Neftalí W. Eugenia Castillo SJ: "Para Deus somente existe o género humano"
No número 107 dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola (1491-1556) surge a contemplação do mistério da Encarnação. Esta consiste em fazer uma composição de lugar vendo a redondez do mundo «na qual se encontram tantas e tão diversas pessoas... diversidade, tanto em indumentária como em gestos, uns brancos e outros negros, uns em paz e outros em guerra, uns chorando e outros rindo, uns sãos e outros doentes, uns nascendo e outros morrendo». Nesse cenário tão colorido as três pessoas divinas conversam e tomam a decisão de redimir o género humano. É então que Deus de faz Homem em Jesus Cristo para habitar entre nós e ensinar-nos a conviver.
Na República Dominicana está a falar-se sobre a política de género que se quer implementar no sistema educativo. As igrejas, tanto católica como evangélica, elevam as vozes ao céu e dizem que a política de género é uma ofensa à família tradicional, à religião, aos bons costumes e que somente procura promover a homossexualidade. (Nada mais afastado da resolução, ao que parece não a leram). Enfurece-os de tal forma a política de género, que o presidente da Conferência Episcopal da República Dominicana e bispo de Mao-Montecriste, Diómedes Espinal, lançou duras críticas contra o ministro da educação devido ao tema do género e por este se opor à leitura obrigatória da Bíblia nas escolas.
Os responsáveis religiosos, bispos, sacerdotes, pastores evangélicos, etc., instigaram os seus fiéis a copiar a triste campanha que nasceu no Perú em 2016, «não te metas com os meus filhos», como forma de se oporem à política de género que pretende educar para o respeito e a convivência humana num país tão machista e mal educado como o nosso.
É vergonhoso que a hierarquia das igrejas católica e evangélica seja tão energética sobre este assunto enquanto a sua atuação é deliberadamente condescendente no momento de falar dos grandes males que afetam o nosso país e a nossa democracia que sangra qual veia aberta.
Atrever-me-ia a sugerir a quem se opõe à política de género e à liberdade religiosa, que se verdadeiramente se consideram cristãos deveriam saber que para Deus somente existe o género humano e que tudo aquilo que se oponha ao respeito e à liberdade de cada pessoa se opõe ao amor e em consequência disso é produto do ódio. Se as igrejas exigem respeito devem começar a respeitar o próximo, seja ele do coletivo LGBTI, agnóstico ou ateu. Respeitar significa, pelo menos, reconhecer que o outro existe e tem direito de ser reconhecido e de ser diferente.
As pessoas que se definem como cristãs e que utilizam a Bíblia para manipular as consciências débeis e justificar os seus ódios e a sua homofobia, deveriam conhecer melhor os ensinamentos do Senhor Jesus que assegurou que «os publicanos e as prostitutas chegarão primeiro ao Reino de Deus» do que muitos hipócritas que se consideram livres de pecados.
Claro que com isto não quero dizer que a homossexualidade seja pecado.
A única definição que existe de Deus no Novo Testamento é que é amor (1 João 4, 8) e o amor não exclui ninguém nem devido à sua preferência sexual nem pelas suas crenças. Um amor que faz a redenção do género humano em toda a sua diversidade. Todos e todas entramos neste género e necessitamos ser redimidos.
As pessoas são mais do que sexo, não vejamos somente as siglas LGBTI, vejamos seres humanos, não poucas vezes pecadores, pessoas. Se te aproximas e o vês com olhos de ver, verás que é um ser humano à imagem e semelhança de Deus. Não esqueçamos que Jesus somente foi duro com os fariseus que se consideravam perfeitos, mas que por dentro estavam cheios de imundice.
Fonte: Religión Digital