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Associação RUMOS NOVOS - Católicas e Católicos LGBTQ (Portugal)

Somos católic@s LGBTQ que sentiram a necessidade de juntos fazerem comunhão, partilhando o trabalho e as reflexões das Sagradas Escrituras, caminhando em comunidade à descoberta de Deus revelado a tod@s por Jesus Cristo.

16 de Julho, 2018

Quando é que o sexo é pecado?

Rumos Novos - Católic@s LGBTQIA+ em Ação

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Discute-se muito, entre as pessoas católicas LGBT, sobre o momento certo para a prática do sexo. Com a conquista do direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, a questão continua a causar muitas dúvidas, principalmente entre os católicos LGBT que não querem ferir os princípios bíblicos para o sexo. O foco deste artigo não é o de analisar o momento do sexo num contexto homoafetivo ou heteroafetivo, mas a sua prática de uma forma geral.

 

Falando biblicamente, o sexo é pecado quando o outro é visto simplesmente como um meio pelo qual saciamos a nossa libido (ou mesmo os instintos de violência e humilhação), ou quando nos apresentamos da mesma forma: dispostos a fazer sexo apenas por prazer e como ato desprovido de laços e sentimentos. O sexo é pecado quando os envolvidos se tornam objetos descartáveis, úteis somente durante o uso. Em resumo: o sexo é pecado quando usamos diferentes corpos e nos deixamos usar.

 

A maioria dos católicos acredita que apenas no casamento (isto é, sacramento do matrimónio) o sexo é aprovado e abençoado por Deus. Entretanto, o casamento não é garantia de que o sexo esteja isento de pecado. Baseados numa leitura superficial de 1 Coríntios 7,3, há homens que, por meio do poder físico e verbal (o discurso também é uma forma de poder e opressão) fazem de suas companheiras verdadeiros objetos, revelando ausência de amor, não a presença dele.

 

Vejamos o que nos diz o apóstolo:

“O marido cumpra o dever conjugal para com a sua esposa, e a esposa faça o mesmo para com o seu marido.”

 

Percebamos que Paulo iguala os géneros, ressaltando que os deveres conjugais pertencem a ambos. Tais deveres, entretanto, devem ser analisados sob um contexto maior: o amor entre os cônjuges, descrito pelo mesmo apóstolo em Efésios 5,25.28:

“Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela [...] Assim devem também os maridos amar as suas mulheres, como o seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo.”

 

À luz deste texto, fica claro que o sexo deve ser encarado como um bem íntimo do casal, a ser desfrutado sob a égide do amor e do respeito pelo cônjuge e pelo seu corpo. O corpo do nosso cônjuge é a extensão do nosso corpo, quem ama o seu cônjuge ama a si mesmo! É um princípio bíblico simples, mas, ao mesmo tempo, belo e profundo!

 

Na época bíblica, a cultura atribuía ao sexo o marco inicial do casamento. O homem que praticasse sexo com uma virgem era obrigado a casar-se com ela (Êxodo 22,16). O poder espiritual do sexo é capaz de transformar duas pessoas numa, sejam elas casadas ou não, se há compromisso e estabilidade entre elas ou não (comparar com Génesis 2, 24 e com 1 Coríntios 6,16). Aquele que faz sexo com o seu cônjuge torna-se um com ele, da mesma forma que aquele que se prostitui, torna-se um com a outra parte. Por isso, o contexto de estabilidade é o ideal para se desfrutar uma vida sexual segundo os padrões bíblicos.

 

As Escrituras indicam vários tipos de relações sexuais ilícitas e, sem dúvida, todas elas são apresentadas num contexto de uso e descarte dos corpos, nunca relacionadas com relacionamentos estáveis: adultério (sexo fora do casamento – 1 Coríntios 6, 9), fornicação (sexo entre solteiros descompromissados – Hebreus 13, 4), prostituição (sexo por dinheiro ou para obtenção de algum favor – Deuteronómio 23,17.18) e abuso (Génesis 19, 5).

 

O pecado sexual (como todo o pecado) tem origem na concupiscência (desejos humanos) do coração e é desprovido de amor. A sua natureza é puramente carnal e incapaz de produzir algum efeito que não seja a degradação moral e espiritual (Tiago 1, 14.15). Nos relacionamentos estáveis (em que há compromisso, aliança entre as partes – juridicamente casadas ou não) o sexo não pode ser visto como pecado, pois não configura nenhuma das transgressões sexuais apresentadas nas Escrituras.

 

O casamento na nossa sociedade é bem diferente daquele existente na cultura judaica apresentada na Bíblia. Normalmente, entre os casais homoafetivos, casar equivale a dividir o mesmo teto, porém, isso não significa que o sexo deva estar ausente no período de namoro. É uma escolha que cabe ao casal. A maioria dos casais homoafetivos encara o namoro como uma modalidade de relacionamento estável e desfruta normalmente de uma vida sexual. Entretanto, quando pessoas LGBT praticam sexo sem compromisso, cometem porneia, ou, especificamente, a fornicação.

Esperar o momento certo para desfrutar a intimidade é o melhor caminho. O sexo deve ser fruto não apenas de desejo, mas de sentimento, compromisso e estabilidade. O sexo deve nascer, solidificar-se e amadurecer com os demais aspetos do relacionamento. (O Prémio do Amor, p. 145).

 

Resumindo: o sexo por prazer e sem compromisso é pecado, o sexo com amor e compromisso é bênção. Entretanto, o casamento entre pessoas do mesmo sexo é uma conquista que não pode ser ignorada. Os casais homoafetivos que hoje vivem um relacionamento estável devem trabalhar juntos a fim de desfrutar esse direito tão esperado!

 

Texto original: Alexandre Feitosa

Adaptação: José Leote