Arcebispo de Melbourne convoca fiéis LGBTI enquanto a igreja tenta se redefinir
O arcebispo de Melbourne (Austrália), Peter Comensoli, pediu à comunidade LGBT para ajudar a igreja a definir um novo rumo após anos de escândalos e de agitação interna.
Numa movimentação sem precedentes que dividiu alguns no interior da igreja, a arquidiocese convidou católicas e católicos gay para uma reunião que durou duas horas e meia e onde se discutiu a forma como a instituição deveria mudar com os tempos.
O encontro realizou-se no âmbito de consultas para aquela que será, no próximo ano, a conferência mais importante dos bispos católicos australianos realizada nos últimos 80 anos: o Conselho Plenário 2020.
Porém, fontes no interior da igreja admitem que a decisão de procurar conselho junto da comunidade LGBT «causou desconforto» junto de alguns membros da linha dura que temem que a conferência possa resultar numa mudança radical, numa época em que assuntos como a ordenação das mulheres e abrandamento das regras do celibato obrigatório são já vivamente contestadas.
Outros viram o convite como um passo positivo, esperançosos que ele poderia marcar o início de um relacionamento mais inclusivo entre a arquidiocese e as católicas e os católicos LGBT, após acrimónia de longa data sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a discriminação religiosa nas escolas.
«Não se trata de abrir a porta às pessoas LGBT de fé, porque já lá estamos,» afirmou o Comissário governamental para o Género e a Sexualidade do governo do primeiro-ministro australiano Daniel Andrews, Ro Allen, que participou na reunião. «Trata-se de nos incluir e nos abraçar como iguais.»
O Comissário para o Género e a Sexualidade do governo australiano, Ro Allen, esteve entre os 80 participantes da sessão plenária da arquidiocese de Melbourne, na Austrália.
Cerca de 80 pessoas - incluindo alguns dos mais destacados defensores do debate sobre a igualdade no casamento - participaram no encontro de 6 de fevereiro passado, que foi organizado pelo bispo auxiliar de Melbourne, Mark Edwards, e centrado na questão: o que é que pensa que Deus nos está a pedir na Austrália, neste momento?
O jornal Age, na sua edição de domingo passado, referiu que os participantes deixaram bem claro que queriam sentir-se mais acolhidos pela igreja, embora alguns estivessem mais céticos do que outros em relação à capacidade da instituição para mudar.
Uma professora sublinhou como era fazer parte de uma escola católica onde podia ser despedida devido à sua sexualidade.
Um pai contou o caminho de aceitação pelo qual passou depois de saber que o filho era gay.
Outro homem falou sobre o irmão que queria ir a um seminário, onde lhe era perguntado, como parte do formulário de candidatura, se era «efeminado».
Questionado sobre o encontro, Shane Healy, o diretor de comunicações da arquidiocese, afirmou: «Foi uma oportunidade para as pessoas LGBT partilharem as suas esperanças e medos, as suas mágoas e alegrias na vida da igreja da Austrália. Penso que foi uma experiência deveras positiva para todas e todos os que estiveram presentes.»
As pessoas LGBT disseram que queriam sentir-se acolhidas.
O Conselho Plenário do próximo ano, o primeiro a decorrer na Austrália desde 1937, é encarado dentro dos círculos católicos como um acontecimento altamente significativo para colocar a igreja num novo caminho.
Surge igualmente numa conjuntura crítica: no rescaldo da Comissão Real para as Respostas Institucionais ao Abuso de Crianças e à medida que o papel e a importância da igreja continuam a mudar profundamente.
«A igreja já não tem a presença que outrora teve na nossa sociedade», afirmou o arcebispo de Brisbane, Mark Coleridge, presidente da Conferência Episcopal da Austrália, após o plenário ter sido anunciado. «Precisamos tomar isso em devida consideração e decidir de acordo.»
Até agora, mais de 40000 pessoas e grupos apresentaram sugestões, enquanto que as sessões de «escuta e diálogo» se realizaram por todo o país, na preparação para o evento.
Fonte: The Age.