Pode a igreja alguma vez reconciliar-se com as uniões entre pessoas do mesmo sexo?
O casamento entre pessoas do mesmo sexo levanta uma questão complexa: como é que a Igreja Católica Apostólica Romana, nos seus ensinamentos oficiais, irá aceitar as uniões entre pessoas do mesmo sexo? Fazer isso requereria um exame monumental da abordagem profunda e tradicional da igreja em relação à sexualidade e ao casamento. É perfeitamente claro que os altos dignitários da igreja não estão na disposição de enfrentar a questão (N. T.: Como igualmente o demonstra a recente encíclica do Papa Francisco, “Lumen Fidei”). Estão, antes, determinados em reafirmar vezes sem conta aquela que tem sido a posição da igreja católica, pelos menos desde o concílio de Trento, de que a orientação homossexual, incluindo o casamento entre pessoas do mesmo sexo, não é natural e deve ser combatida, como o afirmou o arcebispo Cordileone, através de um campanha forte para “catequizar os católicos sobre o casamento”.
A igreja institucional tem, pois, três escolhas: primeira, frisar como sendo sem compromisso as uniões pecaminosas entre pessoas do mesmo sexo e manter o incitamento para que os governos façam tudo o que estiver ao seu alcance para as tornar ou manter ilegais; ou segunda, sair totalmente da política do casamento separando definitivamente o matrimónio (N. T.: sacramento religioso) do casamento (N. T.: contrato civil), ignorando desta forma o alegado mergulho da sociedade secular na depravação moral; ou terceira, levar a cabo uma reconsideração total da teologia moral católica, tendo como objetivo uma definição mais realista do casamento, mais de acordo com os desenvolvimentos modernos na teologia, estudos das Escrituras, descobertas da ciência e uma melhor compreensão da natureza e das relações humanas.
Julgo que a terceira hipótese é aquela que tem menos possibilidade de acontecer num futuro próximo. Porém, argumentaria que é a única que faz sentido. Quer a igreja opte por escolher a primeira ou a segunda ou talvez ainda uma mistura das duas, estará a isolar-se do futuro. Ao contrário do tema da contraceção, que as sondagens mostram que é utilizada pela esmagadora maioria dos jovens casais católicos na privacidade dos seus lares, as uniões entre homossexuais são visíveis e públicas devido à sua própria natureza. As pessoas que vivem nestas uniões têm famílias e amigos e conhecidos que têm estado e estarão cada vez mais desligados da igreja, devido à rejeição desta em relação às escolhas que os seus filhos e filhas, que conhecem e amam, fizeram. Os dados do abandono, penso, serão bem mais graves do que os que se seguiram à condenação da contraceção por parte do Papa Paulo VI.
Assim a igreja dos nossos netos e bisnetos pode ser uma igreja defensiva, leal, obediente, quase uma seita, uma espécie da pequena igreja de que o Papa Bento XVI falou nos seus ataques repetidos ao relativismo e ao secularismo. Seria uma igreja totalmente supervisionada pelo contingente de bispos e padres extremamente leais inspirados pelo Papa João Paulo II.
Por outro lado, a igreja do futuro pode ser completamente diferente. Muitos teólogos católicos estão convencidos que a nossa teologia moral está tão cheia de incongruências e inconsistências, fundamentadas em premissas de há muito ultrapassadas, que já não serve qualquer finalidade útil. Sugiro que é chegada a altura de uma liderança competente começar a elencar quais as necessidades a serem realizadas e alteradas e como, com a orientação do Espírito Santo, uma forma radicalmente inclusiva de catolicismo pode finalmente emergir.
Autor: Robert McClory
Tradução e adaptação: José Leote
Artigo original: National Catholic Reporter