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Associação RUMOS NOVOS - Católicas e Católicos LGBTQ (Portugal)

Somos católic@s LGBTQ que sentiram a necessidade de juntos fazerem comunhão, partilhando o trabalho e as reflexões das Sagradas Escrituras, caminhando em comunidade à descoberta de Deus revelado a tod@s por Jesus Cristo.

25 de Janeiro, 2021

Bispos católicos americanos assinam declaram à juventude LGBT: «Deus criou-vos! Deus ama-vos!»

Rumos Novos - Católic@s LGBTQIA+ em Ação

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Um grupo de bispos católicos americanos, incluindo um cardeal e um arcebispo, assinaram uma declaração de apoio aos jovens LGBT dizendo-lhes: «Deus criou-vos! Deus ama-vos e Deus está do vosso lado.»
 
«Do modo como vemos o Evangelho, Jesus Cristo ensinou o amor, a misericórdia e o acolhimento para todas as pessoas, particularmente para aquel@s que, de algum modo, se sentem perseguid@s ou marginalizad@s; e o Catecismo da Igreja Católica ensina que as pessoas LGBT devem ser tratadas com «respeito, compaixão e delicadeza», pode ler-se na declaração, tornada pública pela Tyler Clementi Foundation, uma organização que combate o bullying LGBT nas escolas, locais de trabalho e comunidades de fé.
 
Entre os signatários da declaração encontra-se o cardeal Joseph Tobin, arcebispo de Newark, e o arcebispo John Wester, que está à frente da arquidiocese de Santa Fe.
 
«Todas as pessoas de boa-vontade deveriam auxiliar, apoiar e defender os jovens LGBT, que tentam o suicídio oito vezes mais que os seus pares heterossexuais; que frequentemente são sem abrigo devido a famílias que os rejeitam; que são rejeitados, vítimas de bullying e agredidos; e que são vítimas de atos violentos a níveis alarmantes», continua a declaração.
 
«A Igreja Católica valoriza a dignidade dada por Deus a toda a vida humana e aproveitamos esta oportunidade para dizer aos nossos amigos e amigas LGBT, particularmente aos jovens, que estamos a vosso lado e nos opomos a qualquer forma de violência, bullying ou agressão dirigidos a vós.»
 
O arcebispo Wester disse, numa entrevista telefónica concedida à revista jesuíta America, que assinou a declaração porque queria que os jovens LGBT soubessem que «têm mérito, têm valor e são filh@s de Deus.»
 
Antigo professor do ensino secundário, o arcebispo Wester afirmou que o bullying pode ser particularmente tóxico para os jovens que estão em vias de lidar com a sua orientação sexual, particularmente quando el@s ou outr@s interpretam mal o ensinamento da igreja sobre a homossexualidade como forma de transmitir a ideia de que ser gay em si é um pecado.
 
A Igreja Católica ensina que a homossexualidade é «objetivamente desordenada» e condena os atos sexuais entre pessoas do mesmo sexo como pecaminosos. Contudo, em simultâneo, afirma que os homossexuais «devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta.»
 
O arcebispo Wester afirmou que os jovens LGBT podem algumas vezes interpretar mal o ensinamento da igreja acerca da homossexualidade e pensar incorretamente, em resultado dessa má interpretação, de que de alguma forma estão afastados do amor de Deus.
 
«Temos os nossos ensinamentos, que valorizamos e estimamos, mas esses ensinamentos precisam ser entendidos no contexto apropriado do amor e da misericórdia,» afirmou. «Algumas vezes as pessoas podes equivocar-se, «Então se é um pecado envolver-se num ato homossexual, então eu devo ser uma pessoa terrível.» A igreja não ensina isso e é importante que os jovens não fiquem com essa impressão errónea.»
 
Acrescentou, «Penso que é trágico que os jovens na comunidade LGBT sejam vítimas de bullying e de chacota», chamando-lhe outra forma de intolerância e preconceito que hoje observamos no nosso país.»
 
O bispo John Stowe, que dirige a Diocese de Lexington, no Kentucky, disse à America que assinou a declaração porque que chegou ao seu conhecimento que antigos alunos e alunos atuais das escolas católicas da diocese afirmaram que o bullying em relação aos estudantes LGBT pode constituir um sério desafio.
 
