Afinal, há homofobia na igreja?
Ao longo do tempo o termo homofobia e os seus derivados, embora já existissem, tornaram-se populares, também, no discurso dos cristãos em geral. As acusações são recíprocas entre os católicos e as católicas LGBT e alguns setores da igreja católicas institucional. Os católicos e as católicas LGBT acusam a Igreja de ser homófoba e a Igreja acusa católicos e católicas LGBT de reivindicarem um tratamento privilegiado em detrimento da maioria da população.
Afinal, o que é homofobia? Seria apenas uma forma patológica de ódio irracional e extremo aos homossexuais a ponto de causar agressão e morte ou pode, também, corresponder a uma postura – ainda que de omissão – por parte da sociedade ou mesmo da Igreja católica?
Se entendermos a homofobia como medo irracional quanto à homossexualidade, não é tão descabida a afirmação de que a Igreja, em geral, é homófoba. Por quê? Primeiro pela falta de espaço que o assunto possui no seu seio. Há medo, temor e receio em se abordar aberta e francamente o assunto, sem o viés da condenação teológica. A posição da Igreja quanto à homossexualidade revela-se unilateral, ou seja, as interpretações literais bíblicas direcionam o discurso, centrado, sempre, na condenação. Essa “clareza” bíblica sobre a homossexualidade (lembremo-nos sempre de que a Bíblia apresenta atos homossexuais, não o conceito de homossexualidade). Há uma recusa em se conhecer a fundo o assunto, acreditando-se que a Bíblia já oferece o suficiente para entendê-lo e julgá-lo. Enquanto isso, no seio da Igreja, católicos e católicas LGBT – em segredo – anseiam por respostas e, principalmente, por uma atenção especial ou, ao menos, um pequeno espaço, que revele, de facto, o amor que a igreja tanto prega. Essa espera é angustiante e, com frequência, acaba por afastar @s católic@s LGBT do rebanho. Ao ignorar o assunto, recusando-se a conhecê-lo ou oferecendo apenas uma visão condenatória, a postura da igreja acaba por ser, ainda que em menor grau, homofóbica, já que se baseia na ignorância e no medo em abordar o tema. A falta de conhecimento sobre o assunto gera a irracionalidade, a irracionalidade gera o temor em falar abertamente sobre a homossexualidade. Não é à toa que grande parte d@s católic@s LGBT prefere deixar a Igreja a tornar pública a sua condição, bem como o seu dilema e as suas lutas, quase sempre solitárias. Se a Igreja não lhes parece um lugar acolhedor, um lugar de amigos sinceros e interessados na sua dor, a melhor postura é sair dali ou viver clandestinamente no grupo.
Engana-se quem pensa que a homofobia ocorre apenas sob a forma de atos discriminatórios. O silêncio é uma forma de violência. A Igreja, ao silenciar-se ou limitar a sua abordagem da homossexualidade, acaba por tornar-se um espaço de violência, conhecida como simbólica. Um exemplo de violência simbólica é a existência de uma norma quando nem todos possuem a capacidade de segui-la: a Igreja, quando muito, oferece apenas o celibato à/ao católic@ LGBT, privando-o de um direito essencial: o exercício da afetividade – direito também bíblico. Mesmo simbólica, essa realidade configura-se como violência, pois causa danos à alma do indivíduo. Outra forma de violência é conduzir, ainda que inconscientemente, @ católic@ LGBT a seguir a norma, ou seja, o relacionamento heterossexual, em que os danos podem ser ainda maiores, pois envolverá outras pessoas.
Talvez, a Igreja acredite não haver homossexuais no seu meio, consequentemente, não vê razões para aprofundar a discussão neste domínio, afinal, aquele não é um problema do seu rebanho. Isso é um mito. Qualquer estrutura religiosa, como parte da sociedade, possuirá membros de orientação homossexual. O facto a ser admitido, na verdade, é que ela não está preparada para responder sobre o assunto. Como responder a questões, como oferecer conforto, como conduzir uma situação sobre a qual se desconhece? Impossível. A maioria heterossexual dita as normas (heteronormatividade), a minoria, se quiser e puder, que se adeque a tais normas, caso contrário não encontrará espaço.
A igreja afirma amar os homossexuais e não discriminá-los, mas os únicos que possuem propriedade para afirmar isso não é a igreja, mas os próprios homossexuais.
Outra forma de homofobia praticada na igreja é a violência verbal. Com certa frequência se ouvem dos púlpitos piadas, palavras que refletem estereótipos sobre gays, lésbicas e transexuais e outras colocações ofensivas.
Por fim, abordaremos a pior consequência da homofobia religiosa: o suicídio que muitos gays e lésbicas cometem por acreditar que não há lugar para eles na igreja, muito menos no reino de Deus.
Uma frase do reverendo Caio Fábio reflete bem isso: “o único exército que mata os seus soldados feridos é a Igreja.”
Vivemos em um país cristão, cujos conceitos morais foram moldados segundo a interpretação bíblica da normalidade das relações afetivas: homem e mulher. Ser heterossexual, nesta sociedade, equivale a ser normal, ao passo que ser homossexual equivale a ser anormal. A impossibilidade de muitos homossexuais em seguir a norma provoca o que chamamos de homofobia internalizada, ou seja, um sentimento de repulsa pela própria sexualidade. Tal sentimento, reforçado pelo discurso religioso e reafirmado pela sociedade acaba por provocar uma situação irreversível quando o jovem opta por tirar a própria vida.
Em tempos passados (e presentes) homossexuais eram (são) vistos como ameaça à sociedade, ameaça às famílias, aos jovens e às crianças. A tendência natural do ser humano, logicamente, é afastar de si qualquer tipo de ameaça. O episódio de Sodoma – e a sua leitura equivocada – levou muitos aos tribunais da inquisição, pois a simples presença de homossexuais em determinada localidade poderia, a exemplo de Sodoma, provocar a ira divina. Essa visão foi propagada pela Igreja durante a Idade Média e prevaleceu durante um certo período de tempo.
Conclusão: embora os católicos não admitam, existe homofobia na igreja. As consequências estão aí como provas: elas vão desde a evasão de ovelhas homossexuais ao suicídio. Que um dia a igreja possa rever os seus dogmas e concluir que os ensinamentos bíblicos provocam vida e não morte. Foi para isso que Jesus veio. João 10, 10: Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.
Texto Original: Pr. Alexandre Feitosa
Adaptação: José Leote