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Associação RUMOS NOVOS - Católicas e Católicos LGBTQ (Portugal)

Somos católic@s LGBTQ que sentiram a necessidade de juntos fazerem comunhão, partilhando o trabalho e as reflexões das Sagradas Escrituras, caminhando em comunidade à descoberta de Deus revelado a tod@s por Jesus Cristo.

16 de Agosto, 2019

Ser homossexual numa comunidade pequena: sexualidade sem referentes num ambiente particularmente heteronormativo

Rumos Novos - Católic@s LGBTQIA+ em Ação

Fotografia: Agência EFE

 

Por cada dez casamentos heterossexuais que se celebraram em 2016 em Espanha, pouco mais de 0,25 foram entre pessoas do mesmo sexo, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE). Na Cantábria, este número atinge valores ainda mais baixos e são somente 0,16 os casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Extrapolando para percentagens, a Espanha está quase um ponto acima da Cantábria e, longe de ser um facto casual, partilha parâmetros com os anos anteriores, pelo que, ainda que algumas comunidades aumentem a percentagem global, outras como Cantábria diminuem-na.

No cerne da questão dos casamentos, surge o tema da visibilidade. «Enquanto que Cantábria está acima de outras comunidades como Castela e Leão, também está abaixo de outras e estes dados são disso exemplo», cometam elementos da Associação de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexuais de Cantábria (ALEGA)

 

A presidente da associação, Kiara Brambilla, considera que, ainda que seja «evidente» que a instituição do casamento está a perder importância, «que esta visibilidade seja tão baixa na Cantábria, sem dúvida que afeta na hora de se casar», assinala.

 

Outra das presentes considera que o dado «não é casual». «Todos os meus amigos homossexuais e eu mesma estamos com alguém dentro do armário. Talvez estes dados surjam porque as pessoas não se casam aqui e preferem escolher outro lugar para se sentirem mais livre», indica.

 

Dentro da comunidade autónoma existem diferenças entre viver nas cidades e viver nas aldeias. «Eu sou de Santoña e aí não saí do armário porque toda a gente me conhece e isso implica que toda a gente te vai julgar e o mesmo que acontece comigo, acontece a muitos dos meus amigos», comenta um dos elementos da ALEGA.

 

Essa mesma rapariga admite que já deu o passo em relação à família, ainda que também tenha tido alguns contratempos. «Recordo-me de um dia o meu irmão me ter chamado de lésbica e eu fiquei super ofendida. Para mim, chamarem-me lésbica era um insulto».

 

Os referentes também desempenham um papel importante, já que, assim como nas cidades é mais fácil encontrar exemplos quer no ambiente mais próximo quer na rua, numa comunidade pequena isso é mais complicado. «Não ter exemplos próximos faz-te seres a tua única referência. No meu caso, somente me conhecia a mim como lésbica e assim foi até aos 18 anos», argumenta outra das participantes.

 

Foto: Agência EFE

 

Com o passar dos anos, esses exemplos começaram a aparecer na televisão e deixámos de nos sentir como «os únicos gays, bi, trans e lésbicas do mundo». «Recordo-me de Xena, a princesa guerreira e das lésbicas de Hospital Central», diz uma das raparigas presentes.

 

Apesar disso e da «normalização» que se foi sucedendo à medida que os anos passavam, alguns deles confessam que nalgum momento chegaram a desejar ser heterossexuais «porque a vida é mais fácil», defendem. «O problema é que não podes escolher, mas a heteronormatividade é tão poderosa que, às vezes, faz com que nem te questiones. Eu era super-hetero, ia casar com um homem, ia ter filhos... E se não me chego a apaixonar por uma colega de colégio, provavelmente agora mesmo seria heterossexual», afirmam a partir da ALEGA.

 

Outra das raparigas admite que também pensou em como seria ser «hétero», «mas não mais do que uns minutos». «Estou orgulhosa de ser lésbica e daquilo que construi graças a isso, mas tive momentos em que me sentia mal devido à minha condição sexual e foi assim que pensei que se tivesse nascido heterossexual teria podido evitar estes desgostos», defende a jovem.

 

«Se tivesse podido escolher a minha sexualidade, não teria escolhido ser lésbica», sublinha uma das presentes. Pouco depois retifica «Na realidade, a solução não está em ser heterossexual, mas em que deixe de haver homofobia», conclui.

 

Parece indubitável que essa pressão e esse medo de não encaixar aumenta enormemente à medida que os habitantes da tua aldeia ou cidade diminuem, ainda que, de acordo com outro participante, «também não é algo que se possa generalizar». «Não é o mesmo ser gay em San Roque de Riomiera ou em Santander, estou de acordo. Contudo, tudo depende da experiência pessoal de cada um».

 

Outra das raparigas reitera a afirmação do seu companheiro, ainda que insista que dentro da generalização, os lugares com menos habitantes «acrescentam» essa falta de normalização no que se refere à homossexualidade. «Estás habituado a conhecer a lésbica ou o gay da aldeia e tu não queres ser como eles. Não porque não queiras ser homossexual, porque o és, mas porque queres ser tu, sem que o teu nome surja sempre acompanhado pela palavra «lésbica» atrás».

 

O futuro e a aceitação

Pese embora essa falta de visibilidade à qual aludem constantemente, muitos dos presentes na reunião reconhecem conhecer pessoas com vida dupla por não quererem mostrar a sua condição sexual. «Ainda que a mim me gostasse que se mostrassem como são porque isso contribuiria para a visibilidade, não podemos exigir a alguém que faça algo que não quer fazer. É um caminho complicado e não podemos cair em obrigar alguém a fazê-lo. Por muito que isso nos doa», assinala a presidente.

 

A partir do ponto de vista da bissexualidade, tal como relatam, é mais «simples» já que têm «mais facilidade» para encaixar na sociedade. «Se uma pessoa é bi pode escolher o caminho normativo, enquanto que uma pessoa não deseja ser hétero porque o pode ser», argumentam. Pelo lado contrário, a parte negativa é o «grande estigma» como qual têm de se confrontar. «As pessoas reagem muito mal à bissexualidade e dizem que gostas de tudo, que dás tudo... E não. Tal como acontece contigo, a mim também não me agrada tudo», afirmam.

 

No que tod@s parecem estar de acordo é que este fosso geográfico é cada vez menor. «Se compararmos o ser gay há 20 anos em Madrid e sê-lo na Cantábria, a diferença era enorme. Agora ainda o é, mas cada vez menor», diz um dos veteranos do grupo.

 

Finalmente, tod@s dizem que se há uma conclusão a tirar é a de que @s jovens homossexuais de hoje na Cantábria «sofrem menos» do que el@s sofreram. «Agora estamos no Orgulho e vemos pais que compram bandeiras para @s filh@s com uma total normalidade, coisa que antes era impensável».

 

Fonte: eldiario.es