«Algumas vezes os comentários ofensivos ficaram sem resposta, ou foram mesmo alvo de chacota pela faculdade,» afirmou, num e-mail, o bispo Stowe. «Chegou ao meu conhecimento através de outr@s católic@s LGBT de que aquilo que outros estudantes viveram como os melhores anos das suas vidas foram frequentemente experiências traumatizantes pois viveram a rejeição social e preocupações sobre o amor de Deus por el@s e sobre se tinham qualquer esperança de salvação. Frequentemente est@s estudantes sentiram-se isolad@s, algumas vezes mesmo com medo de obter ajuda por parte dos pais e outros familiares.»
 
No ano passado, o bispo Stowe e o arcebispo Wester apareceram num vídeo que dava apoio à comunidade LGBT. Foram designados para estar presentes numa conferência sobre o cuidado pastoral e as pessoas LGBT, organizada por James Martin, SJ, que teve que ser reagendada devido à pandemia. (O Padre James Martins, editor geral da revista America, ajudou a Tyler Clementi Foundation no contacto com os bispo que pudessem estar interessados em assinar a declaração.)
 
Outros bispos que também assinaram a declaração já anteriormente tinham mostrado apoio aos católicos e católicas LGBT, incluindo o cardeal Tobin. Em 2017, falou para um grupo de 100 católic@s LGBT, reunidos na Basílica Catedral do Sagrado Coração, em Newark, e em 2019, declarou à NBC News que pensava que a linguagem da igreja em relação à homossexualidade é «muito infeliz» e «dolorosa.»
 
O bispo Robert McElroy, que dirige a Diocese de San Diego, também assinou a declaração. Em 2016, apoiou a ideia de que a igreja deveria pedir desculpa às pessoas LGBT devido aos maus tratos ao longo da História e apelou para que o ensinamento da igreja sobre este assunto usasse uma «linguagem inclusiva, abrangente [e] pastoral.»
 
O bispo Steven Biegler da diocese de Cheyenne e o bispo Edward Weisenberger da diocese de Tucson, bem como dois bispos auxiliares eméritos, os bispos Thomas Gumbleton da diocese de Ditroit e o bispo Dennis J. Madden da diocese de Baltimore, também assinaram a declaração.
 
A Tyler Clementi Foundation tem o seu nome em homenagem ao estudante que se suicidou em 2010, após atos de bullying online. De acordo com o Centro para o Controle e Prevenção de Doenças (Centers for Disease Control and Prevention - CDC), @s jovens LGBT são vítimas de bullying e tentam o suicídio em taxas muito mais elevadas do que os seus pares heterossexuais. @s estudantes trans relatam níveis muito elevados de bullying, ideação de suicídio e tentativas de suicídio por comparação com os seus pares não-transgéneros. O CDC afirma que as escolas podem ajudar a combater o suicídio ao encorajar o respeito pel@s estudantes e ao trabalhar para reduzir o bullying e a agressão.
 
Jane Clementi, mãe de Tyler e cofundadora da fundação, disse à revista America que a fundação procura declarações assertivas de responsáveis religiosos em relação aos jovens LGBT porque ele «viu na primeira pessoa o quão importante é ter mensagens positivas nas comunidades religiosas, como forma de influenciar as pessoas.»
 
«Tenho esperança que um@ jovem LGBT leia esta declaração e se sinta apoiad@, saiba que não está sozinh@ e saiba que há membros da sua comunidade de fé que @ apoiam,» disse a sra. Clementi, acrescentando que tem esperança de que os pais de filh@s LGBT não se sintam isolados se pertencem a tradições de fé que historicamente não apoiam as pessoas LGBT.
 
Este não é o primeiro esforço de divulgação de assuntos relacionados com a fé realizado pela Tyler Clementi Foundation. Está também a organizar uma campanha destinada a responsáveis na tradição Batista do Sul e tem tentado combater os programas de terapias de conversão que têm por base a fé. No seu sítio na internet a fundação afirma que «Tratar as pessoas LGBT como tendo menos valor; pregar às pessoas LGBTQ e apelidar a sua orientação sexual, ou identidade de género, "pecaminosa" são tudo exemplos potenciais de bullying tendo por base a religião.»
 
Existindo cerca de 430 bispos no Estados Unidos, dos quais somente oito assinaram a declaração, a sra. Clementi, que foi criada como católica e que hoje frequenta uma igreja protestante, afirma ter esperança de que outros bispos também o façam.
 
«Estamos a tentar efetuar uma conversa,» disse, sublinhando de que nada na declaração «vai contra qualquer ensinamento católico, que sempre conheci como sendo uma mensagem de amor, misericórdia e inclusão.»
 
«É muito importante para a igreja brilhar sobre o mundo,» acrescentou.