A obscuridade é resgatada pelas primeiras luzes da mais Nova Aurora. Onde antes estava a morte, surge agora a nova Criação e o Anjo anuncia-nos a todos nós, fiéis homossexuais católicos: NÃO TEMAIS, ressuscitou o crucificado e está perante nós todos, sem excepção.
O dia do Senhor começou, já não podemos estar chorosos, junto a nenhum sepulcro: as nossas invejas, o nosso pequeno mundo, o nosso egoísmo, o nosso medo de «sermos descobertos». A luz dissolve, para sempre, os fantasmas.
O próprio Deus nos confirma que o impossível é possível, que podemos todos, sem excepção, sonhar e ter esperança…
Também nós, na nossa comunidade do RUMOS NOVOS – Movimento Homossexual Católico, tal como Maria e as suas acompanhantes, somos convidados a nos enchermos de alegria. A alegria da mais Bela Páscoa e a corrermos a anunciá-la a todos.
É o próprio Jesus que sai ao nosso encontro e se faz presente no mais fundo da nossa existência, no amigo, na nossa comunidade, na natureza.
É o mesmo Senhor quem hoje nos diz a todos: NÃO TENHAIS MEDO, comunicai a quem vive na morte que me encontrará se for à Galileia.
Ficaremos também nós parados nas nossas dúvidas e nos nossos medos, ou iremos à Galileia?
Todos, sem excepção, somos convidados a ir à Galileia, para vivermos a alegre experiência de nos encontrarmos com Cristo vivo e vermos a Sua glória. A glória da Ressurreição, fruto da profunda relação de amor entre Jesus e Seu Pai, que assim se converteu em vida nova, em plenitude de existência.
Como homossexuais católicos a ressurreição não é somente uma promessa, é igualmente uma tarefa, de acordo com o que Jesus nos disse: «Pelo caminho, proclamai que o Reino do Céu está perto. Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demónios» (Mat 10, 7-8). A tarefa é tanto mais urgente porquanto vivemos numa sociedade doente, onde o ter assume papel de relevo e esmaga o ser; uma sociedade obcecada pela elevada qualidade de vida, mas que aceita de forma indiferente a mortalidade infantil no Terceiro Mundo e o genocídio das minorias étnicas; uma sociedade defensora dos direitos humanos, mas que aceita que os homossexuais sejam tratados como cidadãos de segunda.
Frente a esta cultura do egoísmo, da indiferença, do medo e da ganância, os homossexuais católicos são igualmente chamados a continuar a missão reparadora e ressuscitadora de Jesus. A fé na ressurreição projecta-se, de forma activa, na luta quotidiana, que todos devemos travar activamente, em prol da paz, da justiça e dos direitos humanos.
A todos desejamos uma
Feliz Páscoa de Ressurreição
de Nosso Senhor Jesus Cristo!